Netflix - O Caderno de Sara (El Cuaderno de Sara) (Sara's Notebook)

5/17/2020 02:20:00 AM |


Antes de mais nada ainda não virei espanhol, nem estou ganhando nada do cinema espanhol para estar divulgando/falando tanto dos filmes do país, apenas o algoritmo da Netflix viu que andei dando gostei em muitos deles, e agora anda me indicando praticamente todos os longas possíveis de ver lá, ao menos tem vindo bons exemplares, e hoje cá estou novamente para elogiar mais uma grande produção espanhola da plataforma, "O Caderno de Sara", que facilmente podemos pensar ser algum longa baseado em fatos reais, ou em cima de algum livro, já que isso dá um tom praticamente ao final, mas não é uma ficção criada, que claro usa dos artifícios reais das guerras civis gigantes que ocorrem há anos no Congo, com milhares de famílias, vilas e tudo mais destruídos pelos guerrilheiros que organizam a venda dos minerais do país. Ou seja, a trama tem muito a cara de um filme real, e toda a essência passada pela guerra, pela descoberta e desenvoltura da equipe de filmagem que vai na trama, e até mesmo por conhecermos um pouco mais da vida dos personagens secundários o longa nos leva essa mensagem forte e intensa, mas tecnicamente a história é da mulher que deseja ver ou descobrir pelo menos se a irmã que foi para lá há alguns anos e nunca mais deu notícia ainda está viva, e a junção dos dois temas funciona e envolve, pois tudo é duro, tudo tem algum significado, e até mesmo os momentos mais soltos são bons, e assim o tempo voa durante a conferida e acaba valendo muito toda a mensagem passada, mesmo que o final seja meio revoltante.

Por anos, Laura procura sua irmã Sara, desaparecida no meio da selva do Congo. Nem a ONG em que trabalha nem a embaixada têm notícias de seu paradeiro, até que uma foto de Sara apareça em uma cidade mineira no leste do país africano. Laura decide viajar para Kampala para iniciar uma jornada perigosa de lá para o coração da África, um território dominado pelos senhores da guerra. Uma aventura que a levará à sala dos fundos mais suja, violenta e escondida das potências ocidentais.

O diretor Norberto López Amado mostrou bastante segurança para seu filme, desenvolvendo os atos com estilo, trabalhando toda a ideia da guerra na mente de uma pessoa, e claro junto disso mostrar para os europeus como é sofrida a vida na África, como é estar num lugar onde você pode estar feliz agora e na sequência guerrilheiros vir e acabar com tudo, isso se não lhe sequestrarem e levarem você como escravo, ou seja, ele pegou uma história forte escrita por Jorge Guerricaechevarría, e tentou trabalhar ela de um modo singelo que não explodisse tudo de uma vez só na cara do espectador, e assim sendo seu filme tem boas doses, tem sincronismo, mas principalmente tem vivência, e soube segurar essa força do começo ao fim, sem precisar trabalhar grandes ousadias, e nem exagerar em emoções, fazendo com que tudo soasse direto e que o público entrasse na onda tanto na pele da branca quanto do negro, e felizmente o filme consegue passar essa mensagem, e agradar bastante, mostrando que o diretor acertou em tudo.

Quanto das atuações, Belén Rueda é uma atriz imponente, e praticamente todos os seus filmes são daqueles que ficamos conectados à suas personagens, e aqui sua Laura tem personalidade, demonstra o tempo todo sua obsessão por querer ver a irmã, mas também mostra que é uma mulher frágil, que não suporta dores, e tudo mais, então cada ato seu acaba sendo um misto de emoções que a atriz fez bem em tudo, agradando bastante, e sempre dominando os diversos tipos de trejeitos para que convencesse e fosse intrigante. O jovem Iván Mendes fez sua estreia em longas com seu Jamir, e a segurança do garoto foi impecável, segurando a dramaticidade, falando em diversas línguas, e dominando os atos praticamente só com olhares fortes, ou seja, teve as cenas mais fortes para si, e não deixou cair nada ao redor, agradando demais em tudo. Já Manolo Cardona por sorte apareceu pouco, pois seu Sergio é fraco de estilo e soa falso em todos os momentos, não sendo daqueles que conseguimos torcer por nada, ou seja, fez seu papel de "trambiqueiro de guerra", mas mesmo assim faltou algo a mais para ele nas cenas do miolo pelo menos, pois no começo até se impôs bem. Marian Álvarez fez uma Sara meio sem sal, daquelas personagens que esperamos tanto por ela no filme todo, e vai com olhares fracos, com estilos sem muita direção que acaba desapontando mais do que envolvendo, porém sua história e seu mote é bom, então a atriz conseguiu ainda chamar um pouco da atenção. Quanto aos demais, tivemos muitos personagens que só apareceram rapidamente, e até marcaram, mas valer mesmo o destaque fica apenas para Djédjé Apali com seu Battiste cheio de domínio cênico, e Nick Devlin com seu Sven bom moço, mas nada que chame tanta atenção.

O conceito visual do longa foi bem intenso, com passagens por diversas cidades e vilas africanas, mostrando bem a realidade por ali, a intensidade do povo, e claro a selva que quando não dominada por guerrilheiros, tem os animais hostis e imponentes, ou seja, a sobrevivência ali é algo para poucos que sabem bem, além disso mostraram bem a vida nas minas, com os escravos, com os comerciantes, e claro todo o terror em cima de armas, e vidas que acreditam em rituais e tudo mais. Além de mostrar bem os preconceitos/regras da ONU e tudo mais com relação aos jovens que se submetem à guerrilha. Ou seja, é daqueles filmes que a equipe de arte teve de pesquisar bastante para criar tudo, e fez um trabalho cheio de detalhes e símbolos bem fortes de ver, o que mostra um resultado interessante e bem feito.

Enfim, é um filme falado em cinco línguas, cheio de detalhes, cheio de tensão, e que envolve bastante. Claro que tem muitos defeitos, principalmente na falha de definição de quem seguir, se a guerra em si, ou a história das irmãs, pois o elo delas só é vinculado através das memórias e do pai doente, pois de resto acaba sendo algo quase que de enfeite para ter um fechamento bonito, então talvez algo mais imponente em cima da guerra teria sido melhor, porém, isso não atrapalha o belo resultado da trama, pois ainda assim tudo acaba envolvendo bem e funcionando da melhor forma possível, e assim sendo, vale muito a conferida. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, e prometo que amanhã tentarei ver um filme sem ser espanhol, então abraços e até logo mais.

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