Olha, ando me surpreendendo muito com o cinema espanhol dos últimos anos pelo que anda surgindo e pelo que já tem na plataforma da Netflix, pois conseguem surpreender tanto com histórias densas e fortes, quanto com longas cômicos bem pensados, ou seja, de uma ponta até a outra indo bem, e dessa vez a sugestão que me apareceu foi "O Fotógrafo de Mauthausen", que já tinha colocado na minha lista faz um bom tempo, e hoje fui levado para dentro de um campo de concentração diferente do que havíamos visto nos livros e em outros filmes, pois aqui mostraram como foram feitas as maiorias das fotos dos campos, as manipulações cênicas para belas fotos, e tudo mais que os espanhóis viveram nos campos desde o começo, e com uma pegada bem forte, atuações imponentes e toda uma dinâmica bem coesa, a trama consegue prender do começo ao fim, envolvendo e nos deixando revoltados cada vez mais com tudo o que ocorreu. Ou seja, é um filme com um primor técnico incrível, cheio de história presente, e claro, mostrando bem o estilo espanhol de cinema, só poderiam ter economizado em algumas cenas alongadas e desnecessárias demais, pois tudo tinha seus motivos, mas mostrar todos os personagens em fila passando por um morto foi exagerar no tempo de corte.
O longa nos conta que com a ajuda de um grupo de prisioneiros espanhóis que lideram a organização clandestina do campo de concentração de Mauthausen, Francesc Boix, um prisioneiro que trabalha no laboratório fotográfico do campo, arrisca sua vida planejando a evasão de alguns negativos que vão demonstrar ao mundo as atrocidades cometidas pelos nazistas no inferno do campo de concentração austríaco. Ao juntar milhares de negativos que mostram de dentro toda a crueldade de um sistema perverso, as fotografias que Boix e seus companheiros conseguiram salvar foram decisivas na condenação de altos oficiais nazistas nos julgamentos de Nuremberg em 1946. Boix foi o único espanhol que assistiu como testemunha.
A diretora Mar Taragona não só mostrou estilo, como colocou em seu filme uma impressão nítida que poucos diretores conseguem criar: a de segurar a tensão com amplitudes cômicas e dramáticas em um filme com tema bem sério, e quando falo isso não digo que o filme vá conter piadas para rirmos das situações, mas sim de vermos personagens que mesmo vendo coisas horríveis conseguiam pensar em dinâmicas boas e gostosas para tentar se entreter no meio da morte, que tinham carisma suficiente para fazer suas ideias mirabolantes para tentar provar que não eram malucos, e por aí vai, e com isso a diretora conseguiu segurar seu filme, não forçando nada para que ficasse um longa sangrento, mas que ainda assim mostrasse o sofrimento, mostrasse os personagens sendo torturados e mortos das piores formas possíveis, mostrou as ideias malucas dos nazistas tanto nos campos como junto de suas famílias, e claro mostrou que existiam aqueles alemães que tentavam salvar um pouco as pessoas dali com dignidade. Ou seja, é um filme simples de formatação, mas que a diretora soube torná-lo complexo e envolvente, ao ponto de agradar, emocionar e ser precisa em tudo o que desejava mostrar, de forma que as tiveram grandes indicações nas duas grandes premiações espanholas, e levaram ainda alguns prêmios, pois técnica e história o filme teve com muito primor.
Quanto das atuações, já estamos ficando bem acostumados com a cara de Mario Casas, pois está em quase todas as produções espanholas que entram na plataforma, e ele é bom no que faz, de forma que aqui seu Boix é preciso em olhares, trejeitos, e incorpora uma facilidade de dinâmica que poucos atores conseguem ter, ou seja, agrada bastante no que faz do começo ao fim, sabendo envolver, emocionar e chamar atenção falando tanto em espanhol quanto em alemão com um sotaque arrastado, o que deu um charme a mais para sua atuação. Richard van Weiden trabalhou seu Ricken com muito estilo, dominando tanto o ar irônico que os alemães tinham, quanto a pose clássica dos fotógrafos em si, pensando sempre mais na obra e no cenário do que no que estava ocorrendo realmente, e assim mesmo não matando ninguém, ainda levou muita culpa pelo que fez, e assim o ator foi preciso e certeiro. Eduard Buch trabalhou seu Fonseca de uma forma singela e com muito medo de tudo o que estava fazendo, mas acabamos nos familiarizando tanto com ele, que isso acaba agradando bastante de ver. Alain Hernández trabalhou bem seu Valbuena colocando atos mais fortes e claros, conseguindo chamar atenção tanto que mesmo com um personagem bem secundário acaba sendo importante. Stefan Weinert já foi daqueles que pegamos ódio com seu Franz Ziereis, pela força que age, pelo que faz/ensina com o filho, e tudo mais, ou seja forte, intenso e preciso.
No conceito visual é bem interessante vermos a vida no campo de concentração, as formas "possíveis" de morte, os que não eram alemães mas se achavam no direito de fazer igual, os figurinos com furos representando reaproveitamento da roupa dos mortos, os esconderijos e vendas de objetos usados dos mortos, e tudo mais, mostrando que a equipe de arte foi bem minuciosa de detalhes, criando cada ambiente, cada situação com precisão e clareza, que juntamente com uma fotografia acinzentada deram um tom marcante para remeter à época, e ainda claro dar o tom correto das fotografias reais mostradas ao final da trama, ou seja, algo muito simbólico e preciso.
Enfim, é daqueles filmes baseados em fatos reais que ficamos inconformados com tudo, emocionados ao ver a dureza e a realidade de tudo, e que faz valer o tempo assistindo, envolvendo do começo ao fim com uma boa dinâmica e cenas bem acertadas, só falhando mesmo em alguns atos que quiseram segurar demais na tela, com todos os personagens passando para serem apresentados, ou em situações forçadas demais que saiam da realidade possível, mas são atos que dá para relevar e não estragaram em nada tudo de bom que o filme tem, sendo assim fica a recomendação. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.
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