Se tem um país que os filmes dificilmente são comuns é a Coréia do Sul, pois sempre entregam filmes com ideologias tão diferentes, claro que culturais também, mas que se você vai esperando uma coisa, certamente será surpreendido por outra completamente oposta, e não foi diferente com o longa da Netflix, "O Mistério das Garotas Perdidas", que pela sinopse parecia ser um suspense, com uma pegada macabra de seitas, que envolveria tudo de uma forma bem maluca, mas que acabaram indo por um vértice tão estranho que ao misturar diversas religiões, mitologias e demônios numa missão policial, o resultado chega a causar sensações bem bizarras. Claro que se você pensar nesse conceito todo, certamente irá pensar num filme tenso, com grandes reviravoltas e tudo mais, porém aí é que entra o maior defeito da trama: a falta de ritmo, e nisso eles também são campeões, pois geralmente os filmes coreanos tem uma toada rítmica quase parada, daquelas que vamos cansando com tudo, e beiramos até dormir nas cenas mais impactantes, ou seja, não é um filme ruim, mas não causa tanta tensão, e ainda é muito devagar, e dessa forma certamente os amantes de um terror/suspense mais pegado irá desanimar até o final.
A trama nos conta que numa vila rural nasceram duas garotas gêmeas, porém uma delas nasceu com uma perna ruim, enquanto a outra nasceu com uma deformidade grotesca que ninguém esperava que ela vivesse mais do que alguns dias. Elas agora têm 16 anos. Enquanto isso, Pastor Park é chefe de um centro de investigação religiosa que expõe cultos e líderes de cultos. Enquanto estuda uma nova religião suspeita chamada 'Deer Mount', ele lentamente descobre pistas que conectam esse culto a uma série de casos misteriosos de adolescentes desaparecidas quando um corpo é encontrado dentro de um túnel danificado. Ele começa a descobrir segredos sombrios que cercam esse culto e seu executor Na-han.
O estilo escuro, cheio de nuances bem colocadas mostrou bem a técnica do diretor e roteirista Jae-hyun Jang, mas como o cinema sul-coreano é daqueles que só víamos antes por festivais, não posso dizer que seus filmes são todos dessa forma, porém é nato que segue a linha do país de um ritmo mais lento, visto os outros que já conferi, e aqui ele não deixou nada preso de elementos e foi revelando bem cada ato, cada história dos crimes, para que fôssemos descobrindo junto com o protagonista cada elo, aliás chega determinado momento que até pensamos o motivo dele não ir direto ao ponto, mas como bem sabemos, no cinema nada vai direto ao ponto, senão não teríamos a história toda. Porém o longa tem ainda uma carta na manga, que ainda consegue uma inversão ao final, e isso foi algo bacana de ver, pois tudo se vertia para um lado, e o resultado foi outro. Ou seja, se a história tivesse um ritmo americano acelerado, ou até mesmo um europeu mais tenso e dinâmico, certamente seria daqueles filmes que ficaríamos vidrados na trama, e ao final surpresos com tudo, mas como temos algo muito lento, confesso que raspou de meus olhos fecharem em alguns momentos.
Sobre as atuações, chega a ser interessante ver inicialmente o desespero do protagonista Jung-jae Lee com seu Pastor Park para conseguir desmascarar religiões e cultos secretos, claro com uma ambição monetária, mas num segundo momento ele passa a ser um investigador maior do caso, e seus atos malucos acabam funcionando bem junto com os trejeitos feitos, claro que nada que iremos lembrar eternamente dele, mas ao menos não desaponta. E falando em desapontar, Jung-min Park entregou um Na-han mais estranho do que misterioso, de forma que ele deveria ser o antagonista funcional, e seus atos acabam se perdendo, ou ficando escondido atrás de trejeitos fracos, ou seja, poderia ter ido muito além. A jovem Jae-in Lee até tentou se mostrar um pouco com sua Geum-hwa, mas com olhares voando quase sempre seus atos pareciam desconectados de tudo, mas pelo menos não se ocultou, e isso é bom de ver. Quanto aos demais, a maioria apareceu e teve alguma importância para o momento, mas sem grandes destaques, inclusive para o ator que ao final passa a ser personagem importante, ou seja, todos fizeram bem o básico de trejeitos para seus momentos.
Visualmente o longa trabalhou bem algo sujo demais para a personagem demoníaca trancafiada, com vários cães ao redor, quase um cativeiro realmente, e seus atos com bichos que a galera não curte muito como ratos e cobras, de forma que ali a situação fica bem tensa principalmente na cena com os pássaros, que foi bem interessante de ver. Na cidade, os cultos e conversas foram bem recheadas de detalhes, mostrando diversos personagens das religiões, vários ambientes fechados e montados em disposição clara e direta para o público tentar montar o quebra-cabeça da trama. E mais ao final entramos num clima de inverno bem forte com neve, aparelhos tecnológicos de hospitais, e até um elefante meio que sem nexo foi colocado na trama, ou seja, a equipe de arte precisou de três vértices completamente diferentes, sofreu muito, e o resultado ao menos nesse quesito funcionou, só que confundiu tudo bem mais do que ajudou.
Enfim, é um filme com uma história tensa, forte e bem trabalhada, porém faltou colocar ritmo para que as dinâmicas acontecessem e causassem mais no público, pois chega a ser difícil entender aonde desejavam chegar com tudo andando numa velocidade quase parada, e assim, quando o filme realmente pega fogo já acaba a trama. Ou seja, não recomendo ele, mesmo sendo uma trama interessante de suspense, que talvez nas mãos de um diretor mais forte resultasse em algo melhor, porém friso que não é um filme ruim. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.
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