Looke - Branca Como a Neve (Blanche Comme Neige) (Pure As Snow)

6/19/2020 02:05:00 AM |


Já vimos tantas versões do conto da Branca de Neve que é até difícil imaginar como alguém pode nos surpreender com uma história embasada nele, e por incrível que pareça, uma diretora que já estamos acostumados a ver sempre no Festival Varilux, trouxe algo que chega perto da versão erótica presente em sites de adultos, porém com uma pegada dramática em cima disso, ou seja, um filme sem nenhum tabu, com uma irreverência forte em cima do sexo, e que ousa com muitos vértices. Claro que não é um longa pornográfico como anda surgindo no streaming nos últimos dias, mas é um filme que tem uma pegada bem imponente e que usa a ideologia da beleza e da pureza para tentar criar uma rixa entre madrasta e enteada. Ou seja, é um filme digamos interessante, que até tem nuances comerciais fortes, que funcionam, e mostra bem a dinâmica de todos os protagonistas sendo funcionais para o longa, pois pode até parecer que são muitos, mas cada um da sua forma consegue passar algo para as protagonistas. 

O longa nos conta que Claire é uma bela jovem que trabalha no hotel de seu falecido pai. O local agora é administrado por sua madrasta má, Maud. Claire inconscientemente desperta ciúme incontrolável em Maud, cujo, jovem amante se apaixonou pela bela enteada. A madrasta decide então se livrar de Claire, que consegue fugir com a ajuda de um misterioso homem e encontra abrigo na fazenda dele. Sem ter para onde ir, a jovem decide ficar no vilarejo e sua beleza causa bastante agitação entre os rapazes locais. Em pouco tempo, Claire tem sete homens aos seus pés. Esse é o começo de uma jornada de descoberta e libertação.

A diretora Anne Fontaine é daquelas que já conhecemos bem o estilo, pois quase todos os anos o Festival Varilux traz uma obra sua para conferirmos, e nesse ano que estamos sem ele fisicamente, na versão em casa temos além de várias obras suas que já vimos, essa novidade por lá, que estreou comercialmente em Setembro do ano passado, mas que não chegou até o interior, e é fácil entender o motivo, pois sua obra é intrigante, tem toda uma história bem embasada no conto, porém ela é mais picante, e talvez colocada nas salas comerciais, acabaria levando um público errado para as salas, afinal o filme não tem insegurança nenhuma no que deseja passar, de uma jovem que era retraída e fechada no hotel da família, sem conhecer nada da vida, e quando quase morre, se joga completamente na libertinagem com sua beleza e os ares das montanhas atraindo todos os jovens do vilarejo aos seus pés em cenas bem quentes, ou seja, a diretora não economizou em cenas tórridas, com algumas até engraçadas como a do carro com esquilos, e a cada momento vamos vendo mais seu ar de encantamento, e claro que com a madrasta vendo tudo aquilo para a jovem e nada para ela, acontece as tradicionais cenas de tentativa de vingança. Ou seja, é um filme bem formatado, que tem seus momentos marcados, que soube entregar o que propôs, mas que muitos não vão curtir, outros vão dizer que é apenas sexo (em muitos momentos também achei que ela fosse dar até para o cachorro do longa), mas que funciona, e isso é o que importa, sendo uma versão completamente diferente do conto que tanto conhecemos, e que a diretora acertou em muitos pontos, e errou em alguns exageros, mas nada que comprometa a trama.

Sobre as atuações, posso dizer facilmente que Lou de Laâge tem seu charme, e conseguiu trabalhar bem os ares de sua Claire, de modo que pode até faltar um pouco de carisma para a jovem, mas ela entregou bem um modo sedutor, conseguiu convencer dos seus atos, e principalmente não teve pudores para as cenas mais fortes, se colocando sempre em primeiro plano e até segurando algumas cenas que precisaram de um diálogo a mais, ou seja, não foi algo brilhante de ver, mas foi bem no que fez. Como sempre Isabelle Huppert rouba as cenas que está presente, tanto que aqui seguraram bem suas cenas para atos mais deslocados, pois facilmente apagaria a protagonista, e sua Maud tem estilo, tem vivência, e tem o principal do conto, que é ser a segunda mais bela, então a atriz soube conduzir olhares, soube montar toda a trama ao seu redor, e fez momentos marcantes bem diretos e funcionais, ou seja, como sempre acertou tudo. Dos homens da trama é bacana ver Damien Bonnard fazendo gêmeos na trama, e embora um apenas tenha a gagueira que o diferencie da braveza do outro, faltou um pouco para ele trabalhar trejeitos diferentes para que seus Pierre e François soassem melhores, mas ainda assim conseguiu chamar atenção. Vincent Macaigne trouxe a sutileza da música, a paixão pela arte, e até o exagero de doenças para que seu personagem trouxesse outro estilo de orgasmo para a protagonista, e o ator foi bem junto como cachorro Chernobyl, dando bom tom para a trama. Jonathan Cohen trouxe para seu Sam a insegurança nas atitudes, olhares dispersos e convenceu bem no que fez, soando até um pouco bobo demais, mas não falhando nisso. Pablo Pauly colocou seu Clement meio forçado nas lutas e meio que mostrando a quebra da pureza também em suas atitudes, de modo que o jovem foi bem nos atos, mas junto com seu pai vivido pelo sádico Benoît Poelvoorde no papel de Charles soaram forçados demais no conjunto. E para finalizar tivemos até um padre caidinho pela jovem, que mesmo não indo para os atos, demonstrou bons ensejos e foi aonde ao menos saíram mais diálogos na trama, mostrando que Richard Fréchette tem estilo.

Visualmente o longa saiu felizmente de cenas fracas num hotel (ainda bem, pois a garota demorou uma cena inteira para colocar meia dúzia de toalhas!!) para um local incrível, rodeado de montanhas, com um ar místico misturando floresta com vilarejo, que filmado em Isère e Drôme deram um tom maravilhoso para o longa, e mesmo tendo poucos elementos cênicos, no caso alguns instrumentos musicais, algumas maçãs, um santuário bem montado, e claro bem pouca roupa, afinal a jovem quase sempre está sem ela, mas tendo sempre bons contrastes com a pele branca, a vestimenta e o ambiente, para dar as nuances necessárias para que o filme tivesse planos.

Enfim, é um filme que garanto que muitos não vão gostar por achar que é apenas sexo, mas que outros irão captar bem a essência do conto e até irá florear algo a mais na trama. Claro que poderiam ter ido muito além, e talvez até não precisar de tantas cenas de sexo, mas aí seria apenas mais um filme baseado na história, e não algo original diferente do que já vimos, e sendo assim, até é que foi um bom acerto. Digo que recomendo bem o que vi, mas certamente não é a melhor história do mundo, e que muitos não irão se conectar com o que é passado, ou seja, veja e tirem suas conclusões também. Para quem ainda não viu algum filme do Festival Varilux Em Casa, aproveite, pois é 100% de graça até 27/08, então não perca tempo que são 50 filmes para fazer a festa, sendo que a maioria para quem estiver na dúvida de ver ou não tem crítica aqui no site, só dar uma pesquisada aqui do lado, então aproveitem. Eu fico por aqui hoje, então abraços e até logo mais.

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