Tem alguns diretores que gostam de transformar filmes de ficção em quase obras documentais, de forma que as vezes achamos até que alguém pegou uma câmera e foi filmar um protesto, uma reunião, e depois compilou tudo para montar um resultado com um ou outro floreio, e as vezes isso funciona, em outros soa estranho demais ver o exagero da realidade em cima de algo. Digo isso após conferir "Em Guerra", pois o filme até tem uma pegada sentimental, mostra uma força dos sindicalistas brigando para tentar manter o emprego de todos os 1100 funcionários de uma fábrica que será desativada, e mostra também para conhecermos que não é só aqui que temos as brigas até mesmo entre os sindicatos, mas o filme exagera um pouco, ficando tempo demais nas reuniões, nas atividades do grupo e tudo mais, não abrindo mais o vértice, e assim, quem não curtir muito o estilo acabará se cansando da proposta. Não digo que seja ruim, muito pelo contrário, o filme é forte, tem atitude, tem boas atuações, mas é como disse no começo, ficou parecendo um documentário real de alguma greve, não caindo para algo que chamássemos de filme de ficção realmente, e esse ponto de virada que costuma funcionar. Diria que talvez após a cena mais forte do fim do filme, se tudo deslanchasse a partir dali, aí sim o longa teria uma dinâmica maior, mas como ali é apenas o fechamento de tudo, o resultado não me pegou tanto.
O longa nos conta que apesar de grandes sacrifícios financeiros por parte de seus funcionários e lucros recordes no ano, a administração das Indústrias Perrin decide fechar uma de suas fábricas. Os 1.100 funcionários, liderados por seu porta-voz Laurent Amédéo, decidem lutar contra essa decisão brutal, prontos para fazerem de tudo para salvarem seus empregos.
É notável o estilo do diretor Stéphane Brizé em seus filmes, pois geralmente ele entrega algo mais casual, de vivência de personagens, e também costuma apontar sua câmera quase que total em um ou no máximo dois personagens, o que é bem interessante de ver e aqui aconteceu também, porém aqui ele ousou demais no realismo, algo que é bom (não estou reclamando disso!), mas que se feito sem limites como foi o caso, a trama passa a ser vista com outros olhares, como disse no começo, parecendo que estamos numa manifestação real, que se o protagonista não fosse velho conhecido da maioria dos filmes franceses, certamente apostaria todas as fichas que a trama foi filmada em reais reuniões sindicais, e protestos de fechamentos. Ou seja, o trabalho do diretor foi bem feito para entregar uma realidade bem imponente, porém essa atitude só será bem vista por aqueles que vivenciam realmente batalhas sindicais, ou então que goste disso, pois do contrário o filme acaba massante por não ter algo a mais, tirando claro o fechamento, que insisto que o diretor teria de ter feito da reunião com o CEO para frente o filme, mas como o longa não é meu, aceitemos assim.
Sobre as atuações, tenho de falar somente de Vincent Lindon, que praticamente é o único ator da produção já que os demais parecem ser realmente líderes sindicais e pessoas das fábricas, então posso dizer que seu Laurent é imponente, cheio de atitudes, com olhares e diálogos bem marcados, e que funcionam na linha de frente das negociações, mostrando que o ator estudou bastante as diversas greves no país, e o diretor soube orquestrar bem todas as revoltas malucas que vemos na tela, e que realmente acontecem nessas greves, ou seja, um trabalho bem moldado tanto por parte da atuação quanto da direção de elenco, pois mesmo os demais não sendo atores, a condução do conflito, de toda a multidão junta nos protestos, e tudo mais, acabou sendo funcional e bem feito. Quanto dos demais, os executivos fizeram as caras tradicionais de não estarem nem aí para nada, apenas replicando ordens, e os representantes sindicais todos bem revoltados com tudo na melhor forma que já vimos por aí.
Como já disse, o longa parece realmente filmado no meio de protestos, então caso não tenha sido dessa forma, a equipe de arte foi muito bem no que fez, passando toda a sensação de estarmos ali junto com o pessoal, protestando, brigando, apanhando da polícia, e basicamente mostraram mais o povo junto, figurinos próprios, do que locações em si, e isso foi algo bem proposital para a essência funcionar.
Enfim, é um filme forte e interessante de ver, mas que funciona mais para quem vivencia essa situação de greves do que para o restante que for conferir apenas por ser um bom filme, pois acabou ficando algo documental demais, ou seja, não é um longa que muitos irão gostar de ver, mas é bacana a conferida para conhecer um pouco mais da vida desses que muitos apenas acusam de nada fazerem, então fica a dica. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, lembrando que esse também é um dos longas do Festival Varilux Em Casa, então pode ser conferido na plataforma do Looke de graça até 27/08, então aproveite. Abraços e até amanhã com mais textos.
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