Looke - Luta de Classes (La Lutte Des Classes)

6/16/2020 12:23:00 AM |


Sinceramente pela sinopse esperava ver um filme diferente hoje, talvez algo mais cômico, puxado pela ideia de abandono dos amigos, ou então problemas familiares mais contundentes como o pobre garoto não se adequar a escola, porém "Luta de Classes" basicamente entra na enfadonha briga realmente de classes sociais, das diversas culturas que permeiam a França com imigrantes de diversos países, com todo um ambiente para se discutir envolvendo religião, envolvendo teorias familiares, amizades, diferenças entre escolas, e tudo mais. Ou seja, é daqueles filmes que servem bem para discussões, que abre um vértice mais trabalhado para a pedagogia, ou para conflitos familiares do que um filme gostoso realmente de ver, pois ele entra em essências amplas de conflitos parentais, de entendimento dos gostos da criança e tudo mais que gostam de trabalhar. Claro que passa bem longe de ser um filme ruim, pois tem toda uma boa direção de atores, e uma história bem moldada para mostrar todo o conflito do garoto, dos pais, e até da sociedade em si, mas talvez um algo a mais como o que ocorre no final antes, chamaria mais a atenção para tudo.

O longa nos mostra que Sofia e Paul se mudam para uma pequena casa suburbana. Ela, uma brilhante advogada de origem magrebina, cresceu em um apartamento próximo dali. Ele, baterista de punk-rock e anarquista de coração, cultiva uma falta de ambição que chega a ofender! Como todos os pais, eles querem o melhor para seu filho Corentin. O menino estuda na escola primária local, mas quando todos os seus amigos abandonam a escola pública e seguem para a instituição católica São Benedito, Corentin se sente solitário. Como se manter fiel à escola republicana quando o seu filho não quer pôr os pés lá? Com seus valores e ansiedades de pais em conflito, Sofia e Paul vão ter sua família testada por uma verdadeira "luta de classes".

Diria que a ideia do diretor e roteirista Michel Leclerc era ir com algo a mais realmente, promovendo maiores discussões dos valores familiares atuais, dos conceitos que as escolas precisam demandar para atender a todos, do desleixo que andam alguns prédios abandonados, e tudo mais, e digo mais funciona não só na França, como em muitos outros países, afinal o Brasil não tem tantos estrangeiros em escolas infantis, mas com a vastidão cultural de um país imenso, temos de todos os tipos e conceitos possíveis, ou seja, dá para analisar bem por aqui. Porém volto a frisar algo que bato muito na tecla, até onde um longa de discussão serve como entretenimento, e vice-versa, pois aqui toda a ideia é muito funcional para debates, tem toda uma pegada bem feita para isso, porém se fosse lançado num cinema comercialmente seria visto? Provavelmente não! Pois ele em momento algum cativa o público, nem tem algo que impacte, ou melhor, tem no ato de encerramento, que se ocorre antes abriria muito mais vértices para a trama, teria mais discussões, e até algum motivo a mais para a conexão familiar, mas são opções de montagem, e até de história, e aqui ele falhou nesse conceito (como filme para um público maior), mas se você está estudando pedagogia, ou é professora/diretora de uma escola e quer algo para discutir com pais, pode conferir e analisar tranquilamente, que vai ser um ótimo material.

Sobre as atuações, Edouard Baer entregou para seu Paul um rebelde sem causa, anarquista total, mas que se preocupa com o filho, querendo que ele tenha uma boa vida, sem ter conflitos com o que quiser fazer, e o jovem ator fez bem seus atos, teve estilo, mas faltou um algo a mais para convencer de seus ideais, embora seja bacana seus momentos. Leïla Bekhti trabalhou bem sua Sofia, mas tem dúvidas demais de atuação, de modo que a todo momento parecia que não ia engrenar, fazendo olhares vazios e cenas bem colocadas, mas forçando para chamar atenção demais. O garotinho Tom Lévy chega a dar dó, pois tem dinâmicas de criança realmente, mas não atua, só quer brincar e ficar andando de um lado para o outro, e isso faltou muito para que seu Corentim fosse além. Dos demais é melhor nem comentar, pois um mais jogado que o outro, com os diretores gritando para se impôr, a professora desajustada, e os pais sem muita base artística nenhuma, ou seja, é um filme aonde o elenco até aparece, mas não ajuda em nada na trama.

Visualmente o longa foi bem montado com bastante amplitude, mostrando famílias de diversos credos e estilos, uma escola pública caindo os pedaços por estar fazendo uma reforma maluca para segurança contra invasões e ataques, aulas sobre ataques, desfiles culturais, bandas punk tocando para desabrigados que nem entendem a língua, e claro escolas mais requintadas embasadas em religiões, ou seja, o filme tem um design de produção bem trabalhado para mostrar tudo o que o longa tenta discutir, e usam bem essa cenografia nos diversos atos, mas poderiam ter ido bem além.

Enfim, é um filme simples, que até tem uma boa amarração, mas que como disse só serve para discussões e funcionalidades fora do entretenimento, pois quem for esperando um algo a mais em cima da trama certamente sairá bem desapontado com o fechamento. Ou seja, friso que não é algo ruim de ver, que tem uma boa dinâmica e tudo mais, porém não vai além de uma história pedagógica e cultural, que até vale ser conferida, mas sem pretensões, e dessa forma não o recomendo como algo gostoso de ver, mesmo estando gratuito na plataforma do Festival Varilux em Casa no Looke. Bem é isso, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.

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