O maior fato do longa "Normandia Nua" é mostrar como convencer pessoas com uma cultura simples, uma vivência interiorana e anos de mentalidade fechada, de brigas por terras, de estilos mais retraídos a saírem de suas caixinhas e posarem nuas para tentar um bem comum, no caso chamar a atenção do país e do mundo para suas produções de leite e carne que estão cada dia sofrendo mais com impostos e tudo mais, ou seja, esse seria o maior mote que poderia até ser levado até o fim. Porém o diretor quis mexer com mais situações, com a ideia de um romance diferente, com as vidas de pessoas da capital que resolveram fugir de suas vidas, de rivalidade políticas, da invasão de gringos e tudo mais, e acabou se perdendo um pouco com tudo, deixando seu longa apenas bonito visualmente, com um ar campestre, e claro fazendo com que os diversos atores ficassem pelados ao final, e nada além disso. Ou seja, é um filme que não emociona, não tem atitude, nem diverte, que sendo classificado como uma comédia até desaponta pelo contrário, pois se você for esperando rir, não acontecerá, e assim sendo, não digo que seja um filme que não vale ser visto, pois a ideia em si é bacana, mas é daqueles que amanhã já esqueceremos de ter visto ele, ou melhor, só lembraremos dele pelo fato da nudez, o que não é o principal do longa.
O longa nos conta que em Mêle sur Sarthe, uma pequena aldeia da Normandia, os agricultores são gravemente afetados pela crise. Georges Balbuzard, o prefeito da cidade, não aceita a difícil situação e decide tentar de tudo para salvar seu povoado. Por obra do destino, Blake Newman, um grande fotógrafo conceitual, que tem por estilo deixar a multidão sem roupas para suas fotos, está passando pela região. Balbuzard vê nesse encontro a oportunidade de salvar sua aldeia, resta saber se a população estará disposta a ficar nua...
O estilo do diretor Philippe Le Guay é para aqueles que gostam de uma arte mais conceitual, aonde a paisagem, a política, o modo de vida local passa a ser mais relevante do que a própria história em si, e isso não é algo ruim, mas quem não está acostumado com seus filmes geralmente acaba esperando outra coisa (e olha que já é o terceiro dele que vejo, e sempre acabo caindo na ideia de focar na história!). Então uma dica que eu dou para que não se decepcione com o que vai ver, é entrar no ambiente, sentir o momento que os personagens estão vivenciando, e até pensar como alguém bem interiorano que está sofrendo com o seu ganha pão, aliás é algo que anda ocorrendo com muitos na atual crise pandêmica, então até onde você iria para tentar chamar a atenção, o que você faria de diferente para não surtar, e essa acaba sendo a pegada de Le Guay, e assim seu filme acaba tendo até um viés mais chamativo, porém ele ainda poderia ter dado um gancho a mais na história, ter trabalhado com a ideia da crise, e dado seguimento após o fechamento, com o que ocorreu com os personagens, pois ele encerra tudo muito aberto, e isso não é bacana. Ou seja, até enxergamos aonde ele desejava chegar, mas e o pós, esse é o que acaba faltando para muitos diretores, e acabamos esperando mais do que vemos, deixando o filme não ruim, mas fraco de um algo a mais que emocionasse ou divertisse como poderia.
Sobre as atuações, aí é que entramos em um grande problema, pois o filme acabou tendo vértices demais, então se formos focar em todas as histórias e interpretações vamos passar a noite analisando cada um, então vou falar bem pouco dos principais, e para começar é claro que temos de pontuar o prefeito Balbuzard vivido por François Cluzet, que teve trejeitos bem marcados com as ideias de tentar salvar seu município da crise, sendo daqueles que faz tudo desde um casamento até reuniões com todos, enquanto cuida de suas vacas e tenta ter sua vida recuperada após a mulher ter ido embora pela sua falta de atenção, e tudo isso é visto pelo público nas suas atitudes, nos momentos que desenvolve, e mesmo que não fosse falado, veríamos através dos sentimentos que o ator soube passar, ou seja, foi muito bem no que fez. No grupo das brigas, tivemos a principal entre Eugéne e Maurice de Philippe Rebot e Patrick D'Assumçao que trabalharam seus trejeitos de forma simples, porém foram efetivos no que queriam passar. No lado da cidade tivemos o açougueiro vivido por Grégory Gadebois com seu Roger, que casou com a Miss do estado e não quer que ninguém a veja nua, o que é normal, e ele faz bem seus atos imponentes e bem marcados, e até tem sua cena mais forte, mas não vai muito além. No grupo do romance tivemos Arthur Dupont com seu Vincent que faz bem seus atos, e já sabíamos bem logo de cara o que acabaria acontecendo no final, mas não falhou, e junto com Daphné Dumons com sua Charlotte ousada tiveram alguns atos mais envolventes, mas nada muito além. E no lado da família quase que deslocada, tivemos François-Xavier Demaison com seu Thierry sofrendo com suas mudanças, e a filha vivida por Pili Groyne que deseja voltar logo para a capital, mas nada exagerado, porém meio fora do eixo da trama. E ainda tivemos claro os americanos, vividos pelo pequenino Toby Jones com seu Newman e Vincent Regan com seu Bradley, ambos fazendo carões de dúvida em relação a tudo o que viam, afinal como todo artista, precisam chamar a atenção por onde passam e aqui não foi diferente. Quanto aos demais, a maioria fez uma ou outra fala, mas nada chamativo para pontuar.
Visualmente o longa tem uma boa perspectiva, mostrando a tradicional Normandia do campo, com fazendas de gado, preparativos para plantações, e claro uma vila bem simples, com todos se conhecendo, pequenos estabelecimentos, e até um hotel rudimentar com elementos antigos de guerra para lembrar o tempo das bombas, ou seja, uma retratação cênica bem montada, que funciona, mas que não foi usada ao extremo pôr a trama ser simples e sem muitos rumos com a contextualização cênica, mas vemos bem o uso das fotos para o passado, vemos cultura, e tudo mais, ou seja, um trabalho da equipe de arte bem feito.
Enfim, volto a afirmar que não é um filme ruim, é bonito e até tem sua mensagem, mas acabou tendo muitas histórias paralelas ao invés de ir direto ao ponto, e não teve um fechamento além de uma foto, o que acaba sendo uma falha também, mas ainda assim é um longa gostoso de conferir, então fica a dica já que está gratuito no Festival Varilux Em Casa até 27/08. Eu fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.
0 comentários:
Postar um comentário
Obrigado por comentar em meu site... desde já agradeço por ler minhas críticas...