Tenho certeza absoluta que se o drama alemão da Netflix, "Está Tudo Certo", estreasse em algum festival por aqui, diversas pessoas sairiam da sessão emocionados, falando coisas lindas sobre a moça guardar todos os problemas para si, tentar esconder coisas ruins que aconteceu com ela, e tudo mais que sua mente aguentar de forma fechada para si, mas tenho de ser o mais sincero com quem lê o que escrevo aqui, e digo que o filme é chato demais, pois até poderia ter tudo isso que o longa trabalha, mas tivesse uma explosão, tivesse alguma atitude, acontecesse algo, mas não, o filme problematiza o fato dela guardar tudo e viver simplesmente, e isso é algo que praticamente todos fazem (sei que tem muitos que estouram por qualquer coisa, outros que contam até se apertaram uma tecla diferente no teclado, mas a maioria é introspectiva atualmente, eu inclusive me coloco nesse grupo de não contar nada que acontece ou me incomoda, por diversos motivos), ou seja, se nada ocorre, para que mostrar? Claro é uma trama que dá para se discutir em grupos, dá para refletir, dá para problematizar, mas ainda assim como filme continua sendo algo bem chato de conferir, então se você vai ver ele sem ser em um debate ou coisa do tipo, se prepare para a revolta ao final, ou melhor fuja se possível.
A trama nos conta que depois de ter sido abusada sexualmente pelo cunhado de seu chefe, Janne decide não contar a respeito do ocorrido para ninguém e segue a sua vida normalmente. Mas conforme os dias passam, ela percebe que seu silêncio poderá trazer consequências irreversíveis para todos ao seu redor, principalmente a quem ela ama.
Aí você vai vir falar, pô Coelho, a mulher foi abusada, precisamos de mais filmes assim para discutir isso, todo o lance do machismo, do feminismo, do diversos ismos... sim, é necessário demais, mas o diretor precisa pontuar suas opiniões também, não é só mostrar alguém que guarda tudo, e está tudo bem, e essa perspectiva que o diretora Eva Trobisch optou em colocar no seu primeiro filme é quase dizer para o espectador: não vou opinar em nada, apenas quero mostrar que as pessoas guardam para si as coisas, seja para manter um emprego, um relacionamento, uma família. E essa a proposta até é aceitável, não digo que o filme está errado, que ele não passa essa mensagem, ou que subjetiva alguma coisa, mas é um filme que falta tudo para ser chamado de filme, e é isso que estou batendo na tecla, pois já vimos essa situação em pelo menos uns 50 filmes, e a maioria procura uma solução, procura mostrar uma atitude da pessoa, procura mostrar os problemas que a pessoa acaba passando, e aqui mostra apenas uma pessoa que não explode em momento algum, ou melhor, explode na cena final bem boba no trem, que chega a ser absurda de ver, ou então vemos a pessoa feliz por algum tipo de punição para seu agressor, ou vemos algum tipo de vingança, ou vemos a procura por um acalento de um profissional ou familiar, mas não, o filme fica apenas na chatice de mostrar que a mulher guarda tudo só para ela, e isso infelizmente é algo que ocorre muito no mundo todo, e como já disse outras vezes, o casual não é cinema, e não vale a pena ser visto como entretenimento comum, mas somente para discussões, debates, entre outros, e como não foi o meu caso nesse momento, vou continuar com a opinião de que é um filme que não entrega nada, mesmo tendo dinâmica, não sendo lento e tudo mais.
Sobre as atuações, faltou um pouco de atitude também para Aenne Schwarz, que fez de sua Janne uma mulher sem muitas emoções, sem muita dinâmica, e que vive sua vida sem atrapalhar ninguém, ou seja, uma pessoa comum que você pode conhecer na rua, ver normalmente, e que sua vida passa apenas, ou seja, a atriz poderia ter fluído de diversas maneiras para que soasse interessante, que enxergássemos algo nela, mas não, foi na mesma toada da diretora estreante, e o resultado não acrescentou em nada. Já Hans Löw foi bem no que fez com seu Martin, dando personalidade total para homens frouxos abusadores, que se acham o máximo após beber um álcool, e fazem merda para depois sair pedindo desculpa e falando o que pode fazer para ajudar, e o ator soube representar bem esse tipinho, mas como o filme não focou tanto em seus atos pós abuso, somente seu final foi funcional. Andreas Döhler trabalhou seu Piet de maneira abstrata demais, pois se estressa por qualquer coisa, some, volta, faz sexo, some de novo, tranca a porta, briga, e tudo mais, mas não atinge nenhum ápice, e nem entrega qual a sua no filme, ou seja, um ator jogado no meio de um conflito. A mãe da protagonista vivida por Lina Wendel também faz suas cenas de forma simples demais, aparecendo em alguns atos, sumindo em outros, e sendo direta nos pontos, como algumas mães, mas poderia ter ido além. Tilo Nest entrega para seu Roberto uma mistura de chefes exagerados com chefes amigos demais, daqueles que confundem alguns atos e atitudes, mas seu uso foi apenas para isso, e o ator nem chamou atenção, então poderia ser qualquer pessoa ali, que não mudaria em nada. Quanto aos demais, a maioria só aparece para nada, então melhor nem falar nada.
A parte visual do longa é um pouco confusa por jogar coisas meio que diretamente sem muitas explicações, como a casa que estão reformando, depois um apartamento, uma outra casas, um outro local, tudo parece meio que abstrato sem direções ou pretensões, e os elementos cênicos de abandono acabam sendo usados sem muito uso, ou seja, vemos desde atividades corporativas para mostrar vivência de equipe, vemos conversas em locais aleatórios, e tudo abstrato demais para empolgar, ou seja, o filme todo é falho demais de montagem, sendo simples e casual, ou melhor, sem envolvimento.
Enfim, volto a frisar que não é um filme com uma temática ruim, pois abuso é algo que deva ser discutido sempre, e criminalizado mais ainda, porém o filme precisa ter atitude para funcionar como uma ficção, ou então virar um documentário casual para discussões, senão é o mesmo que alguém ligar uma câmera de segurança e ficar olhando para ela sem serventia alguma. Sendo assim, só recomendo ele para grupos de discussões e nada mais, então se você for conferir sem ser dessa forma, é melhor fugir dele. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.
2 comentários:
Deveria ter lido suas críticas, antes de assistir esse filme. É exatamente como vc explicou, péssimo em todos os sentidos, fiquei o tempo todo esperando "A explosão ".
Olá Tuty... venha ler sempre rsss... pois se até eu ando pensando em ler antes de ver umas bombas na Netflix, recomendo que todo mundo leia umas 3 críticas antes de arriscar viu!!! Nesse caso o problema é exatamente esse: cadê a explosão!!! Abraços!!
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Obrigado por comentar em meu site... desde já agradeço por ler minhas críticas...