Netflix - Ninguém Sabe Que Estou Aqui (Nadie Sabe Que Estoy Aquí) (Nobody Knows I'm Here)

6/24/2020 11:07:00 PM |


Hoje existe algo que muito se discute sobre bullying, que não deve fazer isso, que não pode aquilo, e tudo mais, porém geralmente a defesa de um acaba sendo algo pior para o outro, e muitas vezes nem sempre o que ocorre é algo inteligente para ambas as partes. Dito isso, o longa chileno da Netflix, "Ninguém Sabe Que Estou Aqui" é daqueles que nos fazem refletir sobre as atitudes do passado e do presente do protagonista, pois nos é mostrado desde o começo apenas seu sonho destruído, suas virtudes, e claro sua reclusão, que não é entendida em momento algum, e apenas mais próximo do final sabemos um pouco mais da história, e somente na penúltima cena descobrimos tudo o que ocorreu. Ou seja, é uma trama que tem uma intensidade de acordo com a parte que você vê, e conhece, que até é bonita, porém introspectiva demais, de modo que você fica o tempo todo esperando algo a mais acontecer, e não acontece, nem acontecerá, de forma que o final é interessante pela busca da paz de espírito apenas, e não algo que impacte realmente, e assim sendo esse acaba sendo daqueles filmes que você termina de assistir e não sabe se gostou ou não, que talvez refletindo saia algo melhor, mas não acredito muito na reclusão, então prefiro dizer que o longa falhou, e poderia ter ido muito além.

O longa nos conta a história de Memo, que mora em uma fazenda remota de ovinos chilenos, escondendo uma bela voz do mundo exterior. Recluso com um toque cintilante, ele não consegue parar de pensar no passado, mas o que acontecerá quando alguém finalmente ouvir?

O longa de estreia do diretor Gaspar Antillo tem seus méritos, de forma que em algumas cenas chegamos a arrepiar com a emoção passada, porém volto a repetir que o tempo todo ficamos esperando algo a mais da trama, parecendo que o diretor não encontrou uma forma seja na montagem ou na própria história para que seu filme tivesse um peso realmente. Claro que vamos compreender a vontade do protagonista de desejar ficar escondido, vamos entender o bullying que sofreu e que acabaram lhe tirando seu sonho de ser um cantor de sucesso por ser gordo, mas talvez um estouro de personalidade, um momento de reviravolta, ou até mesmo a cena final lá pelos 40 minutos do filme, para que pudesse acontecer algo a mais após, mas não, encerra, e a emoção broxa. Ou seja, diria que o diretor pode até conquistar o olhar de alguns críticos que gostam de filmes abertos, mas faltou muito para empolgar ou causar algo em um público mais comercial, e sendo assim a introspecção vai cansar mais do que envolver a todos.

Sobre as atuações, é fato claríssimo que Jorge Garcia dá um show de expressões do começo ao fim do filme com seu Memo, emprestando inclusive a sua voz para a canção tema do filme, de forma que vemos sensações nos seus trejeitos, vemos dinâmica, e até mesmo nos momentos mais calmos da trama vemos seu estilo predominar ao ponto de não conseguirmos tirar os olhos do protagonista, ou seja, ele foi muito bem, e se não fosse por ele o filme certamente desandaria muito. Luis Gnecco até tenta entregar algo a mais para seu Braulio, porém o personagem é amarrado demais, não indo nem para frente nem para trás, de modo que mesmo seu ato forte no acidente com o barco serve praticamente para nada na trama, e isso é ruim de ver. Millaray Lobos entregou para sua Marta uma sensibilidade até que bonitinha de ver, mostrando carisma, porém não pegou muito como poderia, de forma que seu fechamento é simbólico e bonito de ver, mas nada de impressionante. Quanto aos demais personagens todos acabaram sendo apresentados e usados com tanta rapidez nas cenas finais que quase nem conseguimos distinguir quem é quem, e para que serviriam, ao ponto que chega a ser uma falha da trama, mas é bonitinho ver os garotos com suas personalidades, ver o pai tradicional que só pensa em ganhar dinheiro com a habilidade do filho, e até mesmo Gaston Pauls com seu Ángelo adulto tem uma boa entrega na cena final, mas nada imponente ao ponto de se destacar.

Visualmente encontraram uma ilha bem bacana de refúgio para o protagonista, algo completamente isolado, com muitos elementos cênicos que podem até representar algo a mais, mas que parecem ser uma imensa bagunça de alguém que não cresceu, e que até pode simbolizar momentos e intensidades para a trama, porém o diretor usou bem pouco, apenas mostrando o curtume aonde o protagonista e o tio preparam as peles dos animais, e não indo muito além. A fotografia trabalhou alguns atos com uma luz forte avermelhada, também sem muitos motivos aparentes, apenas para dar destaque nos momentos de imaginação do jovem, que até funcionam, mas sem ser algo imponente, e claro a cena de fechamento toda bonita num programa de auditório (sem auditório!), aonde fizeram um debate interessante, e o funcionamento da banda agrada, mas certamente poderiam ter ido bem além.

Enfim, é um filme que tem uma proposta muito boa, porém um desenvolvimento fraquíssimo que acabou resultando em algo mediano, e assim sendo não digo que recomendo ele com muita força, pois acredito que a maioria das pessoas irá mais se cansar com tudo do que se emocionar realmente com o resultado completo, mas que volto a frisar que não é um longa ruim, então quem tiver sem nada para conferir até vale uma olhada. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.

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