Um filme maluco, porém, genial se pararmos para analisar que na hora do desespero não existe bonzinho, não existe anos de trabalho junto, nem beleza, todos vão parar no mesmo buraco tentando sobreviver até a última agulhada ou resquício de sanidade. Essa pode ser uma das ideias do filme da Netflix, "O Bar", que já está há bastante tempo na plataforma, mas ainda não haviam me sugerido, e hoje uma amiga passou algumas sugestões interessantes, e eis que olha, que filme doido, cheio de atuações bem marcantes, e com uma dinâmica certeira que brinca tanto com o ar cômico quanto com a dramaticidade em cima do tema, até passando pelo terror, ou seja, um filme que tem todo um simbolismo, tem atitude, e principalmente, não enrola, indo direto na loucura do momento, do não saber o que fazer, e ainda tendo pessoas/tipos de todos os estilos no meio da confusão, o resultado só poderia ser um: o desespero sem saber como vai terminar tudo. Ou seja, é daqueles filmes tão bem trabalhados, que mesmo a simplicidade e os erros acabam sendo acertados, de forma que ao final ficamos querendo até mais, pois vale cada minuto dentro da loucura completa.
A trama nos conta que em um dia comum no movimentado centro de Madri, a vida passa como de costume, enquanto dentro de um bar central decrépito e barulhento, uma variedade heterogênea de urbanos comuns está matando o tempo indolentemente, até que um tiro alto envia arrepios na espinha. Do nada, agora um homem está morto em frente ao bar em uma poça de sangue e, surpreendentemente, em plena luz do dia, outra morte se segue. De onde veio essa misteriosa bala letal? É um ato de terrorismo ou existe um atirador invisível solitário escondido em um telhado? Enquanto a histeria prevalece e os corpos milagrosamente desaparecem no ar, os frequentadores perplexos e aterrorizados do bar tendem a se ligar, paranoicos e desconfiados do assassino em potencial que pode estar escondido dentro do local. Existe mesmo um lobo entre ovelhas?
O diretor Álex de la Iglesia é daqueles que ninguém consegue entender seu estilo, pois seus filmes sempre têm elementos bizarros bem malucos, mas consegue dar boas alfinetadas sem forçar a barra, claro que exagerando em pontos dramáticos ora pelo excesso cômico ora pelo excesso trágico, e é um dos poucos que consegue sempre em um único filme misturar três estilos que geralmente não se conectam. Ou seja, aqui o filme nas mãos de qualquer outro diretor seria extremamente forte ou seria uma zorra completa, e ele trabalhou elementos de todos os estilos em cada personagem, criou grandes atitudes, e fez uma trama que não cansa, que passa mensagens fortes para qualquer época, e que principalmente nessa época que estamos mostra que qualquer loucura pode virar um caos monstruoso tanto nos que estão no meio, quanto naqueles que não sabem o que está ocorrendo, tudo isso fazendo apenas um isolamento de pessoas, ou seja, o diretor acertou bastante, e mesmo errando em alguns atos estranhos, ele finalizou bem tudo o que começou com algo clássico e bem feito.
Sobre as atuações, conseguiram trabalhar com um grupo bem eclético de tipos, aonde vemos desde o nerd, passando pela patricinha, o empresário, o policial aposentado, a dona de bar, o empregado, a velha deprimida, o mendigo, entre outros, e o resultado dessa junção maluca é algo que mostra que todos souberam dominar seus personagens, fazer loucuras, e ir até o fim das consequências para "sobreviver" após o caos, e isso mostra uma ótima seleção, e um domínio do diretor em controlar todos. O maior destaque sem dúvida do longa ficou a cargo de Jaime Ordóñez com seu Israel, jogando citações bíblicas a todo momento, bebendo desenfreadamente, se jogando, e chegando ao seu final com trejeitos tão fortes que chegam a ser apavorantes, e isso mostrou que o ator dominou tudo o que lhe foi pedido, e acertou em todos os momentos. Mario Casas também foi bem trabalhado com seu Nacho, de forma que inicialmente pareceu meio jogado, mas depois do ponto de reviravolta com o celular, o ator mostrou o motivo de ser um dos mais queridos do cinema espanhol, e seus momentos de surto já no esgoto foram bem imponentes e interessantes de ver, ou seja, o ator caiu bem para o papel. Blanca Suárez foi razoável com sua Elena, ao ponto de parecer meio sem sal, mas que teve um desenvolvimento satisfatório na maioria das cenas, e também no esgoto se sobressaiu, mas demorou muito para mostrar serviço, e isso geralmente pesa. Quanto aos demais, tivemos atitudes boas de todos, com leves destaques para Secun de la Rosa com seu Sátur, e Carmen Machi com sua Trini, mas nada que chamasse tanta atenção, enquanto os demais funcionaram apenas para o primeiro ato, mas também sem muita imponência.
O conceito visual da trama é dividido em quatro bons atos, a cidade movimentada fora do bar, com pessoas andando desenfreadamente, cruzando os carros no meio da rua, até ter o primeiro tiro e tudo sumir ao redor e ficar completamente vazia a cidade; o segundo com o bar mal arrumado, cheio de pessoas de todos os tipos, um ambiente conflitivo e cheio de elementos casuais de botecos de esquina mesmo; o terceiro com o depósito no porão escuro, com alguns elementos marcantes, mas funcional apenas para o desenrolar principal; e claro o esgoto, aonde os protagonistas se sujaram, ficaram somente com roupas íntimas, envoltos de baratas, ratos, sujeira de todo tipo, além do banheiro, e claro do gordo que serviu apenas alegoricamente, quase como um objeto cênico bem feio, ou seja, a equipe de arte fez tudo com muita simbologia, tudo com detalhes precisos que dão para brincar de estudar a sociedade e o ambiente, e com uma perfeição que merecia muitos prêmios, e assim sendo um grandioso acerto.
Enfim, é um tremendo filme, simples de estilos, mas completo de essências, cheio de simbolismos, mas não dificultando nada para o entendimento, e principalmente, brincando com tudo, de forma que é um filme tenso, mas gostoso de conferir, que até mesmo nos erros acaba acertando, ou seja, vale muito a conferida (acredito que muitos já tenham até visto já que não é um filme tão novo na plataforma, mas que não tinha visto ainda e uma amiga me indicou - então se tiver bons filmes originais para me indicar agradeço também). Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.
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