Se você gosta de um bom filme de guerra e também de filmes mais intimistas, sem ser grandes produções, certamente irá curtir a proposta do filme da Netflix, "O Cerco de Jadotville", que trabalha uma história real, que pelo que contam só foi reconhecida em 2005 pelos fatores que ocorreram, ou seja, você pode esperar de tudo, e que mostra toda a imponência de um exército de poucos homens que nunca lutaram em uma guerra, de um país que nunca foi para o combate, e comandados por um general que conheceu todas as guerras pelos livros apenas. Se você leu esse começo e já ficou aflito, pode esperar de tudo ainda num combate contra mercenários que protegem mineradoras de grandes riquezas na África, ou seja, é daqueles filmes recheados de pontos, que poderiam até ir mais além se quisessem aumentar com ficção a história real, mas que foram singelos e trabalharam bem no estilo, fazendo uma trama honesta e bem feitinha, que consegue envolver ao ponto de estarmos em certas cenas bem perto da TV de tão aflitos que ficamos, afinal é 150 contra mais de 3000, além de toda a experiência dos adversários.
O longa nos conta que em 1961, a ONU envia uma tropa de paz irlandesa comandada pelo comandante Pat Quinlan a Katanga, no Congo, para proteger os habitantes da cidade mineira de Jadotville no início de uma guerra civil. Enquanto isso, o consultor da ONU Dr. Conor Cruise O'Brien lança um ataque militar chamado Operação Morthor contra os mercenários franceses e belgas. Logo há uma represália dos mercenários e Quinlan e seus homens são sitiados por um grande número de tropas Katangese e mercenárias. Os soldados irlandeses resistirão ao ataque?
Basicamente conhecido como diretor dos clipes e vídeos do U2, Richie Smyth, tem aqui sua primeira direção de longas realmente, e mostrou até que bem dinâmico no estilo, criou momentos coerentes de ação misturados com pontos mais dialogados e de estratégia, sempre ousando em um ou outro ponto, mas não indo a fundo muito nas situações em si, deixando muita coisa para ser explicada nos textos finais, e com uma cena de finalização forte, porém meio frouxa, ou seja, o longa até funciona bem, cria as dinâmicas casuais de bons filmes de guerra, mas ficou faltando aquele elemento de você chegar no final quase que sem ar com tudo o que ocorre (isso ocorre em algumas cenas espalhadas, mas não se mantém), ou seja, para um primeiro trabalho já atacar um estilo tão difícil como é o de guerra até que foi muito bem feito, mas certamente nas mãos de um diretor mais experiente, a homenagem aos soldados que lutaram seria mais imponente.
Sobre as atuações, diria que todos foram razoáveis com suas interpretações, pois não temos nenhum momento de destaque, ou daqueles que olhamos para algum personagem e o ator acaba criando algum carisma, e até temos digamos um problema claríssimo de tentativa de venda, pois o filme foi rodado em 2016, e Jamie Dornan havia acabado de estrelar "Cinquenta Tons de Cinza", e certamente só foi escalado como o protagonista Pat Quinlan aqui por esse motivo (a tentativa de vender o longa para as mulheres que amaram seu Grey), pois ele tenta fazer ações mais imponentes, tenta verbalizar algo a mais, mas não tem como, ele é fraco, e com isso até chega a ser engraçado seus comandos para os demais soldados fronte ao que vemos que alguns outros de patente menor tinham até mais atitude que ele, ou seja, talvez até seja um acerto para o que acaba sendo a empreitada, mas um ator melhorzinho no papel sairia melhor com certeza. Tanto é assim que Jason O'Mara parece em alguns atos ser até mais importante com seu Jack Prendergast, com olhares sérios, feições fortes, e dinâmicas mais coesas para alguém de atitude no comando da tropa, mas como sua patente era menor, ficou levemente afastado, e fez bem ao menos o que lhe era necessário. No lado inimigo ao menos não economizaram, e o francês Guillaume Canet deu um show com seu Faulques, ao ponto de até torcermos em determinado momento para ele matar os mocinhos da ONU, ou seja, o ator teve personalidade de malvado, cicatriz, e tudo mais para junto de uma boa atuação mostrar serviço e funcionar. No lado burocrático e político, Mark Strong fez bem seu Dr. Conor, e até botou banca em algumas cenas imponentes, de modo que o que faz em cena foi bacana, mas o personagem real se fez dessa forma mesmo foi daqueles que mereciam tomar um tiro pelas cagadas e atitudes. Quanto aos demais, todos os soldados tiveram um ou outro momento mais chamativo, e fizeram bem seus atos, mas sem grandes destaques, e claro o grande líder de Katanga, Tshombe, vivido por Danny Sapani foi bem moldado e incorporando bons trejeitos, mas foi usado em poucas cenas, e talvez fosse melhor dar mais voz para ele chamar mais atenção.
Visualmente todo longa de guerra é cheio de situações incríveis de ver, e aqui de cara já vemos a enrascada que o governo meteu os soldados, pois o local para instalação da guarda da ONU em Jadotville era um prédio sem estruturas nenhuma, no meio de um descampado gigante, com soldados dormindo bem ao relento, pouca munição, pouca alimentação, e tudo mais, e souberam retratar bem as lutas com muitos tiros, muitas explosões, poeira voando para todo lado, ou seja, a equipe de arte fez uma boa construção cênica de todo o ambiente ali, além de montar bem os lados burocráticos com uma rápida sala de convenção da ONU, um escritório/casa bonitinho para os burocratas, nada de muito chamativo, mas bem feito.
Enfim, é um filme bem feito, que quem gosta de longas de guerra baseados em fatos reais vai conhecer uma guerra que quase nem ouvimos falar nos livros de História, e que mostra que até produções mais simples do estilo conseguem funcionar bem, ou seja, vale a conferida. E eu fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.
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