Tem sempre aqueles filmes introspectivos que conseguem passar suas mensagens de uma forma emotiva, com um envolvimento acima do normal, contando com toda a perspectiva dos personagens em cima de uma história com doenças, mas saber passar isso é algo que nem todos os diretores conseguem, pois alguns acabam entregando filmes de vida, tentativas abstratas demais e outros vértices. Disse isso antes de começar o texto realmente de "Buraco Na Parede", pois a trama toda parece algo que vai além de um filme apenas, tendo sua história quase como algo pessoal do diretor para passar, um auto-encontro com seu passado, ou algo do tipo, daqueles que juntou alguns amigos e fez um filme para ser algo para ficar guardado, já que não temos qualquer informação dele nas filmografias de qualquer um dos atores, nem na do diretor, em nenhuma plataforma, ao ponto de que você acabará descobrindo ele na Netflix sem praticamente saber nada dele, o que não é ruim, pois defendo muito isso, mas ao final se quiser saber um pouco de cada ator terá de voltar nos créditos para pegar os nomes, pois aqui é quase como se o filme não tivesse acontecido. E o mais engraçado é que o filme é bom, pois costumamos esconder os fatos quando não gostamos de algo, e a trama tem envolvimento, as atuações são certeiras, e entramos na vibe completa que a trama tenta passar, ao ponto de que o resultado mesmo que introspectivo demais em cima dos últimos dias de vida de um homem, na busca de rever os amigos do passado, e levar o filho para viver um pouco em uma aventura sem planejamento aparente, mas que flui determinada. Ou seja, é um filme que pode deixar alguns tristes, outros emocionados, mas sem dúvida alguma é um projeto do diretor para pensarmos mais e quem sabe lembrar dele mais para frente.
O longa é uma história sobre a descoberta da vida enquanto se segue sua jornada final para a morte, e nos mostra que Riaan é um independente que vive a vida e todos os seus prazeres ao máximo…. dinheiro, sexo e um bom mergulho diário! Ele é diagnosticado com câncer de cólon no estágio 4 e decide experimentar maconha crua como um meio de pelo menos entorpecer a dor. Ele leva seu único filho Ben - que mora no exterior - para a África do Sul para viajar com ele e a misteriosa Ava em uma última viagem. A viagem os leva ao seu melhor amigo Tony, que administra sua fazenda de café no Transkei. Nesta última jornada, ele apresenta vida a seu filho e Ava de uma maneira incomum para ambos, mostrando ao filho aspectos de sua própria vida e de uma vida que Ben desconhecia todo esse tempo.
É uma história de vida, amor, amizade verdadeira e bom café na linha de cores entre um africâner branco e seu amigo Xhosa.
Já disse muito no começo que o longa certamente é algum estilo pessoal do diretor, e certamente Andre Odendaal, se entregou para sua trama com vértices mais amplos, dinâmicas abertas e que ele quis ir a fundo na mensagem, tanto que além de diretor da trama, é também roteirista e protagonista, de forma que sentimos seus atos sendo bem passados, suas vontades sendo vistas mais do que a superfície de atuação, e claro seu estilo meio que puxado para um road-movie de auto-conhecimento, vivendo realmente cada ato, vendo o pôr-do-sol, os animais atravessando a pista, o mar batendo no buraco da pedra, e até mesmo participando de bebedeiras e revisitando amigos. Ou seja, a trama não entrega uma dinâmica seca, mas sim uma vivência por parte do trio de protagonistas imersa nos atos, fazendo tudo acontecer e claro sofrer também com as dores da doença, e assim o resultado agrada bastante e emociona também.
Sobre as atuações, é fato que André Odendaal se doou bem para os atos, fez caras de sofrimento bem fortes nos momentos mais tensos de sangramento, e colocou bem seu Riaan como um espírito livre, daqueles que gostam de curtir cada momento, vivendo realmente tudo o que tem para acontecer sem pensar duas vezes, e o ator se jogou junto, fazendo bem cada ato, do jeito que sua mente e sua direção pedia. A jovem Tinarie van Wyk Loots também fez bons atos com sua Ava, sendo como o protagonista fala um anjo sexy, pois misturando atos de enfermagem para cuidar do protagonista, mas indo para um lado mais emocional de parceira de viagem e de loucuras, o resultado acaba fluindo tanto pela beleza da atriz, como na doçura de seus envolvimentos, o que acaba sendo gracioso e bem colocado na trama. Nick Campbell teve alguns bons momentos com seu Ben, mas foi seco demais de expressões, ao ponto que não sentimos nem sua falta de vida ativa, nem seus sentimentos de falta de conexão com o pai, ao ponto que no seu momento de explosão acabamos vendo algo até artificial demais, pois tudo vinha bem demais, ou seja, poderia ter manejado melhor cada momento para tudo funcionar bem no fim. Quanto aos demais, tivemos boas dinâmicas emotivas de todos os amigos do protagonista, ao ponto de gostarmos rapidamente de cada ato deles, mas sem grandes destaques.
Visualmente o longa é muito bonito, pois passa por locações marcantes da África do Sul, mostra paisagens, hotéis familiares, o ar rural, e até mesmo sendo bem simples de elementos cênicos, ao ponto de trabalhar um casamento bem cultural Xhosa, tentar passar as mensagens e lendas dos ambientes, e claro também mostrar um pouco da dureza da doença com muito sangue, vômito e tudo mais, mas sem precisar apelar, nem também ficar superficial demais, ao ponto de ser um bom acerto.
Enfim, é um filme que muitos vão sentir e entrar num clima fora dos padrões, vendo mais do que a simples mensagem da trama, mas indo mais a fundo, enquanto outros apenas verão um bom road-movie diferenciado. Não digo que seja uma obra prima, pois como disse poderia ter ido mais fundo nos sentimentos para que o público lavasse a sala durante a conferida, mas é uma boa trama, que vale o tempo assistindo, e dessa forma recomendo ele. Bem é isso pessoal, eu fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos.
16 comentários:
Gostei muito da crítica e do filme.Parabens pela visão dos personagens.
Muy buen comentario vi la película y me costó encontrar datos de los actores locaciones y demás.
Qual o nome da música cantada em português?
Obrigado Mary... que bom que achou os nomes aqui... precisei pausar para conseguir escrever!!
Olá Sampaio... a música chama Pai... é da SaraoMusic e você pode ouvir aqui: https://www.youtube.com/watch?v=U51LRR4Tn5s
Pai - SaraiMusic
Parabéns. Exatamente assim o filme.
Gostei sim do filme.
Pai. Banda saraubrasil. Descobri pelo Google rsrs
Gostei do filme. Me surpreendeu positivamente.
Alguém sabe qual o idioma falado no filme? Apesar de se passar na África do Sul, parece holandês, não sei...
Olá, igualmente, gostei do filme e fiquei encantada com a canção "Pai' na voz da mineira Jabu Morales, cantora, compositora e percussionista radicada em Barcelona. Essa e outras músicas integram o álbum intitulado Universo Brasilis produzido pela gravadora SaraoMusic também de Barcelona.
O idioma do filme é o Africâner.
Olá Dolores... muito obrigado pelas informações que tem ajudado os leitores também!! Tanto com o nome da cantora e não o álbum como tinha colocado erroneamente antes nos comentários aqui... quanto pelo idioma do filme!! Super valeu, e esteja a vontade para comentar por aqui sempre!! Abraços!
É um filme denso com muitas cenas fortes mescladas com humor ácido. O personagem protagonista é muitíssimo bom convincente nas cenas tristes e alegres.
Acabo de assistir e estou chocado de quão bom é o filme. Uma surpresa. Escolhi de forma aleatória. Adorei a resenha sobre o filme.
Por gentileza, alguém me dizer o nome da música que toca no começo. Parece ser do Elvis.
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