Sempre costumo falar que temos de ver filmes de diversos países para conhecer um pouco mais de cultura, e de como enxergam determinados assuntos, pois geralmente mesmo não conhecendo nada sobre o que prezam, acabam indo em fluxos diferentes, entregam novas perspectivas e até acabam mostrando um pouco mais de estilo para aprendermos, e aqui com o longa suíço da Netflix, "O Despertar de Motti" temos grandes sacadas em cima dos ritos que prezam a cultura judaica em cima dos jovens, que segundo o protagonista já nasce tendo praticamente toda sua vida programada, e é bem engraçado ver ele falando conosco numa quebra da 4ª parede no melhor estilo dos filmes de Woody Allen (aliás tendo uma piada com isso na trama), e claro, suas reviravoltas para tentar mudar seu casamento arranjado. Ou seja, é um filme leve, com uma pegada não muito clássica, mas que trabalha boas dinâmicas para envolver o público, mas ainda assim é diferenciado tanto no conceito, quanto no fechamento não tradicional, que deixa aberto para pensarmos, e assim não dá a ideia do diretor do que o jovem deva fazer com sua vida.
O jovem judeu ortodoxo Mordechai Wolkenbruch, chamado Motti, tem um problema sério: todas as mulheres, que sua mãe lhe apresenta como esposas em potencial, se parecem com ela. A aluna Laura, no entanto, não sabe, mas infelizmente é uma schiksa. Ela veste calças, tem belas bundas, bebe gim com tônica e não é judia. Motti começa a ter dúvidas sobre o caminho predeterminado dado por seus pais como o caminho a seguir? Sua obediência aos métodos perturbadores de sua mãe começa a desaparecer à medida que sua paixão por Laura cresce. As coisas seguem seu curso, e muito em breve Motti chegará a uma conclusão: até que uma schiksa pode ser legal.
O diretor Michael Steiner foi certeiro em não usar a trama de forma apelativa, pois o longa tinha essa possibilidade pela formatação toda, e certamente o resultado não sairia tão bem colocado, e assim sendo, vemos um filme dirigido em moldes mais fechados, com cenas curtas, mas bem feitas, e cada uma com uma possibilidade diferente de rumos, o que agrada bastante, e ainda acaba abrindo toda a trama com um roteiro leve e coeso. Ou seja, o diretor traçou rapidamente um estilo, deu liberdade cênica para o protagonista, e foi criando em cima, com situações ora bem dinâmicas, ora com conotações clássicas estimuladas para que o filme tivesse um conteúdo também em cima da religião, e assim, o resultado fluiu fácil, teve as diversas entonações familiares, e ainda deu brecha para o público criar um leve carisma com o protagonista, o que é bem difícil, pois o jovem é meio durão de trejeitos.
Sobre as atuações, Joel Basman deu um bom tom para seu Motti, entregando ares bem tímidos, trejeitos leves e desengonçados, e principalmente um teor não muito exagerado para o personagem, de modo que acabamos entrando no seu clima, e o resultado agrada bastante. O grande destaque do filme claro que ficou a cargo de Inge Maux com sua Judith, a mãe mais coruja do planeta, cheia de intenções para arrumar uma nora de qualidade para o filhinho, mas que se transforma no pensamento e com as atitudes contrárias de Motti, de forma que a atriz deu muita personalidade para o papel, e agradou mesmo exagerando. Noémie Schmidt entregou uma Laura bem colocada, com nuances afetuosas, mas também com um espírito solto, graciosa e bem colocada em todas as cenas, até mesmo no final. Meytal Gal foi mais direta ao ponto com sua Jael, entregando dinâmicas e dando bons vértices para um desenvolvimento do personagem principal, fazendo o despertar acontecer realmente em Israel, e agradando bastante com a desenvoltura da atriz e da personagem por consequência. Dos demais, tivemos bons destaques tanto para Lena Kalisch com sua Michal simples e direta, e com a sabedoria e envolvimento de Sunnyi Melles com sua Silberzweig cheia de conselhos e ensinamentos através das cartas para o jovem rapaz.
Visualmente o longa contou bem com muitos elementos cênicos da religião judaica, trabalhou bem as festas e cerimônias mais conhecidas, e brincou ainda com os lados mais alegóricos da mente do jovem, usando locações bem bonitas, apartamentos estilosos, e claro no lado mais pecaminoso, bares e festas com luzes, drogas, bebidas e tudo mais colorido possível, para contrapor, além de entregar até uma outra religião para algo mais abrangente. Ou seja, a equipe de arte pesquisou bastante, e trabalhou bem para que tudo fosse bem visto.
O filme contou também com uma playlist bem trabalhada, com canções que deram dinâmica para o longa, entregando tanto o ritmo certo para cada momento, como um bom tom musical para envolver, e para quem quiser ouvir após o filme fica aqui o link.
Enfim, é um filme bem gostoso de ver, com algumas cenas mais divertidas, e outras mais truncadas, mas que acaba sendo leve e vale a conferida, claro que não espere uma comédia para sair rolando de tanto rir, mas é bem feita e interessante ao menos. Sendo assim, fica a dica, e eu fico por aqui, voltando em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.
1 comentários:
Achei muito engraçado esse filme e vi na mãe de Motti a minha sobrinha judia com seu filho Benjamim e todo o cuidado que ela tem com ele 😂😂😂😂😂😂
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