Se você é daqueles que gostam de um mistério, de uma história policial investigativa bem envolvente, e principalmente se gosta de adaptações literárias que te prendem por mais que um filme, certamente você irá curtir a trama da Trilogia Baztán, que estreou na Netflix com "O Guardião Invisível", depois veio com "Legado Nos Ossos", e agora temos o fechamento bem conclusivo da trama toda com "Oferenda à Tempestade", que conseguiu amarrar tudo o que os filmes anteriores deixaram aberto, e explicar ainda muitos elementos interessantes, o que é sempre bom, mas por incrível que pareça ainda deixou alguns elos abertos para talvez alguma continuação, ou seja, veremos o que vai acontecer mais para frente, já que com a pandemia, a trama não chegou nem a ser lançada nos cinemas espanhóis como aconteceu com seus antecessores, e assim a renda certamente vai ser menor. Dito isso, o novo filme é intenso como os demais, tem diversos bons personagens interessantes (a maioria já havia aparecido felizmente, então quem não viu os anteriores é muito necessário para entender o que está ocorrendo!), porém tirando alguns choques com algumas situações, ficamos esperando um pouco mais de tudo, parecendo ser levemente mais morno, não que isso seja ruim, muito ao contrário, o filme ainda é bem bom, mas o primeiro foi tão forte, que a expectativa de uma conclusão mais forte ainda era alta, ou seja, como costumo dizer, é melhor não criar expectativas, pois a chance de decepção acaba sendo mais alta ainda, porém o resultado ainda vai valer muito a conferida, e certamente muitos irão se surpreender com alguns momentos do filme.
A trama nos conta que já faz um tempo desde que a inspetora Amaia Salazar confrontou sua mãe. Mas, apesar da Guarda Civil e do juíz Markina considerarem o caso encerrado, Amaia sente que não está livre de perigo. A morte súbita de uma bebê em Elizondo é suspeita e as análises forenses do Dr. San Martín levaram Amaia a investigar outras mortes de origem semelhante que levarão a inspetora à resolução final dos eventos que devastaram o Valle de Baztan.
Já havia dito isso nos outros dois textos, mas reforço novamente que o diretor Fernando González Molina certamente entrará para um grupo de diretores que muitos vão ficar de olho após essa trilogia, pois ele conseguiu um feito que é raro em sequências, manter o clima e o envolvimento da trama do começo ao fim, de modo que em raríssimos momentos dos quase 400 minutos que tem toda a trilogia vemos elementos desnecessários ou situações que sirvam apenas de enfeite, pois tudo acaba bem amarrado, situações ou personagens que acabaram parecendo perdidos em determinado momento acabam sendo úteis para outros, ou seja, o diretor fez o rascunho muito bem feito para que seus três filmes se complementassem, mas principalmente que criassem a tensão necessária ao ponto do espectador desejar ver mais e mais, e assim fosse se envolvendo com tudo, criasse um carisma pela protagonista (e até por alguns secundários), e claro desejasse saber o desenrolar da trama. Claro que por ser uma adaptação literária pronta em cima dos livros de Dolores Redondo, isso tudo já veio pré-esquematizado, porém o diretor foi sábio o suficiente para não entregar tudo, e sempre deixar o gostinho de quero mais, tanto que fechamos a trilogia aqui, mas ainda sobraram muitos elementos sem explicação que podem gerar ainda mais dinheiro em continuações, ou talvez um prequel, mas isso é assunto para pensar mais para frente, então aqui posso dizer que ele fechou bem seu ciclo e o resultado, mesmo com algumas falhas, foi extremamente positivo.
Sobre as atuações, costumo dizer que quando você se entrega bem para um personagem é difícil o resultado não ficar bom, e aqui Marta Etura deu muita personalidade para sua Amaia desde o primeiro filme, e aqui se soltou completamente para cenas bem quentes e também para atos intensos de investigação, ao ponto que como já conhecíamos bastante a personagem desde o começo, aqui já ficamos intrigados com suas opiniões, e o resultado faz com que algumas surpresas soem bem marcadas, ou seja, talvez seja difícil vê-la fazendo outros papeis depois daqui, mas mostrou um bom ganho para chamar atenção para outros papeis investigativos. Imanol Arias apareceu um pouco mais aqui como Padre Sarasola, e até entregou bons diálogos para moldar a trama, dando mais intensidade para a história, e talvez até pudesse chamar mais atenção em outros atos, mas foi bem pelo menos. Esperava ver mais Susi Sánchez na trama com sua Rosario, porém a opção dela ficar apenas como algo oculto na trama foi bom, e seu ato foi bem marcado de intensidade ao menos. Marta Larralde entrou apenas nesse filme da trilogia com sua Yolanda, mas é daquelas malucas que você inicialmente tem até um pouco de pena de tudo o que está fazendo, depois começa a pegar ranço e já quer tacar uma porretada na cabeça para parar de fazer as coisas, e a atriz foi muito bem no que fez, sendo chamativa ao menos. Carlos Librado como nos outros dois filmes fez um Jonan muito intenso e cheio de mistérios, e aqui ele foi até usado para algo forte e impactante, mas que queríamos até mais dele, mas seu personagem acabou puxando as cenas de Carlos Serrano-Clark com seu Mark bem trabalhado também, então o funcionamento completo deu resultado. Se nos outros filmes ficamos intrigados com as participações apenas de Leonardo Sbaraglia como juiz Markina, aqui ele passa a ser alguém bem importante com seu envolvimento mais próximo ainda da protagonista, e o ator fez bons atos, conseguiu chamar a atenção e funcionou do começo ao fim, embora alguns temas de seu personagem talvez precisassem de um desenvolvimento maior ao invés de serem apenas jogados, mas funcionou. Quanto aos demais, a maioria entregou bons momentos também, alguns mais, outros menos, e cada um chamando a importância para seus personagens, mas ficaríamos horas falando de cada um, e muitos já foram até destacados nos textos anteriores como Elvira Minguez com sua Flora, Alicia Sánchez com sua Elena, e até Benn Northover com seu James como pai do ano, mas não entregaram tanto aqui, então vamos apenas deixar como secundários.
Visualmente o longa trabalhou com muitas cenas em cemitérios, algumas no caminho tradicional que a protagonista fez de carro umas 20x durante a trilogia toda falando no telefone dentro do carro, algumas cenas mais quentes na casa chique do juiz, e algumas na cidade que exageraram um pouco no tom avermelhado da iluminação (sem motivo aparente), mas tudo num clima bem denso, que se nos dois primeiros foram dominados pela chuva, aqui tivemos alguns atos com neve, e bem poucos com chuva intensa (embora o nome aqui tivesse mais sentido continuar toda a chuva anterior). Ou seja, não se prenderam tanto nos ambientes, mas tudo foi bem funcional.
Enfim, diria que esperava um bom tanto a mais no fechamento da trama, e com isso me decepcionei um pouco, e embora ainda seja um ótimo filme, poderiam ter ido bem além em alguns momentos mais impactantes. Claro que o conjunto completo vai ser daqueles que vou lembrar sempre e indicar bastante, mas ficou um pouco morno demais para algo que vinha bem movimentado dos anteriores. Ou seja, recomendo ele com certeza como fechamento da trilogia, tudo praticamente foi bem elucidado, vai agradar muita gente, e vale a conferida, mas vá com menos expectativas para a chance de gostar mais ser maior. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais textos, então abraços e até logo mais.
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