Netflix - A Sociedade Literária e a Torta de Casca de Batata (The Guernsey Literary and Potato Peel Pie Society)

7/26/2020 10:16:00 PM |


Confesso que não sou muito fã de romances, mas quando colocam uma boa história dentro do conteúdo acabo viajando nas possibilidades, e hoje resolvi conferir uma indicação de um amigo na Netflix, e eis que a trama é lindíssima, daquelas que acabamos envolvidos com tudo o que aconteceu no passado, com tudo o que está acontecendo no momento, e praticamente nos vemos na personalidade da escritora para tentar entender um pouco mais sobre tudo o que se passou na pequena ilha em "A Sociedade Literária e a Torta de Casca de Batata", e que a cada desenvoltura nos vemos mais apaixonados pelo momento, pelos personagens, pelas atitudes e tudo da ilha. Ou seja, um filme doce, com uma pegada forte em cima do tema, e que quem ama literatura certamente se verá apaixonado pela história toda, pois foram tão sutis com tudo, souberam dosar cada momento com uma simplicidade única ao ponto que o longa passa voando, e cada detalhe é acertado sem precisar apelar ou dizer qualquer palavra a mais.

O filme conta a história de Juliet Ashton, uma escritora em busca de um tema para seu próximo livro. Ela acaba encontrando-o na carta de um desconhecido de Guernsey, Dawsey Adams, que entra em contato com a jornalista para fazer uma consulta bibliográfica. Começa aí uma intensa troca de cartas a partir da qual é possível identificar o gosto literário de cada um e o impacto transformador que a guerra teve na vida de todos. As correspondências despertam o interesse de Juliet sobre a distante localidade e narram o envolvimento dos moradores no clube de leituras – a Sociedade Literária e a Torta de Casca de Batata –, além de servirem de ponto de partida para o próximo livro da escritora britânica.

O diretor Mike Newell foi muito bem na condução que acabou fazendo para esse roteiro baseado no romance homônimo de Mary Ann Shaffer e Annie Barrows, pois vemos toda a essência de uma maneira gostosa, nos sentimos quase lendo o livro, encontramos os personagens acontecendo em cada ato quase como um sentido extra que envolve bastante e resulta em algo tão bom e tão bonito que seu trabalho parece ter sido feito com a leveza total de uma pena, ao ponto que não vemos cortes bruscos, não sentimos falta de nenhum elemento, os acontecimentos do passado parecem passar no meio do momento real acontecendo sem forçar nada, e a cada reviravolta nos vemos desesperados com tudo o que aconteceu da mesma forma que a protagonista. Ou seja, o diretor acabou nos transportando quase como elementos ativos do filme, isso sem precisar tecnologia ou usar qualquer artifício de ângulo de câmera, apenas sabendo dar o tom da trama num ritmo perfeito, e com sintonias afinadas entre todos do elenco, o que funcionou demais.

Sobre as atuações, Lily James caiu perfeita para o papel de Juliet, ao ponto que seu carisma encanta, seus atos são serenos e bem feitos, e mesmo nas cenas que precisou demonstrar insatisfação com o que estava fazendo ela fez muito bem e chamou muita a atenção, trabalhando tudo com um brilho no olhar tão bem colocado que chega a nos encantar. Michiel Huisman foi bem emotivo e envolvente com seu Dawsey, passando sentimento do começo ao fim, sendo direto ao ponto e funcionando muito dentro da proposta toda, ao ponto que mesmo sendo um personagem estranho, o seu resultado acaba perfeito. Katherine Parkinson entregou uma Isola cheia de nuances, com um ar meio cigano, mais rústico e agradou em cheio com olhares. Tom Courtenay trabalhou seu Eben com densidade, com tons mais calmos e seguros, agradando bastante quase como um avô bem colocado na trama. Penelope Wilton foi a mais dramática com sua Amelie, mas com muita ternura e sinceridade nos olhares acabou nos prendendo com sua dor, o que chamou muita atenção. Matthew Goode ficou meio que em segundo plano como o editor Sidney, mas nem por isso falhou, dando nuances bem cômicas, porém diretas e objetivas como conselhos para a protagonista, agradando quase como um irmão mais velho. Glen Powell foi tradicional como todo galã rico de época com seu Mark, chamando bastante atenção pelo estilo imponente, e claro um certo charme, mostrando atitude para o papel, e acertando no tom também. E claro tivemos Jessica Brown Findlay como Elizabeth, tendo também um brilho nas suas cenas com muito envolvimento e atitude, mostrando a força nos atos e chamando a responsabilidade cênica para si, ao ponto de agradar bem, mesmo aparecendo pouco. Além de termos ainda muita graciosidade nas crianças vividas por Kit Connor como Eli e Florence Keen como Kit, que se saíram muito bem em todos os momentos que apareceram.

Visualmente o longa trabalha bem o estilo da época, sem precisar forçar com elementos clássicos, mas trabalhando bem o figurino dos protagonistas, as festas em Londres, ao mesmo tempo contrapondo com a ocupação nazista na ilha, as casas simples, o belo jantar e claro os encontros literários bem envolventes e cheios de significado, tudo com muitos detalhes, muita ambientação direta para mostrar tudo, e cada elemento mínimo funcional para o resultado como um todo, ou seja, perfeição.

Enfim, é daqueles filmes que emocionam realmente, que quando vemos já estamos completamente envolvidos com toda a trama, e que mesmo com um nome horrível (pois garanto que muitos fugiram de conferir o longa só pelo nome - que tem todo um significado incrível) merece muito ser visto na plataforma, então se você ainda não colocou ele na sua lista, pode pôr e conferir, pois garanto que irá emocionar a todos, mesmo aqueles que não curtem muito o gênero romântico, pois felizmente não é daqueles lotados de açúcar. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, agradecendo mais uma vez meu amigo Fábio pela indicação, e se você também viu algum filme bacana que o Coelho aqui não conferiu, pode mandar, afinal sempre é bom compartilhar bons filmes. Então abraços e até logo mais pessoal.

PS: Só não dei nota máxima para o filme, pois mesmo sendo tudo bem bonito, queria ter me emocionado ainda mais em algum momento da trama, e faltou aquela válvula para fazer lavar a sala, mas de resto é um filme perfeito.

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