Algumas pessoas mais malucas costumam ler os últimos trechos de um livro para matar sua curiosidade de algum trecho, e saber se lê o livro integral ou não, então se acelerarmos o filme da Amazon, "O Relatório" e vermos que no final foi apresentado um resumo de 400 páginas, a chance de conferir por inteiro o verborrágico longa é quase nula, pois diria que as papilas de Adam Driver se não secaram no ano passado não secam mais, que fazendo dois filmes em que ele praticamente fala sem parar do começo ao fim é um desgaste gigantesco que mostra o quão bom ator é, porém voltando ao filme, a ideia da trama é bem intrigante ao ponto de conhecermos um pouco mais todas torturas que foram feitas para conseguir diversas informações sobre os ataques da turma do Bin Laden, tudo de irregular que a CIA fez, e que o senado montando uma investigação paralela conseguiu levantar um relatório gigantesco para mostrar isso. Ou seja, o mote do longa é muito bom, porém é tão verborrágico, com tantos personagens secundários importantes, que na metade já nem sabemos mais quem é quem, e se não fosse pelas boas atuações dos dois principais, o filme seria daqueles mais confusos do que interessantes de ver. Diria então que é um bom filme, mas que cansa mais do que envolve, e o resultado final real já vimos nos noticiários, então vendo que final teve tudo, o longa foi apenas mais uma amostra que na política tudo de ruim desaparece.
A sinopse nos mostra que após os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001, a CIA passou a adotar o uso da tortura como meio de obter informações de pessoas consideradas ameaças ao país, sob a justificativa de evitar a todo custo que um ataque do tipo acontecesse mais uma vez. Trabalhando para a senadora Dianne Feinstein, o agente Daniel J. Jones inicia, em 2007, uma investigação interna acerca de denúncias sobre a destruição de fitas de interrogatório por parte da CIA, divulgadas através de reportagem publicada pelo jornal New York Times. Com muita dificuldade em conseguir os documentos necessários, Daniel dedica-se ao relatório por quase uma década, sem saber se um dia as descobertas por ele feitas serão expostas ao público.
É interessante ver o trabalho que o diretor e roteirista Scott Z. Burns fez na trama, pois se baseando nos depoimentos e textos que foram divulgados, ele acabou criando algo bem amplo, cheio de referências diretas, e principalmente personagens, para que seu filme tivesse uma base crível bem marcada, ao ponto que talvez uma série completa com todo o material funcionasse ainda maior, dando espaços para cada montagem, mas aqui em quase duas horas de exibição, vemos muito material, de forma que confesso que não absorvi nem metade do que foi mostrado, e garanto que muitos vão até se esquivar do estilo do longa pelo tanto de coisa mostrada. E isso é ruim? Não, de forma alguma muito material é ruim, porém a trama acaba ficando cansativa na metade, e mesmo mostrando todo o trabalho que o personagem principal teve, sabemos que no fim das contas ninguém acabou punido, e nada acabou acontecendo, então talvez um resumo da trama, com uma dinâmica mais acelerada, e quem sabe algum mote ficcional abstrato no miolo, para dar uma movimentada mais interessante, funcionaria mais e não entregaria algo tão maçante de textos, diálogos e mais textos, porém o resultado acabou mostrando a realidade de que algumas comissões se empenham tanto, se desenvolvem, perdem suas vidas lendo textos trancados em salas, e depois acabam sem nenhum reconhecimento, e é o que acabou acontecendo tanto com o personagem real, quanto com o filme em si.
Quanto das atuações, o filme tem um excesso gigantesco de personagens, do qual a maioria tem uma boa participação em muitos atos, mas sequer vamos lembrar o que fizeram, então vou focar nos protagonistas e só. Dito isso, volto a falar que Adam Driver precisa encontrar papeis mais leves para interpretar, pois mesmo nas ficções ele acaba recaindo para personagens com falas demais, com excessos de diálogos, e isso está marcando seu estilo ao ponto de que começaremos a ver ele como aquele ator que não se encaixa em personagens dinâmicos mais leves, o que pode até ser bom para sua carreira, e aqui seu Daniel é imponente, tem personalidade, e não aceita ser esquecido, apontando rusgas e forçando sua opinião para cima do relatório feito, e que com muita didática acaba sendo forte o suficiente para peitar tanto os senadores quanto os grandões da CIA, ou seja, poderia facilmente ter ganho duas indicações no Oscar passado, pois foi bem demais no que fez. Annette Bening trabalhou sua Diane com olhares diretos e com muita desenvoltura, ao ponto de estar irreconhecível numa personalidade diferente do usual mais leve, e que acabou lhe dando a indicação ao Globo de Ouro, pois foi dura, foi forte, e com um impacto correto e certeiro para chamar a atenção. Quanto aos demais, valem destacar apenas Douglas Hodge pela destreza de olhares psicológicos com seu Mitchel fazendo as mais incríveis torturas possíveis, mas todos foram muito bem no que fizeram, e entregaram personalidades bem encaixadas cada um no seu momento sem falhar em nada.
Visualmente o longa fez um trabalho prático e caro, pois é um elenco imenso, cenas em muitas locações pequenas, mas cheias de detalhes, desde uma sala investigativa cheia de papeis espalhados, salas de senadores, de reuniões, de tudo quanto é tipo de assunto bem representadas e devidamente lotada de pessoas em trajes/figurinos corretíssimos, cenas de torturas de nível bem imponente, e tudo sendo minucioso ao ponto de acreditarmos até terem pego muito material documentado (caso não tivessem destruído as gravações), ou seja, a equipe de arte leu muita coisa e fez um belo trabalho.
Enfim, é um filme com uma proposta incrível, com uma história real muito boa, mas que exagerou demais nos textos, e acabou mais cansando com tantos personagens importantes do que apresentando algo imponente e legal de curtir. Diria que vale mais quase como um documentário mostrando tudo do que como uma ficção envolvente, que mesmo tendo excelentes atores/personagens, o resultado acaba virando uma bagunça maior na mente do que algo que choque realmente. Ou seja, recomendo o filme, é algo bem bom, mas quem não curtir longas com toneladas de diálogos certamente irá se cansar na metade do filme, e não verá até o final, então se esse for o seu caso, fuja. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.
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