Alguns filmes investem pesado em efeitos, criam situações e cenografias absurdas, e tudo mais para que uma situação conte uma história, mas e quando não tinha toda essa tecnologia, quando as pessoas do interior diziam que ouviam as histórias de histórias que aconteceram com fulano em um lugar e que por acaso ouviu o mesmo barulho que você ouviu agora podendo ser uma coisa que ninguém sabe o que é? Pois bem, com uma simplicidade incrível, que ousa trabalhar de uma forma ingênua e cheia de envolvimento, não vemos nada impressionante ou que surja assustando, mas a história contada da forma que é faz com que o longa da Amazon Prime Video, "A Vastidão da Noite" seja daqueles que iremos lembrar por muito tempo, afinal não trabalha clichês, não quis colocar o público para ver os aliens, nem nada, mas sim passar todo o arrepio de não saber o que está acontecendo, de acreditar ou não em depoimentos de desconhecidos, de ir de encontro a algo que nunca foi contado, ao menos naquela cidadezinha do interior, e por aí vai. Ou seja, é um filme elegantíssimo, que soube ousar com a dinâmica sem precisar criar grandes cenas cheias de ação, mas que corre muito pela cidade vazia, tem câmeras e sequências em movimento perfeitas para nos grudar junto dos dois protagonistas, e principalmente não força a barra em nada, sendo arrepiante de seguir junto com eles, e com o final que escolheram.
A sinopse nos conta que em meados dos anos 1950, em uma noite fatídica no Novo México, uma jovem e cativante operadora de mesa Fay e o carismático DJ de rádio Everett descobrem uma estranha frequência de áudio que pode mudar sua pequena cidade e o futuro para sempre. Chamadas telefônicas perdidas, sinais de rádio AM, rolos secretos de fita esquecidos em uma biblioteca, mesas telefônicas, linhas de patch cruzadas e um telefonema anônimo levam Fay e Everett em uma caça ao tesouro em direção ao desconhecido.
Antes de mais nada, tenho que falar que o filme de estreia do diretor e roteirista Andrew Patterson não é para qualquer um, pois muitos vão assistir e falar: "nossa que filme bobo!", mas quem enxergar em miúdos toda a sagacidade que ele fez, e entrar completamente no clima que a trama propõe irá se arrepiar com o final e ainda vivenciará algo a mais nas conversas, nas entrevistas, e principalmente na simplicidade de tudo, que até fica parecendo aqueles longas caseiros, aonde não se entregava tudo na medida, mas sim dinâmicas acertadas para representar cada estilo. Ou seja, o diretor foi coerente em não apelar para grandes cenas, não quis trabalhar com efeitos exagerados, e somente ao final que colocou algo mais grandioso para fechar, mas que ainda faz jus a tudo o que encontrou de técnica e simbolicamente faz funcionar. Claro que ele poderia ir mais além do que causar com entrevistas que acreditamos ou não, mas ele confiou no carisma dos seus personagens, e acertou em não abrir muito sua história, pois passamos a ficar desesperados junto com a garotinha com tudo o que ela crê que está acontecendo, e o brilhantismo acaba falando sozinho em todo o restante.
Já que falei do carisma dos protagonistas, se formos olhar a fundo o longa tem vários personagens que complementam a trama para dar as nuances de cidade pequena aonde a tecnologia de gravação radiofônica está em pleno desenvolvimento, aonde as pessoas gostam de dar entrevistas para os gravadores da jovem garota, ou até mesmo ouvir os jogos de basquete da cidade narrados na rádio depois, mas felizmente o diretor não abriu tanto o leque para mostrar mais coisas e necessitar de muitos personagens para que seu filme funcionasse bem. E sendo assim, sobrou espaço para o carisma de Sierra McCormick com sua Fay, de modo que acreditamos nos seus olhares desesperados no final, entramos a fundo na sua busca pela ciência, e seu desenrolar é tão singelo e ingênuo que na cena que sai correndo de seu emprego para buscar rolos de fitas na biblioteca, quase pegamos ela no colo para correr junto, e isso é feito magistralmente pela câmera em carrinhos ou drones que o diretor usa a todo momento, ou seja, a jovem tem um ótimo ganho cênico a cada momento, e é ajudada pela tecnologia para abrir ainda mais tudo o que poderia. Da mesma forma vemos que o Everett de Jake Horowitz é daqueles que mentem em tudo para aumentar suas histórias, mas que se vê com muita desenvoltura para conseguir sair do interior em alguma rádio que transmita notícias maiores realmente, e sua sagacidade, sua vontade de ir atrás do mistério, e a fome de notícia no olhar que o ator conseguiu transmitir é incrível, tanto que vamos seguindo ele, e torcendo muito para que consiga seu objetivo, e assim o filme funciona muito. Além dos dois, o filme ainda usa principalmente o depoimento em áudio de Bruce Davis com seu Billy, com uma entonação calma, mas cheia de vida para fazer com que todos acreditem no que está falando, e que claro poderia ser qualquer ator por não ter uma cara exibida realmente na tela, mas que ele foi muito bem no que fez, e claro a emoção forte passada no testemunho de Gail Cronauer com sua Mabel, ao ponto de ficarmos assim como os protagonistas, na dúvida do que seria verdade ou mentira ali, mas que funciona bem pela forma que a senhora passa tudo. Já os demais, na maioria figuram apenas, e somente dois são mais envolvidos nos atos finais, então nada para destacar.
Mesmo sendo um longa bem simples, a equipe de arte teve um certo trabalho para criar a época, usando como base uma cidade interiorana bem típica, com uma equipe de basquete, todos os figurantes com seus carros tradicionais, toda a movimentação em cima de um dia festivo tradicional, câmeras andando por carrinhos acompanhando tudo quase que num plano-sequência, ou seja, precisando ambientar toda a cidade quase, para chegar na mesa de operações telefônicas da época, a rádio simples, a casa da senhora bem detalhada, até irmos para a floresta e entrar as computações, ou seja, a tecnologia realmente. Além disso, como o filme passa o ar de um programa de TV antigo, a fotografia foi cheia de sujeiras e ruídos, com cores puxando sempre para o sépia, e que acabaram dando todo o tom de mistério para envolver bastante.
Enfim, é um filme que fui conferir sem saber praticamente nada do que era, que no começo julguei muito mal, achando que não ia me conectar, mas que logo que saem do ambiente do jogo de basquete, tudo começa a esquentar com um envolvimento tão grandioso que não consegui desgrudar os olhos da tela, ou seja, ficou tão incrível que só queria saber como terminaria, e o resultado foi quase a perfeição, pois ainda assim o diretor também poderia ter ido além, mas nada atrapalha. Porém como disse lá no começo, é um filme que nem todos irão se conectar, e que muitos vão se irritar, mas confesso que quem acreditar no que a trama passa vai sair encantado com o resultado final, e assim sendo fica a indicação. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.
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