Se tem uma coisa que costumo reclamar muito do cinema nacional, e alguns entendem, outros veem como um pessimismo, é que a maioria dos diretores optam por mostrar o casual, a vida cotidiana, seja ela na periferia ou então na burguesia, e até outras vezes mexendo um pouco com a classe média, mas focando na vida dessas pessoas, na quebra de algo casual dessa vida, e as desenvolturas que acabam acontecendo com isso, e dificilmente vemos algo mais explosivo, ou alguma situação mais forte, ou seja, acabam cansando mesmo sendo belos filmes. E em 2015 um filme que foi muito falado foi "Casa Grande", aonde diversos críticos apontaram como uma obra de arte, filosofia da mais alta classe, explicitaram pontos sociais e tudo mais com ele, ou seja, a Imovision que é uma distribuidora pequena nem quis arriscar e lançou somente nas capitais, pois certamente onde caísse com críticas tão enfadonhas, o público geral nem entraria nas salas. Porém o longa não é ruim, tem uma boa pegada em cima da quebra da tradicional família rica, usa e abusa dos conflitos de classes, joga as pitadas de cotas e trotes de sequestros que estavam na moda na época, e até tem a beleza do garoto tentando sair desse miolo problemático da família em queda, mas é a mesma coisa que já vimos em pelo menos uns cinquenta longas nacionais, e todos cansam pelo mesmo motivo: a falta de um conflito forte, e principalmente, um fechamento decente sem ser artístico (pois já adianto, a foto do pôster é exatamente o fechamento do filme, que é bonita de ver, mas esperávamos qualquer atitude melhor que fechasse o ciclo realmente). Ou seja, é um filme que você pode assistir (está agora na Netflix), que vai se envolver com as situações, talvez se lembre dos problemas e questionamentos da época, mas não espere muito dele, pois é apenas mais um filme artístico longe de ser comercial no país.
O longa acompanha Sônia e Hugo que são da alta burguesia carioca e levam uma vida bastante confortável. Aos poucos vão à falência, mas ninguém sabe de seus problemas financeiros, nem mesmo o filho Jean, que faz de tudo para se desvencilhar dos pais superprotetores. Para se manter, o casal corta despesas e ele, que só se preocupava com garotas e vestibular, enfrenta pela primeira vez a realidade.
A ideia do diretor Fellipe Barbosa não chega a ser ruim, pois já vimos isso acontecer em grandes famílias ricas, já vimos isso ocorrer milhares de vezes em novelas, e é sabido que quando uma casa grande desmorona, a maioria não sabe o que fazer, e geralmente os jovens são os mais afetados, pois alguns mimados não aceitam mudar, outros já estão tão acostumados que acabam ruindo, mas principalmente vemos aqui que o diretor quis mostrar que muitas vezes os jovens são mais criados pelos empregados, tendo as conexões mais virtuosas ali, que quando esses são os primeiros a cair, os jovens se perdem, a família quebra e tudo mais. Ou seja, o diretor foi coeso na sua visão, e o filme foi seguro na forma de desenvolver a ideia, porém já vimos muito disso, e não vemos nada que empolgue para mostrar mais uma visão da mesma história, então o ar artístico acaba pesando demais, e felizmente por ter boas atuações, o resultado acaba sendo interessante e bom, mas talvez algo a mais chamaria mais atenção, o que não é o caso.
Já que falei das atuações, é notável que o jovem Thales Cavalcanti foi um grande achado da produção, pois ele encaixou momentos duros, momentos descontraídos e muitas cenas simbólicas com olhares claros e bem abertos para que seu Jean fosse o tradicional garoto em processo de mudanças, no meio de um conflito gigante, e que mesmo sendo mimado ainda tivesse uma desenvoltura mais ampla para o tema, e assim sendo caiu bem no papel e agradou bastante. Marcello Novaes também deu bons ares para seu Hugo, e embora o personagem não tenha se desenvolvido tanto, o ator acabou mostrando bem as facetas do tradicional rico que está caindo no fosso, mas não tira a coroa pesada para afundar menos rápido, ou seja, foi simples, fez o tradicional, mas foi bem. Suzana Pires trabalhou bem sua Sônia, encontrou alguns momentos mais dramáticos para chamar atenção, e foi bem no ensejo completo, ao ponto de agradar bastante também. Clarissa Pinheiro deu o tom mais casual, com boas dinâmicas e claro sensualidade para a vida do garoto com sua Rita, a tradicional empregada da casa que mora lá, e que vivencia os momentos de carência do jovem, e não tem nenhuma explosão, o que talvez mudaria muito a trama, mas foi bem também. Além desses tivemos bons atos com os diversos jovens, claro tendo o destaque para Bruna Amaya com sua Luiza direta no rumo, e que chama bastante atenção por isso, e claro também temos de pontuar as boas cenas de Marília Coelho e Gentil Cordeiro com seus Noemia e Severino, pois tiveram momentos simbólicos na trama, e agradaram com suas nuances.
Visualmente o longa encontrou uma casa belíssima como locação, com os tradicionais ambientes propícios para todos os conflitos como a edícula da empregada separada com portão trancado, a cozinha para conflitos entre todos com as diversas faltas de alimentos e arrumações com a queda de vida, quartos trancados ou não, sensores de alarmes, economias de luz e brigas por uso de telefone, a piscina gigante, área de churrasco conflitiva, e tudo mais, as tradicionais reuniões de cosméticos, os encontros nos ônibus, os conflitos escolares numa escola totalmente só para garotos, com os amigos e os apenas conhecidos, e claro a comunidade, aonde tudo é diferente, ou seja, a equipe de arte foi bem coesa nas escolhas, e foi bem representativa nos elementos cênicos para mostrar os contrastes e funcionalidades.
Enfim, como disse não é um filme ruim, muito pelo contrário tem bons acertos em diversos aspectos, porém é mais do mesmo, já vimos essa idealização em diversas novelas, em outros filmes e aqui nada é novidade, apenas tem um tom mais artístico que o diretor soube usar bem, então quem gosta de filmes do estilo até vai enxergar algo a mais, mas quem esperar qualquer grande conflito, ou alguma reviravolta imponente (e comercial) sairá bem decepcionado. Sendo assim, fica minha opinião sobre ele, e eu fico por aqui hoje, então abraços e até logo mais.
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