Geralmente os filmes argentinos conseguem nos prender tanto que acabamos nem descobrindo nada antes, porém o novo longa da Netflix, "Crimes de Família" acaba desempenhando uma formatação meio que quebrada para tentar enganar no começo, mas logo pegamos a deixa e entendemos como tudo ocorreu, mas esse é o menor dos itens do longa, pois todos os atos são intensos, toda a desenvoltura familiar nos dois tribunais soam fortes, e ainda temos alguns momentos icônicos de quebra da vida comum que a protagonista levava. Ou seja, é um filme que até tem uma leve cara de novela, mas que encontrou rumos diferentes para passar como um bom drama, e que misturando estilos de filme de julgamentos e dramas familiares acaba resultando em algo com uma boa pegada interessante e direta, pois felizmente é curto, pois se alongasse um pouco mais iria cansar. Sendo assim, vale a conferida mesmo não sendo brilhante como outros longas do país, mas talvez um pouco mais de dinâmica resultaria em algo melhor.
O longa acompanha Alicia, uma mãe que se encontra desesperada para fazer com que seu filho Daniel, acusado de tentar matar a ex-mulher, não seja preso. Durante o processo, Alicia acaba descobrindo algo que mudaria o rumo de sua vida para pior.
Ainda não vi o filme anterior do diretor Sebastián Schindel que também está na Netflix (não teve tantas críticas positivas, mas vou arriscar em breve para ver o estilo dele), pois aqui é notável que ele gosta de tentar encobrir seus mistérios jogando com ordens cronológicas meio que abertas, pois o mistério todo do julgamento demora demais para acontecer, e talvez uma ordem direta daria um fluxo até melhor para o longa, mas ao optar pelas quebras acabamos sentindo um pouco mais do envolvimento familiar, nos envolvemos um pouco mais dentro do mistério, para aí ele nos apresentar toda a loucura que ocorreu, como ocorreu, e claro o desenrolar de um julgamento até que estranho demais. Dito isso, o diretor mostrou um tema que é complexo de se julgar, pois envolve relações entre mãe e filho, patroa e empregada, marido e esposa, abusos, e muito mais, que daria para discutir cada um e arrumar diversas confusões com cada um tendo sua opinião sobre cada caso, mas como o foco ficou em cima das atitudes da matriarca da família, que vê seu mundo desabar mesmo depois de ter feito tudo o que foi possível, o resultado até funciona, mesmo sem ser algo chocante de ver, e assim sendo o diretor ao menos não errou, pois fui conferir esperando muito mais de um longa argentino do estilo, e ele não entregou nem metade do que esperava ver.
Sobre as atuações diria que Cecilia Roth conseguiu segurar bem a dramaticidade de sua Alicia, de modo que cada ato seu tem um peso diferente, desde o desespero no começo para tirar o filho da prisão, depois as reuniões com as amigas ricas segurando o deboche de tudo o que está ocorrendo na sua vida, até chegarmos nos julgamentos e suas declarações, de forma que sempre imponente de ares, a atriz mostrou sempre um semblante bem fixo, e acaba agradando bastante, mesmo que seu estilo seja daqueles que não empolguemos tanto, e assim acerta bem do começo ao fim. Sabia que já tinha visto Yanina Ávila em outro filme, e se em "Uma Espécie de Família" a atriz se entregou com desespero, aqui com um estilo mais fechado, com medo de tudo, exagerando até muito com uma personalidade seca, acabou entregando uma Gladys bem simples e certeira, que não se destaca muito pelos diálogos, mas suas dinâmicas foram funcionais e bem encaixadas. Quanto aos demais, tivemos uma dramaticidade exagerada no depoimento de Benjamín Amadeo, ao ponto de chegarmos até a ficar com pena de seu Daniel por alguns minutos, e o ator ainda teve alguns outros bons momentos, funcionando bastante, enquanto Miguel Ángel Solá trouxe para seu Ignácio algo seco demais, que mostrou até um certo cansaço da esposa e da família, mas sem fluir muito, enquanto os demais apareceram rapidamente, tiveram uma ou duas cenas mais marcantes, e só.
Visualmente o longa brincou bastante com o ambiente de classes, mostrando desde o apartamento luxuoso com a protagonista fazendo ioga em casa com professor particular e amigas com cafezinho chique depois, mostrou o cantinho recluso da empregada e suas atitudes, mostrou a casa simples da ex-nora em um bairro afastado, contrapôs situações com ônibus e táxis, deu detalhes de objetos cênicos para realçar bem cada momento, e claro, usou bastante do ambiente jurídico, com dois julgamentos bem imponentes, algumas salas de depoimentos bem representadas, e uma funcionalidade visual bem encontrada para cada momento pela equipe de arte, ao ponto que nem se o filme fosse baseado em um livro teríamos tantos detalhes para observar, mas quiseram ser precisos e acertaram pelo menos.
Enfim, é um bom filme, que tem uma tensão bem trabalhada, cenas de julgamento bem intensas, e que trabalha temas de muita discussão, mas que não vai a fundo em nenhum deles, e o resultado acaba sendo apenas bom. Não diria que seja daqueles filmes argentinos que amamos ver, mas ainda assim é uma boa história e consegue prender o espectador durante toda a exibição, então até vale a conferida. Sendo assim, fica a dica e eu fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.
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