Sempre digo que o cinema argentino produz sempre os melhores dramas, e quando colocam Ricardo Darín então, o resultado já é semi-garantido, e o que vemos no longa "Neve Negra", que é mais um dos casos que não estrearam na cidade na época e agora vemos na plataforma da Netflix, é uma trama intensa, cheia de mistérios cercando o motivo real da morte do garoto, quem foi culpado e não assumiu a culpa, por quais motivos isolaram o irmão mais velho na floresta, e tudo mais, ao ponto que alguns até matarão o enigma bem antes, mas na maior parte sempre acaba faltando uma peça do quebra-cabeça. Ou seja, seria um tremendo filme daqueles de se chocar e impressionar que iríamos aplaudir muito ao final, correto? Infelizmente não, pois a trama se prende demais, não encaixa um ritmo forte, e mesmo sendo bem tenso não causa muito impacto como poderia, e com um elenco fortíssimo faltou uma química maior entre eles como casualmente aconteceria. Então você deve estar achando que é um filme ruim? De forma alguma, pois no final a intensidade funciona, e agrada, não sendo impressionante, mas faz valer a conferida.
A sinopse nos conta que acusado de matar seu irmão durante a adolescência, Salvador vive isolado do mundo no meio da Patagônia. Depois de várias décadas sem ter contato com seu irmão Marcos e sua cunhada Laura, o casal vai ao encontro de Salvador para convencê-lo a vender as terras que compartilham devido a uma herança. Neste local isolado e inacessível, o duelo entre os papéis de vítima e assassino voltam à tona.
Talvez a maior falha do longa tenha sido do próprio diretor Martín Hodara em não direcionar o foco logo de cara, misturando demais as cenas do passado com as cenas atuais, brincando com cortes secos e desenvolturas de mixagem cênica, que até tem um ganho bonito para o filme, porém é muito rápido notar que a culpa ali está meio que errada, que nem tudo o que vemos acontecer foi daquela forma que tentam mostrar, e assim ocorre a dispersão da trama toda. Claro que se fosse um filme linear causaria menos impacto ainda, mas talvez flashes mais diretos, ou até uma abertura mais confusa de tudo chamaria mais atenção, pois a protagonista passa o longa todo com a cara confusa, e ao final muda completamente, enquanto os demais praticamente se digladiam o tempo todo, sem muitas conexões ou enfrentamentos funcionais, ao ponto que no final fica bem claro, mas que o diretor poderia ter feito vértices mais fortes, que mudaria tudo, poderia, e quem sabe o filme ficaria ainda mais tenso e incrível de ver.
Sobre as atuações, sem dúvida alguma a intensidade de enfrentamento de Leonardo Sbaraglia e Ricardo Darín é daquelas que sentimos o conflito, e torcemos pela briga, pois é notável que alguém ali está escondendo algo, e não quer que seja revelado de forma alguma, ou seja, ambos os atores são incríveis e se doaram demais para seus Marcos e Salvador, um com mais abertura por estar com a esposa, cheio de flashes na cabeça, outro já mais rude por ter sido abandonado, com mais dureza em tudo o que faz, e que com uma intensidade bem colocada de ambos acabam acertando do começo ao fim em tudo, e que se o filme tivesse ajudado mais, o resultado seria incrível. Laia Costa ficou muito em cima do muro com sua Laura, de forma que parecia perdida em todas as cenas, fazendo muitas caras de dúvidas e de falta de sentimento, até chegar no final e expressar algo que ninguém nem imaginaria, um estilo de rancor forte, ou saberá o que estava pensando, ou seja, foi estranha de ver, e no pôster então está pior ainda. Quanto aos demais, todos os personagens jovens foram bem colocados, trabalharam envolvimentos duros e fortes, mas sem muitos destaques, mas nada que desaponte em momento algum, valendo pela intensidade cênica, e pelos atos em si, e além deles ainda tivemos boas participações de Dolores Fonzi como uma Sabrina completamente maluca e internada, e um Sepia bem imponente e trambiqueiro vivido por Federico Luppi, ou seja, todos foram muito bem em tudo.
Visualmente o ambiente em si é mais tenso que toda a história, tem um clima forte no meio de uma floresta repleta de muita neve na Patagônia, armas rústicas, figurinos fortes, carros bem rústicos também e toda a amplitude de uma força na casa que viveram quando mais jovens, da caçada em si, dos cômodos bagunçados, e tudo mais, e claro mais neve, mais tempestade, aonde os ânimos só vão ficando piores conforme a conversa se desenrola, ou seja, o cenário faz parte da situação e chama muita atenção.
Enfim, é um filme bem interessante que até poderia ir mais além na montagem para criar mais tensão, mas ainda assim vale muito a conferida, e certamente quem gosta de um bom drama argentino irá curtir demais toda a história. Sendo assim recomendo o filme, e fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.
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