O longa nos mostra que em uma fazenda isolada em uma região remota do Cantão do Jura, onde Pauline e Alex estão transformando em realidade seu sonho de viver de modo completamente autossuficiente e em harmonia com a natureza. Seus projetos de vida estão selados pelo amor e pelo trabalho comum. Finalmente, estão prontos para alcançar sua total independência, mas a chegada de Samuel, que vem instalar um aerogerador, transtorna profundamente Pauline, abalando o casal e seus valores.
A diretora Bettina Oberli trabalhou até que bem a ideia do conceito natural autossuficiente, deu ares de família bem feliz entre os protagonistas no começo que mesmo após uma caçada noturna no meio de um dilúvio ainda teve disposição para uma boa noitada, e soube dar o ar de quebra bem trabalhado de olhares, de toques e de tudo mais na virada do filme, e isso tudo com muita sutileza para não pesar a beleza de seu filme, que mesmo nos atos mais intensos tinha uma abertura meio poética para tudo, e assim o resultado ficou sempre parecendo faltar com um algo a mais. Claro que está bem longe de ser algum tipo de filme ruim, mas faltou intensidade nos momentos de raiva, pois mesmo quando o marido descobre a traição ele fica com a voz mansa, e no ato que parecia que iria ter alguma grande explosão, a doçura é tomada e revirada, ou seja, a diretora passou a mão leve demais no roteiro, e deixou tudo muito sereno, mesmo com tudo o que tinha nas mãos para dar intensidade.
Sobre as atuações, Mélanie Thierry trabalhou bem os ares de sua Pauline, sempre serena, sem explosões (claro tirando seu ato rebelde), com dinâmicas bem pautadas e intrigantes, ao ponto que não vemos sua mudança forte de estilo, e até chegamos a duvidar igual ela fala no final para o outro protagonista de sua coragem, mas ainda assim a atriz fez bem seu papel. Pierre Deladonchamps trouxe para seu Alex algo quase que utópico, daqueles que acreditam até em bruxos e tudo mais para manter a essência natural ao máximo, e chega a ser absurdo o estilo do personagem, mas o ator soube conduzir tudo com uma naturalidade que acaba agradando e convencendo ao menos. Já estamos acostumando a ver Nuno Lopes em longas, pois se na semana passada estreou filme na Netflix, agora o vemos novamente como um amante destruidor de rotinas, e aqui seu Samuel é simples de atitudes, mas que com uma bebida a mais já ficou imponente e cheio de aberturas, ou seja, foi bem como sempre. A jovem Anastasia Shevtsova até teve bons olhares com sua Galina, mas é a típica personagem que acaba jogada na trama sem muita função, e assim sendo não vemos muita desenvoltura nem na personagem, nem na atriz, ao ponto que participou apenas de tudo. Quanto aos demais, temos um leve destaque para imponente Audrey Cavelius com sua Mara, mas sem muito o que explodir, afinal não lhe foi dado espaço.
Visualmente a locação é belíssima, no meio do nada, apenas com a plantação e os animais da fazenda, uma casa simples, sem uso praticamente da energia até chegar a energia eólica da própria locação, com uma bela turbina eólica montada no jardim com todo o barulho das pás ao vento, ainda tivemos muita fumaça para representar a neblina na beira de um penhasco, e ali talvez fazer a virada de emoções, uma discoteca para a bebida florescer ainda mais o turbilhão, e animais morrendo sem remédios, ou seja, uma produção básica, barata e bonita, que até funciona, mas não surpreende.
Enfim, é um filme simples e bonito, que até traz ares diferentes dentro do roteiro, mas que não chega a ser nada surpreendente, ao ponto que conferimos, gostamos da ideia, mas logo mais nem lembraremos muito do que foi mostrado, e assim o resultado nem vale muito a indicação. Bem é isso pessoal, o filme fica em cartaz na plataforma SESC Digital até as 20hs do dia 01/09, então quem quiser conferir corra, pois depois não sei quando aparecerá novamente por aqui. Então abraços e até logo mais, pois volto em breve com mais filmes do Panorama Digital de Cinema Suíço.
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