O longa nos conta que na noite de 29 de janeiro de 1990, pouco antes do início da reconstrução democrática do Chile, cinquenta presos políticos escaparam da cadeia pública de Santiago por um túnel que 24 militantes da Frente Patriótica Manuel Rodríguez (FPMR) cavaram durante 18 meses, 80 metros de comprimento com ferramentas rudimentares como colheres, garfos e uma única chave de fenda; escondendo 55 toneladas de sujeira dentro da penitenciária. Nem os presos comuns das celas próximas, nem os policiais que os vigiavam diariamente descobriram o plano que levaria 49 presos à liberdade em uma das fugas mais surpreendentes da história do crime chileno.
Como de praxe nos filmes originais da Amazon, o diretor estreante em longas de ficção David Albala foi bem direto na composição da trama escrita por diversos roteiristas, mas claro que sendo montado em cima de uma história real nem foi preciso inventar muito, apenas dando o norte ficcional para que tudo ficasse mais intrigante de ver, e essa foi a grande sacada do diretor, pois o filme poderia ter ido para um norte político mais chato que muitos não gostam de ver, e com isso seria daqueles exibidos apenas em festivais e não impactaria tanto, mas da forma feita o longa acabou recaindo para algo de fuga de presídio, bem montado pelas dinâmicas em si, causando toda a claustrofobia de um buraco pequeno, tendo claro os dedo-duro, aqueles que só estão na missão para ajudar, os líderes, o engenheiro e tudo mais, que bem encontrado por cada personagem, o resultado acabou ficando gostoso de ver, e mostrou que até tem grandes chances de aparecer mais em premiações grandes. Ou seja, o diretor foi coerente em diversos momentos, e principalmente escolheu a melhor forma para que seu filme não ficasse chato, e que mesmo sendo bem longo, acabasse envolvendo do começo mais formatado, até o final corrido e impactante.
Algo que é engraçado do filme é que mesmo tendo muitos personagens/atores, o filme não foca muito em cima de quase nenhum, deixando a proposta mais aberta para que todos fizessem um pouco mais e se entregasse para chamar atenção, mas claro que o destaque fica em cima de Roberto Farías com seu Rafael Jímenez que praticamente tem todas as conversas de formações, tem as maiores conexões com o partido fora da prisão, e o ator foi intrigante em todos os pontos-chaves da trama, conseguindo marcar as cenas e ir muito bem também. Outro que parecia que chamaria até mais atenção foi Benjamín Vicuna com seu León Vargas, por ser meio que um líder para todos ali, ser o mais conhecido, mas foi um personagem meio que introspectivo demais por ter na história perdido a família, então o ator/personagem ficou sempre de cabeça baixa, fazendo ações mais elaboradas, e não indo muito a fundo. Ainda tivemos bons momentos com Diego Ruiz com seu Óscar Lira, que para a história foi importante por ser um dos grandes arquitetos de planos contra Pinochet, mas seus atos para a fuga foram meio que jogados demais, e com isso o ator não se destacou tanto. Gonzalo Canelo ficou com seu Bigote o tempo todo meio que estranho para os lados da cadeia, mas próximo ao final suas cenas foram bem usadas, e o ator conseguiu trabalhar bem tanto olhares, quanto diálogos e atitudes, agradando bem. Eusebio Arenas entregou um Pituco bacana de ver nos atos junto do pai, afinal era um jovem médico famoso, e ao entrar para o partido acabou sendo preso, e dentro da prisão ajudou muito os que sofreram torturas e tudo mais, sendo bem marcantes suas cenas. Quanto das mulheres ambas as protagonistas se entregaram bem nas cenas mais chamativas, tendo destaque claro para Francisca Gavilan com sua Paulina que foi mais para a ação mesmo, mas Amparo Nogueira também teve bons atos como a advogada do partido Pizarro. Como disse todos foram bem em cada um dos atos, então passaria muitos momentos destacando os poucos atos de cada um, mas com um elenco de poucos atores conhecidos, ao menos por aqui, o resultado foi bem trabalhado e funcional.
No conceito visual, acredito que usaram uma cadeia real (talvez desativada) para dar uma dinâmica maior, e não precisar construir um ambiente daquele tamanho, mas certamente as cenas fechadas nas celas, no telhado e no túnel em si foram bem grandiosas e montadas em locações próprias tanto para os movimentos das câmeras funcionar, dar as devidas nuances e ambientações, e o resultado foram cenas incríveis, cheias de elementos cênicos bem presentes como papel e ovo para criar a "massa corrida" para tampar os buracos e enganar os guardas, muita terra em sacos, e claro um figurino sempre sendo sujo e lavado, ou seja, a equipe de arte teve um belo trabalho que resultou em momentos claustrofóbicos muito bem feitos e envolveu do começo ao fim.
Enfim, é um filme bem bacana, que quem gosta de tramas políticas vai gostar, mas principalmente quem gosta de longas com fugas ousadas, com um plano maluco em execução e claro bons desenrolares acabará se divertindo bastante, ou seja, é o famoso artístico que agrada o público comum também, valendo a indicação e conferida. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.
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