Bruno Manser - A Voz da Floresta (Bruno Manser - Die Stimme des Regenwaldes) (Paradise War: The Story of Bruno Manser)

9/07/2020 01:59:00 AM |

Biografias geralmente resultam em longa cansativos e sem muita desenvoltura, porém em alguns casos acabamos vendo coisas tão envolventes e necessárias que o resultado acaba indo tão além que emociona pela beleza visual, pela causa e tudo mais que a pessoa pregava, ou seja, assistir ao filme "Bruno Manser - A Voz da Floresta" acaba sendo daquelas sessões que entramos com uma cabeça e saímos com outra completamente diferente, pois consegue nos mostra um ativismo muito mais preciso, sem toda aquela dramaticidade que vemos em grupos conhecidos, e que principalmente traz a experiência real de alguém que está defendendo o que sabe, o que vivenciou, uma vida em cima de uma causa, e não aqueles que as vezes gritam, pulam, fazem shows e tudo mais por algo "simbólico" que nem sabe o que é realmente. Ou seja, conhecemos mais como foi o processo do ativista não como um homem burocrata de classe média que criou um fundo e saiu defendendo aleatoriamente algo sem conhecer, mas sim como foi sua experiência de vida junto dos Penan, como foi sua defesa da floresta tropical junto dos povos daquelas terras, e claro seus momentos mais teóricos também, e com isso o filme acaba sendo bonito tanto visualmente, quanto pela essência passada, indo muito além de um longa simples sobre uma pessoa, acabando envolvendo épocas, dinâmicas e tudo mais que possa agradar do começo ao fim, valendo totalmente a experiência.

O longa nos situa em 1984. Em busca de uma experiência que vá mais além da superficialidade da civilização moderna, Bruno Manser viaja pelas selvas de Bornéu e a encontra com a tribo nômade Penan. É um encontro que muda sua vida para sempre. Quando a existência dos Penan é ameaçada pelo desmatamento implacável, Manser assume a luta contra a exploração madeireira com uma coragem e determinação que o torna um dos ambientalistas mais renomados e confiáveis de sua época.

É interessante observar o trabalho do diretor Niklaus Hilbers aqui, pois diria que o que vemos é quase um documentário formatado como uma biografia, e isso é algo lindo de ver, de modo que a trama embora indo por um outro vértice até nos lembra um pouco nosso longa nacional "Xingu", só que na versão nacional tínhamos algo como desbravar o país desconhecido, mas que ao termos todo o envolvimento com os indígenas, a história acabava fluindo para outros rumos, enquanto aqui no longa suíço, o diretor já mostrou que o jovem explorador quis mudar sua vida e ao viver com a tribo Penan acabou virando um ativista ferrenho contra o desmatamento, e brigou muito pelos direitos de terras da tribo. Ou seja, até vemos muitas semelhanças visuais, mas isso não é o caso, e para apenas na formatação, então aqui o diretor foi certeiro em envolver o espectador, criar toda a situação, e por uma briga interessante que muitas vezes acabamos falando demais sobre ativismo, mas sem saber a real causa como alguém que vivenciou tudo, geralmente acabamos apenas seguindo uma pessoa qualquer, enquanto aqui a causa foi muito bem mostrada e o filme acabou tendo uma simbologia bem construída, sensações bem imponentes, brigas fortes e diretas entre políticos não apenas da Malásia, mas sim do mundo todo, e claro atuações tão convincentes no meio da selva que diria que o diretor realmente levou todo mundo para o meio do mato, e arrumou a tribo inteira para ficar convincente, pois em momento algum chegamos a pensar que são atores.

Como acabei de falar, o elenco deu um show de interpretação tão bem trabalhado que pareceram ser da tribo Penan, e claro o protagonista também teve um ar sereno tão bom para conduzir a trama, que o resultado foi muito além, ou seja, perfeitos. Sven Schelker conseguiu dominar seus atos com muitas virtudes, fazendo com que seu Bruno fosse sereno, direto no ponto, e principalmente conseguisse convencer tanto como uma pessoa que decidiu mudar de vida, quanto um ativista real desesperado por uma causa, além de que suas cenas sempre foram amplas, sem fechamentos jogados, e agradando demais em tudo. Nick Kelesau foi tão coerente como o líder dos Penan Along Sega, que acabamos nos envolvendo demais com ele da mesma forma que o protagonista, ou seja, o ator soube fechar a tribo para si, passar as mensagens emotivas com serenidade, e ainda dar o tom perfeito para cada momento, soando correto demais. Da mesma forma Elizabeth Ballang trouxe para sua Ubung um ar emotivo e charmoso, que até imaginávamos desde o começo que iria acontecer, e a atriz conseguiu sempre jogar o olhar distante bem limpo de trejeitos, agradando e chamando a atenção, ao ponto de seduzir também o espectador, e funcionar demais. Matthew Crowley foi direto demais como o jornalista Carter-Long, tendo cenas fortes e bem coerentes, e principalmente com personalidade, ao ponto que acaba chamando até mais atenção que o protagonista em alguns atos, ou seja, caiu bem para o papel, porém não foi tão desenvolvido, mas agradou bastante. Ainda tivemos muitos outros bons atores, cada um sendo direto no que precisava, e dando funcionamento para a trama, mas não sendo necessário destacar tanto, e mostrando que o diretor soube trabalhar bem tanto com atores de nome no país, quanto com estreantes que acabaram chamando até mais atenção do que ele imaginava.

Como o longa foi bem filmado em Bornéu, é claro que o ambiente em si já era algo para dar um realce lindíssimo que a equipe de arte conseguiu passar, porém o diretor de fotografia fez cenas de tirar o ar, com belas clareiras iluminadas no meio da floresta, valorizou as pequenas cabanas que a tribo fazia, brincou com elementos e ambientes, fazendo a trama ter um luxo que foi muito além do que se imaginava. E mesmo nas cenas na cidade, conseguiram passar o bom tom de época, indo em reuniões no aeroporto, ou na sede da ONU, com uma formatação tão condizente que chega a ser difícil não pensar que documentaram tudo para a equipe saber exatamente como copiar, mas não é tudo bem inventivo, através de materiais colhidos por pessoas que viveram com Bruno, e assim o resultado visual foi algo de aplaudir realmente.

Enfim, é um longa que vale pela muito tanto pelo visual, quanto pela história, e ainda mais pela reflexão passada, que só não é melhor pela duração gigante de 142 minutos, que daria para o diretor ter cortado alguns momentos, mas que acaba funcionando e não cansando, ou seja, é um filme quase perfeito que valeria um 9,5 fácil se tivesse trabalhando com notas quebradas, mas como não foi dessa vez, e também por não ter me emocionado muito (algo que também poderia ter sido melhor trabalhado com um corte mais incisivo em alguns momentos), vou dar um 9, mas recomendando demais que todos corram para conferir, afinal por ser o longa de fechamento do Panorama Digital do Cinema Suíço, só ficará disponível gratuitamente até as 20hs de hoje (07/09), na plataforma do SESC Digital nesse link, e depois sabe-se lá quando aparecerá por aqui, então aproveite e confira. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.


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