Netflix - Muito Amor Pra Dar (Corazón Loco) (So Much Love To Give)

9/24/2020 10:46:00 PM |

Sabemos bem da qualidade das comédias e dramas argentinos, mas geralmente alguns tem tanta cara de algo novelesco que ficamos com medo de dar play e se arrepender, porém na maioria das vezes sabemos que o resultado irá nos divertir bastante mesmo que apelem um pouco. Mas costumo dizer que são bem raros os exemplares ruins que chegam até nós, pois eles mesmos fazem questão de nem soltar para fora do país, e sendo assim a nova trama da Netflix, "Muito Amor Pra Dar", é bem trabalhada pelo trio de atores, tem cenas levemente cansativas, mas na maior parte do tempo acabamos rindo demais das trapalhadas do protagonista para manter seus dois casamentos, separados por quase 500km de distância, ou seja, literalmente uma viagem maluca toda semana nos é mostrada, e claro, quando se é descoberto, a bagunça começa a ficar ainda pior. Sendo assim, se você curte uma trama bem simples, porém divertida na medida, vale a conferida, mas não espere muito também, afinal não é nenhuma obra de arte também.

O longa nos mostra que Fernando Ferro, um prestigioso traumatologista, pode ser considerado um cara feliz. Todos os dias, quando ele se levanta, uma mulher que o ama o abraça, toma o café da manhã com a família e parte para um trabalho respeitável. Ele tem uma vida perfeita. Bem, quase perfeita. Porque na verdade ele não tem uma vida, mas duas. Dois carros, dois empregos, duas casas, filhos e cachorros. De segunda a quinta-feira, sua esposa é Paula. E de sexta a domingo, Vera. Mas o amor é mais forte e ele ama as duas loucamente. E ele está disposto a fazer o que for preciso para compartilhar a vida com suas mulheres. Elas não sabem, mas um dia descobrem. E também estão prontas para tudo.

O diretor Marcos Carnevale conseguiu criar uma boa dinâmica em cima do seu texto junto do ator Adrián Suar, ao ponto que tudo flui bem, e mesmo sendo repetitivo vermos toda hora os dias da semana aparecendo na tela, acabamos criando um bom sincronismo na mente de forma a entender tudo o que desejavam passar. Claro que a trama funciona bem pelas boas sacadas e trapalhadas que de cara já sabíamos que não daria certo, e que uma hora ia dar merda, ao ponto que ficamos só esperando quando vai ser. Ou seja, o filme diverte, é simples, rápido e eficiente, ao ponto que mesmo se passando em duas cidades e no meio da estrada, tudo é bem moldado, e o diretor certamente não teve trabalho nenhum, de forma que a trama seria acertada até para uma peça bem montada, e assim nem precisaria de tantos coadjuvantes ou ambientações, funcionando apenas com o trio principal, mostrando a potência do texto sozinho.

Já que falei no trio principal, é fato vermos a desenvoltura de Adrián Suar com seu Fernando, ao ponto que sendo o autor do texto, ele já sabia exatamente como passar propriedade para o personagem, e conseguiu ser ao mesmo tempo cínico e coeso nos atos e sentimentos, de forma que nos divertimos a cada cena sua com a "im"possibilidade de sequer imaginarmos alguém tão canalha que seu amigo pergunta qual sua patologia, pois é impossível tudo o que faz com uma normalidade fora de limites, ou seja, o ator deu show em todos os atos, até exagerando sem precisar, mas funcionando bem. Gabriela Toscano já foi menos ousada de estilos, e sua Paula acaba fluindo mais para a mulher simples, atrapalhada demais, que acaba fazendo diversas cenas desnecessárias no começo, mas que acaba tendo efeito para mostrar sua ingenuidade no final, e assim o resultado de seus trejeitos são sinceros ao menos. Já Soledad Villamil mostra uma mulher mais imponente com sua Vera, daquelas que pensam rápido demais em tudo, e vingativa na medida certa para cada momento, e a atriz se portou bem, com muita altivez e agradando pelas nuances fortes bem colocadas, sem precisar ir para outros rumos. Quanto aos demais, os filhos foram enfeites cênicos, e acaba sendo necessário as cenas de Alan Sabbagh com seu Gonzalo e Darío Barassi com seu Nacho apenas para os encaixes de cenas, ao ponto que o primeiro nos faz rir pelo desespero de não conseguir viver com uma mulher só e descobrir que o amigo tem duas, enquanto o outro pela ajuda no plano mirabolante de captura do protagonista, mas nada que vá muito além.

Como disse o filme em si poderia facilmente ser montado como uma peça teatral, ou seja, nem teria necessidade de grandes cenários, de forma que usaram as casas e os apartamentos mais para mostrar os trambiques do protagonista, os dois carros, as mudanças de roupa e estilo na estrada, e claro os hospitais apenas para que a formatação funcionasse bem, mas de certa forma o trabalho da equipe de arte acaba nem sendo sentido, pois tirando a cena mirabolante de captura, aonde cada detalhe cênico contou bem, desde a montagem do guincho, a preparação das câmeras, o remédio, o carro veterinário e tudo mais, ou seja, ali sim a equipe trabalhou bem, enquanto no restante ficaram dormindo.

Enfim, é um filme bem divertido, que quem gosta de uma boa comédia argentina irá rir do começo ao fim em cada momento, e que mesmo não sendo uma obra gigante daquelas que estamos acostumados a ver vindo do nosso país vizinho, resulta em algo que vale a conferida, e claro a indicação. Bem é isso pessoal, eu fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.


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