O longa nos situa na zona rural do sul de Ohio e West Virginia, seguindo um elenco de personagens bizarros e atraentes do final da Segunda Guerra Mundial até a década de 1960. Lá está Willard Russell, atormentado veterano da carnificina no Pacífico Sul, que não consegue salvar sua bela esposa, Charlotte, de uma morte agonizante de câncer, não importando quanto sangue sacrificial ele despeje em seu "tronco de oração". Lá estão Carl e Sandy Henderson, um casal de assassinos em série, marido e mulher, que percorrem as rodovias americanas em busca de modelos adequados para fotografar e exterminar. Lá está o pregador que manipula aranhas, Roy, e seu companheiro virtuoso e aleijado, Theodore, fugindo da lei. E no meio de tudo isso está Arvin Eugene Russell, filho órfão de Willard e Charlotte, que cresce para ser um homem bom, mas também violento por seus próprios méritos.
Diria que o diretor Antonio Campos pegou o roteiro do filme, olhou tantos momentos importantes para conectar e certamente pensou em uma série, pois facilmente o longa tem estilo e texto para algo de uns três a quatro capítulos pelo menos, pois mesmo que tudo se conecte de alguma forma pelos momentos em si, a trama é bem aberta com cada personagem tendo o seu diabo trabalhando em sua mente, para fazer de seu culto, de sua foto, de sua transa algo para extravasar e sacrificar algo em prol de algo, ou seja, é daquelas tramas que te instiga a ir além com os personagens, aonde todos se apresentam, fazem algo e já praticamente saem de cena, que não é de fácil aceitação direta em momento algum, mas que principalmente consegue envolver e passar sua mensagem, afinal volto a frisar que não é um longa simples e direto, mas mesmo assim não é nada que seja necessário de explicações, pois as desenvolturas acontecem, o símbolo é funcional, e o resultado surpreende, de modo que quem ama um longa mais introspectivo, com cenas fortes e toda uma referência irá amar o estilo que o diretor acabou entregando, mas que quem curtir uma ação mais direta irá ficar se perguntando que raios de filme viu. Ou seja, nem posso dizer que esse é o estilo do diretor, afinal não lembro de ter visto nada dele, mas ele pegou um livro brilhante que foi muito premiado, e que com um bom desenvolvimento talvez fará com que seu filme também seja bem premiado da mesma forma.
Quanto das atuações, chega a ser até difícil pensar na folha de pagamento do longa com tantas estrelas juntas, e o melhor é que todos estão muito bem em cena, com sotaques precisos e cenas muito bem trabalhadas que acabam chamando atenção para cada personagem (e que dificilmente os produtores imaginarão quem indicar como coadjuvante nas premiações). Dito isso, é claro que temos de começar falando dele, o garoto Tom Holland que a cada dia se entrega mais como alguém dinâmico, de múltiplas facetas, e que aqui conseguiu entregar para seu Arvin uma personalidade conturbada com tudo o que viveu, mas que soube se expressar com olhares fortes, chorar bem e ainda vivenciar cada momento como algo único, agradando demais. Robert Pattinson entregou seu pastor Preston com muita vivência e que de uma forma bem canastrona acaba fazendo atos fortes e diretos de muito pecado para alguém da igreja, porém sendo preciso de movimentos e atitudes, ao ponto que sua cena junto de Holland quase no fim do longa certamente vai ser daquelas que podem lhe levar para algumas premiações. Bill Skarsgård é daqueles atores que vemos na tela e ficamos esperando de tudo, pois ele é irreverente, tem trejeitos saindo por todos os lados e agrada demais com seu Willard, sendo imponente e forte na medida para cada um dos atos. Sebastian Stan entregou bem o xerife Lee, porém seu personagem é usado sempre em segundo plano, e seus atos não atingiram bem tudo o que poderia acontecer, de forma que certamente no livro ele fez muito mais coisas do que no filme, e assim o ator apenas apareceu irreconhecível na tela com um visual completamente diferente de todos os seus últimos longas. Jason Clarke ultimamente tem pegado alguns papeis bem difíceis e dominado bem, e aqui seu Carl é intrigante, meio que um cafetão assassino com um fetiche por fotos eróticas com caroneiros, e ele entrega muito bem tudo ao ponto de envolver e chamar muita atenção. Harry Melling de cara você já fica com medo do ar psicótico de seu Roy, ao ponto de termos as cenas mais impactantes com sua loucura, e o ator foi incrivelmente preciso nas cenas, agradando demais. É engraçado pensar, mas é praticamente um filme aonde os homens se destacaram, de forma que todas as mulheres foram muito bem em cena, fizeram seus atos amplos bem expressados, mas sempre dando gancho para que cada um dos papeis masculinos se destacasse mais ainda, ao ponto que vale claro dar destaque para Eliza Scanlen com sua Lenora religiosa demais, acreditando no papo do famoso pastor, e Riley Keough com sua Sandy usada ao máximo pelo cafetão/marido, mas sempre com olhares lúdicos e uma beleza sem tamanho. E claro preciso dar um belo destaque para o garotinho Michael Banks Repeta, que fez Arvin quando criança, e que dominou demais cenas fortíssimas com ótimos trejeitos, mostrando um potencial tremendo.
Visualmente o longa conseguiu passar tanto o ambiente simples das cidades interioranas e seus bizarros moradores, como deu um tom denso para cada momento da trama, ao ponto que tudo é detalhadamente mostrado como realmente nas páginas de um livro, desde as armas usadas para cada morte, para cada ato sexual, para cada representatividade de alimentos no culto, e claro funcionando muito como símbolos para vermos cada personagem sob uma ótima, o que acaba sendo lindo de ver, pois a equipe de arte caprichou nas locações, nos figurinos e em cada representação cênica, como acaba dando uma ambientação certeira para cada momento, ao ponto de ser daqueles filmes que conseguimos ver motivo para cada pecinha, e o resultado certamente virá mais pra frente nas premiações do setor visual.
Enfim, é um filme bem interessante, porém lento de estilo e de dinâmica, que até chega a cansar por ser um pouco longo, de forma que acaba sendo daqueles que muitos irão odiar logo de cara, outros irão conferir inteiro sem entender nada, haverá aqueles que farão mil discussões e postagens explicativas, e claro terá aqueles que apenas curtirão como um bom filme tenso e funcional que ele é. Ou seja, é um longa que vale a conferida, que agrada muito visualmente, mas que veremos sendo mais felicitado por críticos e nas premiações mundo afora do que pelo público realmente, pois muitos irão achar ele estranho e sem sentido, e não estarão muito errados se não aprofundarem em toda a temática religiosa e de problemas de guerra que a trama trabalha. Sendo assim, recomendo ele com tantas ressalvas que alguns vão pensar duas vezes antes de assistir. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.
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