Netflix - The Boys In The Band

10/01/2020 12:23:00 AM |

Diria que conferir o longa da Netflix, "The Boys In The Band", seja conhecer um pouco mais de um mundo que sabemos pouco, mas que vemos muito acontecer seja tanto como algo discriminatório, quanto como algo forçado as vezes, e isso é algo completamente válido da trama, e que funcionou exemplarmente na peça teatral ao ponto de ganhar um Tony Award que é o prêmio máximo do teatro, porém para um filme acabou ficando teatral demais, forçando os diálogos, criando um ambiente digamos até que insalubre de dinâmicas, de forma que tudo ali soa até artificial demais, não condizendo a realidade de muitos homossexuais. Claro que é um filme importante pela essência passada, muitos irão se identificar com um ou mais personagens, mas poderiam certamente ter feito algo mais cinematográfico e menos teatral, para que o filme tivesse uma desenvoltura melhor, e assim sendo, como costumo dizer, levar uma peça para o cinema só funciona se souberem ampliar, pois manter no mesmo tom, é falhar demais.

O longa nos situa em 1968, na cidade de Nova York - quando ser gay ainda era considerado melhor manter a portas fechadas - aonde um grupo de amigos se reúne para uma festa de aniversário barulhenta hospedada por Michael, um roteirista que gasta e bebe muito, em homenagem a Harold de língua afiada. Outros participantes da festa incluem Donald, ex-paixão de Michael, agora atolado em auto-análise; Larry, um atrevido artista comercial que mora com Hank, um professor que acaba de deixar sua esposa; Bernard, um bibliotecário que anda na ponta dos pés em torno de códigos de amizade repletos de Emory , um decorador que nunca se detém; e um traficante ingênuo contratado para ser o presente de Harold pela noite. O que começa como uma noite de drinques e risos é interrompido quando Alan, o companheiro de quarto de faculdade de Michael, aparece inesperadamente e cada homem é desafiado a confrontar verdades enterradas há muito tempo que ameaçam os alicerces do forte vínculo do grupo.

Sei que o diretor Joe Mantello quis manter ao máximo o roteiro e a dinâmica de Mart Crowley, e claro ao filme dos anos 70, porém com toda a tecnologia e amplitude que o tema tem hoje bem mais aberto, talvez a ideia de explorar um algo a mais funcionaria melhor, pois todos os personagens são bem interessantes, possuem estilo e vértices completamente prontos para uma boa execução, porém em uma festa mais impactante, uma brincadeira mais funcional, e até mesmo uma gritaria mais centrada daria um impacto mais coerente e envolvente para que o público conhecesse os diversos tipos presentes ali, e claro, suas versões de amor. Porém, como a proposta foi ser mais seguro mesmo, alguns até podem gostar, mas acredito que a maioria irá mais se cansar de tudo, pois todo o chamariz dinâmico do começo morre ao chegar no apartamento.

Sobre as atuações, já que temos um filme praticamente 100% dialogado, o destaque é claro não podia ser outro, e Jim Parsons entrega um Michael imponente, cheio de cenas explosivas bem colocadas, e principalmente dominando toda a conexão com todos ao seu redor, sendo mais que o anfitrião da festa, mas sim um maestro das situações. Zachary Quinto trouxe para seu Harold a versatilidade cênica, com uma língua afiadíssima e direta em cada momento, mas calmo demais para tudo o que está rolando, ao ponto que seus respiros chegam a ser fortes e funcionais, mas cansam um pouco. Matt Bomer trouxe para seu Donald quase que um espectador em cena de tudo, e acerta por não soar forçado com tudo o que rola, chamando atenção e agradando bem. Robin de Jesús fez de seu Emory aqueles personagens escandalosos no máximo, que divertem, mas que acabam até irritando em certo momento. O casal vivido por Tuc Watkins e Andrew Rannells até chega a ser bem interessante de ver pelos opostos, de forma que a história de ambos entrega bons atos e faz com que seus Hank e Larry até valeriam um algo a mais no desenvolvimento da trama. A história fora do apartamento do Bernard de Michael Benjamin Washington é até melhor que seus atos ali dentro, mas o ator foi coerente nas emoções e acabou chamando atenção. Agora sem dúvida os pontos mais risíveis da trama ficaram a cargo dos atos bobos e ingênuos de Charlie Carver com seu Tex, mas certamente poderia ter ido mais além. E finalizando o elenco, Brian Hutchison deu um tom forte para seu Alan, com comentários e atitudes extremistas bem imponentes, e cenas que achávamos que até iriam para outro rumo, mas de certa forma o ator foi bem no que fez.

Visualmente o apartamento de Michael é cheio de elementos cênicos marcantes da época, com discos clássicos, quadros, roupas, objetos pequenos, abajures, luzes e tudo mais para dar o tom dos artistas dos anos 70 com suas casas com tudo e muito mais, de forma que a equipe compôs bem os elementos, fez tudo se enquadrar de forma bonita, mas é um palco quadrado sem muita profundidade e que tudo rola num único ambiente, e mesmo nas cenas fora dali, tudo é muito rápido, mostrando que a equipe nem quis ir muito além, valendo claro pelas cenas de Emory em seu baile cheio de brilho e Bernard com sua cena na piscina a noite, mas nada que impressione muito.

Enfim, é um filme que é bem feito dentro da temática, mas que merecia uma exploração muito maior, afinal elenco de ponta tinha, roteiro tinha, só ficou faltando o diretor ter um pouco mais de coragem para ir além, que aí sim seria um filme para recomendar de olhos fechados, porém da forma entregue, se fechar o olho dorme. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.


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