O longa nos situa em 1968, na cidade de Nova York - quando ser gay ainda era considerado melhor manter a portas fechadas - aonde um grupo de amigos se reúne para uma festa de aniversário barulhenta hospedada por Michael, um roteirista que gasta e bebe muito, em homenagem a Harold de língua afiada. Outros participantes da festa incluem Donald, ex-paixão de Michael, agora atolado em auto-análise; Larry, um atrevido artista comercial que mora com Hank, um professor que acaba de deixar sua esposa; Bernard, um bibliotecário que anda na ponta dos pés em torno de códigos de amizade repletos de Emory , um decorador que nunca se detém; e um traficante ingênuo contratado para ser o presente de Harold pela noite. O que começa como uma noite de drinques e risos é interrompido quando Alan, o companheiro de quarto de faculdade de Michael, aparece inesperadamente e cada homem é desafiado a confrontar verdades enterradas há muito tempo que ameaçam os alicerces do forte vínculo do grupo.
Sei que o diretor Joe Mantello quis manter ao máximo o roteiro e a dinâmica de Mart Crowley, e claro ao filme dos anos 70, porém com toda a tecnologia e amplitude que o tema tem hoje bem mais aberto, talvez a ideia de explorar um algo a mais funcionaria melhor, pois todos os personagens são bem interessantes, possuem estilo e vértices completamente prontos para uma boa execução, porém em uma festa mais impactante, uma brincadeira mais funcional, e até mesmo uma gritaria mais centrada daria um impacto mais coerente e envolvente para que o público conhecesse os diversos tipos presentes ali, e claro, suas versões de amor. Porém, como a proposta foi ser mais seguro mesmo, alguns até podem gostar, mas acredito que a maioria irá mais se cansar de tudo, pois todo o chamariz dinâmico do começo morre ao chegar no apartamento.
Sobre as atuações, já que temos um filme praticamente 100% dialogado, o destaque é claro não podia ser outro, e Jim Parsons entrega um Michael imponente, cheio de cenas explosivas bem colocadas, e principalmente dominando toda a conexão com todos ao seu redor, sendo mais que o anfitrião da festa, mas sim um maestro das situações. Zachary Quinto trouxe para seu Harold a versatilidade cênica, com uma língua afiadíssima e direta em cada momento, mas calmo demais para tudo o que está rolando, ao ponto que seus respiros chegam a ser fortes e funcionais, mas cansam um pouco. Matt Bomer trouxe para seu Donald quase que um espectador em cena de tudo, e acerta por não soar forçado com tudo o que rola, chamando atenção e agradando bem. Robin de Jesús fez de seu Emory aqueles personagens escandalosos no máximo, que divertem, mas que acabam até irritando em certo momento. O casal vivido por Tuc Watkins e Andrew Rannells até chega a ser bem interessante de ver pelos opostos, de forma que a história de ambos entrega bons atos e faz com que seus Hank e Larry até valeriam um algo a mais no desenvolvimento da trama. A história fora do apartamento do Bernard de Michael Benjamin Washington é até melhor que seus atos ali dentro, mas o ator foi coerente nas emoções e acabou chamando atenção. Agora sem dúvida os pontos mais risíveis da trama ficaram a cargo dos atos bobos e ingênuos de Charlie Carver com seu Tex, mas certamente poderia ter ido mais além. E finalizando o elenco, Brian Hutchison deu um tom forte para seu Alan, com comentários e atitudes extremistas bem imponentes, e cenas que achávamos que até iriam para outro rumo, mas de certa forma o ator foi bem no que fez.
Visualmente o apartamento de Michael é cheio de elementos cênicos marcantes da época, com discos clássicos, quadros, roupas, objetos pequenos, abajures, luzes e tudo mais para dar o tom dos artistas dos anos 70 com suas casas com tudo e muito mais, de forma que a equipe compôs bem os elementos, fez tudo se enquadrar de forma bonita, mas é um palco quadrado sem muita profundidade e que tudo rola num único ambiente, e mesmo nas cenas fora dali, tudo é muito rápido, mostrando que a equipe nem quis ir muito além, valendo claro pelas cenas de Emory em seu baile cheio de brilho e Bernard com sua cena na piscina a noite, mas nada que impressione muito.
Enfim, é um filme que é bem feito dentro da temática, mas que merecia uma exploração muito maior, afinal elenco de ponta tinha, roteiro tinha, só ficou faltando o diretor ter um pouco mais de coragem para ir além, que aí sim seria um filme para recomendar de olhos fechados, porém da forma entregue, se fechar o olho dorme. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.
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