Netflix - Kadaver (Kadaver) (Cadaver)

10/25/2020 10:52:00 PM |

Costumo dizer que o gênero terror é o que mais aceita propostas de todos os tipos, e que geralmente costumam entregar situações tão intensas para chocar que acabam esquecendo que a história antes de tudo precisa convencer o público para funcionar. Dito isso, o novo longa da Netflix, "Kadaver", até tem uma proposta ousada de uma peça que dá uma refeição para os desesperados num pós-desastre nuclear que estão sem comida nenhuma, mas que nem imaginam o preço que irão pagar por essa refeição ao participarem da interação completa da peça, porém faltou mais atitude para tudo, ou talvez um suspense maior para tudo, de forma que o final até é bem intenso, mas já acaba ali, o que é uma pena, pois poderiam ter causado bem mais em tudo, que certamente ficaríamos chocados e impressionados, ao invés de apenas sentir um pouco de nojo do que é mostrado. Diria que é um filme com uma proposta boa, mas que o diretor ficou com medo de ir além e ser barrado, mas quem sabe ele dê uma continuação para tudo, afinal a fala do antagonista é clara: somos sobreviventes aqui, junte-se a nós.

A sinopse nos conta que depois de um desastre nuclear, uma família faminta encontra esperança em um dono de hotel carismático. Atraídos pela perspectiva de um jantar grátis, eles descobrem que o entretenimento noturno confunde os limites entre o desempenho e a realidade. Eles acabarão como espectadores ou se tornarão o espetáculo?

Diria que faltou um pouco mais de experiência para o diretor e roteirista Jarand Herdal, pois aqui praticamente foi seu primeiro longa-metragem, e ele acabou entregando tudo rápido demais, ao ponto que não é criado nem um suspense realmente, não temos nenhuma dinâmica aonde os atores acabam sabendo um pouco mais de tudo, e quando tudo realmente ocorre, já acaba, ou seja, ele tinha de ter acelerado talvez algumas partes, e acontecido bem mais coisas após tudo explodir/ruir, pois aí sim saberíamos um pouco mais sobre alguns atores, envolveríamos mais com tudo, e até talvez torcêssemos para os protagonistas irem além, pois tudo ocorre sem uma direção envolvente, e isso é uma falha até que grave, pois a trama poderia chocar muito mais do que apenas uma refeição diferente, mas sim ir aos fundos de tudo o que ocorreu ali para que isso causasse algo a mais, e claro, o além dali. Ou seja, não digo em hipótese alguma que não gostei do que vi, tanto que já dei curtir no streaming, mas certamente algo a mais chamaria muito mais atenção.

Sobre as atuações, Gitte Witt até entregou uma Leonora interessante, expressiva e bem preparada para todos os momentos, porém a atriz exagerou um pouco na maioria dos atos ao ponto que em alguns atos acabou soando artificial demais, ou seja, poderia ainda ser forte de atitudes, mas talvez um tom a menos de força chamaria mais atenção e não seria falsa demais, tanto que mesmo mostrando que a personagem já foi uma atriz importante, aqui parece que ela está atuando também na peça. Thomas Gullestad também entregou um Jacob exagerado demais, mas a maior falha dele foi nos seus últimos atos parecendo quase um zumbi enfeitiçado, o que não era funcional para o momento, mas foi bem em muitas cenas, e isso não o atrapalha tanto. Thorbjørn Harr trouxe para seu Mathias o convencimento como arma principal, e suas cenas são tão diretas que acabamos acreditando nele e na sua ousadia, ao ponto que valeria até um algo a mais dele na trama, não ficando apenas como um antagonista num pedestal, ou seja, foi bem mais podia ter ido além. Quanto aos demais, todos pareceram apenas peças importantes na trama encenada, mas coadjuvantes demais no filme, ao ponto que só acaba valendo os atos mais imponentes de Kingsford Siayor como Lars no frigorífico, pois ali ele foi bem trabalhado, mas nada que chamasse muita atenção.

Visualmente o longa tem duas pontas muito bem feitas, a primeira é a cidade completamente devastada pelo acidente nuclear, com pessoas morrendo e se matando pelos cantos, tudo muito cinza e destruído, numa ambientação perfeita de desastre, e claro de pobreza, desespero e fome; e o segundo é o hotel maravilhoso, que logo de cara surpreende pela decoração, pelo ambiente imponente criado, pela mesa bem arrumada, com uma refeição bem forte para todos os desesperados, até entrarmos nos corredores de cores fortes, os quadros estranhos, toda a interação cênica ocorrendo de maneira estranha, as diversas roupas e bens espalhados, até chegarmos nos túneis do hotel, que levam para a parte mais intensa da cozinha, ou seja, o filme tem uma amplitude cênica gigantesca para ser trabalhada, e certamente a equipe de arte teve muito trabalho para compor tudo, desde uma cenografia ampla, figurinos pobres, ricos e de agentes químicos, e assim sendo o filme acaba resultando em algo que certamente veremos mais para frente nas mãos de algum produtor mais forte, com um filme melhor.

Enfim, é um bom filme, que trabalhou pouco a tensão, mas que funciona dentro do propósito do filme que é chocar um pouco com o desespero que levam pessoas a fazer algo ruim para sobreviver, mas que certamente nas mãos de um diretor mais forte, e uma melhorada no roteiro entregaria algo para ninguém nem dormir mais depois, ou seja, irei torcer para uma adaptação americana do filme. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.


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