O Roubo do Século (El Robo Del Siglo) (The Great Heist)

10/17/2020 01:46:00 AM |

Costumo dizer que enquanto nossas produções de ação não olharem exatamente o que os argentinos conseguem entregar com dramas envolventes, iremos ficar patinando e o povo reclamando de faltar isso, faltar aquilo e tudo mais, pois já tivemos um exemplar bem semelhante à esse, e acabaram enchendo de tantas histórias pessoais, que acabou virando uma novelona, enquanto aqui em "O Roubo do Século", nossos vizinhos argentinos apenas trabalharam a essência desconexa dos personagens, e colocou em jogo toda a boa desenvoltura maluca de pessoas que não formavam uma quadrilha organizada, e ainda assim fizeram um dos maiores roubos do país, e que mais do que contar uma história biográfica, souberam dosar os estilos e fazer com que o filme fluísse e agradasse com símbolos, atitudes, e principalmente, com boas sacadas. Ou seja, é um filme simplíssimo, mas que consegue envolver e divertir na medida, parecendo tanto um longa de festival pelas essências e dinâmicas, quanto um filme bem comercial que faz o público rir e se divertir pelos mesmos motivos, valendo a conferida.

O longa acompanha o grupo de atiradores do Grupo Falcon, numa sexta-feira, 13 de janeiro de 2006, realizando o que é considerado um dos assaltos a bancos mais famosos e inteligentes da história da Argentina na agência do Banco Río em Acassuso.

Chega a ser até engraçado a simplicidade que o diretor Ariel Winograf trabalho o roteiro de Alex Zito e Fernando Araujo, pois ele não fica enrolando em suposições nem em situações que vão enfeitar o tema, ou acrescentando algo sobre as famílias dos personagens, mas sim indo direto ao ponto, que vemos logo de cara que deu um simples estalo e o protagonista resolveu que seria capaz de arquitetar uma forma complexa e muito bem determinada para roubar o banco, indo atrás de pessoas capazes de lhe ajudar, e montando seu plano insano sobre a brisa de muita maconha. Ou seja, ele pegou exatamente a ideia do autor do crime (no caso Fernando Araujo, roteirista também do longa) e a desenvolveu de uma maneira ficcional bem trabalhada, que vai nos entregando os bons momentos malucos do filme, e que com muita criatividade passa a mensagem sem soar apelativo, ou até mesmo exagerado, pois mesmo que seja algo bizarro de imaginar/ver como fizeram tudo, a intensidade provou que conseguiram fazer, e assim, o resultado funciona.

Sobre as atuações, foram certeiros em mesmo tendo vários personagens, focar nos dois protagonistas apenas, e isso acabou funcionando por não precisar explicar muito da vida deles, nem se aprofundar em situações abrangentes, ao ponto que acabamos criando um certo carisma neles e o restante se faz sozinho. Dito isso, Guillermo Francella caiu tão bem na personalidade de Mario/Wagner que seus traquejos vocais acabam sendo precisos de estilo, seu gingado corporal entrega uma sintonia tão bem colocada, e suas atitudes fazem com que o personagem seja exatamente da forma que imaginamos, não tendo um ato sequer que não entramos na sua onda, ou seja, ele é o famoso ladrão picareta que convence em tudo o que faz, e o ator entrou tanto no personagem que mesmo já sendo premiadíssimo por outros papeis, iremos futuramente lembrar dele pelo que fez aqui, ou seja, perfeito. Diego Peretti com certeza teve a vantagem de estar junto (ao menos na leitura do roteiro) com o verdadeiro Fernando Araujo, e assim pode pegar trejeitos para seu personagem, e colocar dinâmicas tão malucas e bizarras, que mesmo o personagem soando um doido completo, todos acabam seguindo sua loucura e ganhando muito dinheiro, ou seja, o ator passou um semblante que não vemos ele de forma alguma, mas sim o personagem muito bem encaixado e que resulta em algo único e muito bem feito. Quanto aos demais, tivemos boas cenas com Mariano Argento com seu Debauza bem religioso, algumas pontuações estranhas, mas interessantes com Rafael Ferro com seu brucutu Alberto (que de cara já sabíamos o que acabaria acontecendo com sua vida pessoal pós-roubo), mas sem dúvida o destaque entre os secundários ficou a cargo de Luis Luque como o negociador Sileo, que fez muitas caras e bocas tão bem marcadas, que acabamos rindo de sua forma de persuasão não tão imponente, mas o ator agradou bastante no que fez.

Visualmente o longa tem estilo de grande produção, afinal cavar um buraco imenso, ter cenas em esgoto, montar um banco de 3 andares, esconderijos, oficinas, igrejas, trabalhar toda movimentação de quebras de caixas com um aparato bem maluco, vários objetos, joias, telefones, ou seja, a equipe de arte trabalhou bastante para que tudo acabasse coerente, mas principalmente que fluísse dentro do estilo pedido sem precisar soar grandioso, ou seja, a simplicidade era vista em todos os cantos agradando e sendo simbólica para o que cada momento pedia, num grande acerto.

Agora um dos pontos que exageraram um pouco foi na parte sonora, pois embora tenha canções bem encaixadas e que entram completamente no clima do filme, toda hora algo entrava com muita força e destaque, quase sendo um ruído forçado, e isso é algo que incomoda um pouco, ou seja, não é algo que estrague a beleza do filme, mas quase a cada cena sim, cena não, entrava uma canção ou trilha bem mais alta que as vozes, faltando quase que uma mixagem melhor, e claro, não precisaria de tantas canções, mas isso é um gosto pessoal. Para quem quiser curtir algumas das canções, fica aqui o link da trilha.

Enfim, é um filme bem interessante, simples e eficaz, daqueles que curtimos bastante tudo, que tem várias falhas de roteiro, para claro ficar mais verossímil, embora maluco de atitudes, mas que não atrapalha em nada, e que quem gostar de uma boa ação dramática e cômica ao mesmo tempo com certeza irá curtir do começo ao fim, ou seja, recomendo ele com toda certeza. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.


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