Belle Époque (La Belle Époque)

11/25/2020 08:41:00 PM |

Chega a ser até difícil definir o quão maravilhoso é "Belle Epoque", pois o filme se verte em floreios deliciosos misturando a ficção dentro da ficção, numa sintonia tão gostosa de conferir, que quando achamos que os atores da cena toda dentro do filme não estão mais atuando, eles nos surpreendem e ainda estão em outro personagem. É brilhante a forma de condução, a teoria em cima da prática, mostrando algo que se alguém realmente inventasse (de fazer um cliente vivenciar completamente alguma época famosa ou de sua vida com atores fazendo tudo parecer real, incluindo falas ditas no passado) ganharia horrores de dinheiro e certamente criaria lindas magias nas vidas das pessoas. Ou seja, é daqueles filmes mágicos de conferir, aonde quem já trabalhou na produção de algo se sentirá no paraíso, vendo a criação dentro de outra, sendo tão perfeito que senti meus olhos brilhando apaixonados por cada momento do filme, ou seja, o melhor do Festival até agora, ao menos para mim.

A sinopse nos conta que Victor é um sexagenário desiludido com o casamento em crise. Quando ele conhece Antoine, um empreendedor de sucesso, que o sugere uma atração de parque de diversões diferenciada, que une encenação teatral com recriação histórica, sua vida vira de cabeça para baixo. Victor decide então reviver o que ele considera a semana mais memorável de sua vida, na qual, 40 anos atrás, ele conheceu seu grande amor.

Só diria uma palavra ao diretor e roteirista Nicolas Bedos se um dia lhe conhecesse: BRILHANTE, pois é algo que não consigo nem imaginar como alguém pode ter essa maravilhosa ideia de transportar algo quase teatral para algo cotidiano, ao ponto que nos conectamos com tudo o que é mostrado, entramos completamente no clima do protagonista, e da mesma forma que ele acaba se apaixonando novamente por algo que fez no passado, vamos nos apaixonando também por tudo, rindo de momentos bobos, fluindo com cada encenação numa perfeita alegoria gostosa de conferir e brilhante tanto na essência quanto na concepção, ou seja, é daqueles filmes que vou me lembrar sempre que desejar ter um brilho de cinema na minha mente, e certamente irei pôr o nome do diretor naqueles que sempre torço por novas produções.

Sobre as atuações diria que é incrível o que cada um faz em cena, ao ponto que todos fluíram tão perfeitamente que até mesmo os mais secundários acabam acertando em cheio seus momentos. É facílimo ver a beleza do olhar de Daniel Auteuil com seu Victor vivenciando cada momento que já viveu mais uma vez, ao ponto que o ator chega a se emocionar realmente com uma desenvoltura poética e bem encaixada, sendo perfeito demais. Guillaume Canet sempre entrega personalidade no que faz, mas aqui seu Antoine é o maestro da obra, criando e envolvendo com tudo, além claro de sua própria trama acontecendo com uma fluidez perfeita também. Doria Tillier trouxe a essência da verdadeira atriz para sua Margot, ao ponto que já nem sabemos mais quem é ela, ou quando ela não estava atuando dentro da atuação, numa magia brilhante e linda de ver. Fanny Ardant trabalhou sua Marianne com um ar forte, determinada a mostrar sempre mais, e acerta na forma e no conteúdo, sendo chamativa para cada momento seu, além de entrar completamente no clima ao final. Ou seja, falaria bem de todos, pois foi algo incrível que nem vale a pena ficar falando, mas sim recomendar demais que todos confiram o quanto antes.

Visualmente o longa é um luxo daqueles que qualquer diretor de cinema não pensaria duas vezes antes de assinar o contrato, pois tudo está disponível para as cenas, vemos uma cenografia incrível dos anos 70, vemos detalhes em tudo acontecendo, vemos ambientações de outras épocas no miolo, e principalmente figurinos e momentos perfeitos para cada ato, ou seja, vale entrar no clima e ver tudo acontecendo com uma precisão cênica tão incrível que mostrou desde uma boa pesquisa pela equipe de arte, quanto pelo envolvimento que cada situação/detalhe transmite para todos.

Enfim, um longa tão maravilhoso que permeia tanto a nossa mente visual quanto imaginária, ao ponto que mais do que recomendo o filme para todos, pois é daqueles que facilmente verei algum dia passando na TV e novamente meus olhos irão brilhar com tudo o que é mostrado. Até posso dizer que a trama tem algum defeito que eu não tenha enxergado por estar tão envolvido, mas não consigo pontuar ele, então vamos de nota máxima, e claro colocando ele como o melhor do Festival Varilux 2020 (ao menos até agora faltando 5 longas para conferir dos 17 no total). Bem é isso pessoal, fico por aqui agora, mas volto daqui a pouco com mais um texto, então abraços e até logo mais.


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