quinta-feira, 19 de novembro de 2020

DNA (ADN)

Diria que o longa "DNA" é praticamente uma viagem de autoconhecimento da diretora Maïwenn, pois ao juntar o luto de um ente querido com todo o conflito familiar, a personagem entra em crise com suas origens e acaba buscando meios de se entender também, indo fazer testes, buscar a cidadania argelina e até mesmo viajar para conhecer algo a mais, flutuando entre pensamentos e atos, ainda que esteja brigada com seus próprios pais. Ou seja, ao mesmo tempo que nos entrega um filme introspectivo, também somos transportados para algo belíssimo de ver e se envolver, ao ponto que inicialmente a trama parecia ir para outros rumos, mas conseguiu emocionar e finalizar muito bem com tudo.

A sinopse nos conta que é verão em Paris e a cidade está deserta. Neige visita regularmente seu amado avô argelino em sua casa de repouso. Foi Emir quem a criou e ofereceu proteção contra seus pais tóxicos. Ela está cercada por sua família extensa - irmãos, irmã, tia, mãe. As relações entre eles são difíceis, repletas de ressentimento e amargura. A morte de Emir aumentará as tensões familiares e desencadeará uma profunda crise de identidade para Neige.

A diretora, roteirista e protagonista do filme Maïwenn (está sempre nos Varilux seja como diretora ou atriz) trouxe algo muito forte para seu novo filme, criando algo que brinca quase com sua personalidade e flui para rumos que até poderiam ser duros para alguns, mas que sabendo dosar com pequenas piadas e transmitindo um sentimento doce e simples de ver acabamos entrando realmente no clima que ela desejou fazer, pois geralmente filmes que envolvem luto e crises familiares rumam para dramas fortes e cansativos, mas aqui ela soube trazer beleza, ritmo e muita coerência para que sua direção não atrapalhasse seus atos, e nem sua atuação fosse fora de uma direção impactante, fazendo assim uma beleza dupla rara de acontecer que envolve, agrada e funciona bem.

Sobre as atuações, volto a frisar que a diretora Maïwenn soube cadenciar muito bem sua Neige, ao ponto que acabamos vivenciando bem seus momentos e entrando quase em sua personalidade funcional, ou seja, acerta sendo simples, porém forte para convencer em tudo. Omar Marwan aparece pouco com seu Emir no começo da trama, mas foi tão bem representado que a todo momento sentimos sua presença na trama, sendo que o ator foi muito bem, e chamou atenção. Fanny Ardant trouxe imponência para sua Caroline, de modo que sentimos no ar todo o conflito com a filha, vemos os sentimentos da personagem, e principalmente na cena mais forte sentimos a tristeza que ela passou após ouvir o que ouviu, ou seja, perfeita também. Louis Garrel fez de seu François um personagem carismático ao mesmo ponto que direto nas opiniões, servindo bem para o propósito da trama, e claro do personagem, agradando demais. Quanto aos demais tenho de dar destaque claro para Marine Vacth com sua Lilah bem marcante nos momentos finais, sendo bem simbólica para os atos que participa, e também para Dylan Robert com seu Kevin totalmente ligado ao avô no começo, sendo gracioso e acertado perfeitamente para todos os atos que faz.

Visualmente a trama nos mostra um pouco da vida nas casas de repouso, os últimos momentos do avô com toda a família, a escolha dos objetos fúnebres numa funerária, todo o ritual de despedida e homenagens numa mesquita, e claro os processos burocráticos numa embaixada, além de cenas bem colocadas na casa da protagonista, e uma cena bizarra em meio a muitas cobras em um sonho, além de objetos cênicos marcantes como um teste de DNA a distância, mostrando que a equipe de arte trabalhou bem para fazer as locações e os momentos funcionarem bem.

Enfim, é um filme bem bonito, que não cansa em nada, e que mesmo tendo algumas leves falhas na essência geral acerta muito do começo ao fim, ao ponto que poderia ser menos reflexivo, mas isso não atrapalha em nada. Bem é isso pessoal, fico por aqui agora, mas já vou para mais uma sessão do Festival Varilux de Cinema Francês, então abraços e até logo mais.


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