Meu Primo (Mon Cousin) (My Cousin)

11/22/2020 01:59:00 AM |

Confesso que ao ver o pôster, a sinopse e até mesmo o nome do filme "Meu Primo", fiquei bem temeroso com o que iria conferir hoje, pois ao mesmo tempo que parecia um longa sério demais, tinha uma pitada de ideias malucas, porém tudo foi tão bem conduzido, com um ar cômico tão gostoso do começo ao fim que o resultado foi algo surpreendente, cheio de boas desenvolturas, com momentos emocionantes e engraçadíssimos, fazendo com que o filme fosse uma grata surpresa, e divertisse demais todo o público da sessão, valendo por mostrar o famoso lado de empresários e até funcionários de grandes empresas que esquecem de viver um pouco só focando em resultados, em contraponto ao lado familiar cativo e bem dosado que as vezes respirar demais pode parecer uma loucura, mas se atendo aos detalhes tudo na vida passa a funcionar melhor. Ou seja, é um filme muito gostoso, com uma proposta diferente da usual, aonde os protagonistas se doaram muito aos personagens, e o resultado foi preciso e agradável demais.

A sinopse nos conta que Pierre é o CEO de uma grande empresa familiar. Prestes a assinar o acordo do século, ele deve acertar uma última formalidade: a assinatura de seu primo Adrien, dono de 50% da empresa. Este doce e idealista sonhador desajeitado fica tão feliz em encontrar Pierre que quer passar um tempo com ele e adiar a assinatura. Pierre, portanto, não tem escolha e embarca com seu primo em uma viagem de negócios agitada e surpreendente.

É até interessante observar a proposta que o diretor e roteirista Jan Kounen quis passar, pois hoje cada vez mais olhamos para as pessoas líderes de grandes empresas como pessoas de sucesso, que podem fazer o que quiser em sua vida e que raramente param para pensar no seu passado, na sua família, na natureza ao redor e tudo mais, e aqui ele abriu essa ideologia para ter uma comparação com primos que eram muito conectados na infância, mas que se afastaram com o andar da vida, e que no momento que mais precisou do outro julgou a capa do livro sem analisar o conteúdo, ou seja, o diretor quis brincar com muitas lições entregando um filme divertidíssimo, com boas sacadas, e principalmente com ideias simples, pois acabamos rindo muito em pequenos detalhes desesperadores que o primo passa a analisar, e o filme flui bem rápido, tanto que nem parece ter a duração que tem, e assim sendo o diretor mostrou que conhecia bem do meio, sabia como fluir, e acertou do começo ao fim, coisa que é rara de ver em um filme que nem dá para classificar como comédia pela essência, mas que entrega bem mais comicidade que muitas grandiosas comédias classificadas assim, ou seja, perfeito no quesito direção e roteiro.

Sobre as atuações é incrível como Vincent Lindon sempre se encaixa bem nos papeis que faz, pois ele é um ator com um semblante bem seco e sério, e os diretores são espertos em colocar ele sempre fazendo personagens desse estilo, porém aqui com seu Pierre o vemos mais livre de personalidade, e mesmo que seu ar seja de um empresário arrogante e com ideias monetárias superiores às ideias pessoais e familiares, vemos ele disposto a se abrir, e assim sendo seus momentos brutos e secos acabam soando engraçados e funcionais para a trama, tendo uma química de contraponto perfeita com o outro personagem. E falando no outro, temos o sempre brilhante François Damiens com seu Adrien perfeito tanto na execução dos atos, quanto na essência interpretativa que o personagem precisava, de modo que seu carisma acaba sendo tão grande, que mesmo irritando o protagonista com seus atos acaba conquistando o público com as situações que entrega, sendo gracioso, ousado, e principalmente muito ligado à família e a natureza ao redor de tudo, ou seja, perfeito. Alix Poisson trouxe ótimas cenas com sua Diane completamente vidrada em serviço também, mas caindo como uma luva nas cenas mais intensas do longa, ao ponto que seu ápice (ou melhor o ápice dos três personagens) é a cena do avião e tudo mais que acaba ocorrendo na sequência, e a atriz foi precisa nos trejeitos e agradou bastante também. Quanto aos demais, a maioria foi apenas conexões para com o filme, não tendo nenhuma grande cena que chamasse a atenção, mas Pascale Arbillot ao menos foi bem expressiva com sua Olivia, mandando muito bem nos atos com seu violino.

Visualmente a trama entrega uma casa bem nobre, cheia de cômodos bem decorados, com muito simbolismo moderno, temos uma empresa enorme toda decorada em vidro, com um primor riquíssimo e muitos detalhes, que nem são tanto usados, e claro temos uma última locação num castelo de cultivo de uvas e vinhos bem rústico e clássico, com bons detalhes também, além claro das cenas nos carros, a cena mais cômica de todas dentro e fora do avião, além de uma noite em um hotel com uma boa cena em uma sauna, ou seja, muitos ambientes e muitas desenvolturas, que ainda contaram com algumas cenas em sonhos muito bem trabalhados e detalhados, e alguns momentos com jovens atores representando o passado dos protagonistas em uma praia, que ao final voltam adultos, ou seja, é quase um road-movie pelo excesso de locações, mas tudo muito bem usado e simbólico para cada momento, funcionando bastante e mostrando que a equipe de arte teve bom gosto para tudo.

Enfim, é um longa que se pararmos para analisar a fundo é bem simples, mas tem todo um requinte, tem uma comicidade perfeita sem ser apelativa, e momentos amplos para discussão e diversão, ou seja, é perfeito na medida certa, tendo uma duração cadenciada que passa voando, e só não dou a nota máxima para ele pelo motivo de exagerar em muitos momentos espalhados, ao ponto que o filme ficou rico de detalhes, mas a história de fundo quase passa despercebida. Ou seja, é daqueles longas que rimos demais, que vale tudo que é passado, e que claro recomendo para todos. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais textos do Festival Varilux, então abraços e até logo mais.


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