O longa nos mostra que antes de se tornar o primeiro juiz afrodescendente da Corte Suprema Americana, Thurgood Marshall deve lutar num caso pode definir sua carreira: defender Joseph Spell, um homem negro que está sendo acusado de atacar uma socialite branca em seu quarto, mas que jura não ser o culpado do crime.
Diria que o maior defeito do diretor Reginald Hudlin para com o filme foi dele ser praticamente um diretor de séries e acreditar que aqui ele poderia fazer a continuação do filme na semana seguinte, pois o filme tem tanta bagagem para ser executada que acaba ficando um pouco presa demais, ou seja, vemos uma das grandes histórias que envolveram o protagonista, mas que certamente foram decisivas para mostrar quem foi ele. Claro que o diretor não conseguiria condensar em um único filme toda a história de Marshall, mas ao menos um pouco mais de desenvoltura na vida pessoal, e claro na carreira subsequente ao julgamento de Bridgeport, seria bem visto e agradaria bastante. Ou seja, o diretor foi bem no que fez, trouxe um longa imponente, com grandes reviravoltas, um bom trabalho de cenas de julgamento, e claro dinâmicas fortes fora do tribunal, mas não atingiram nem metade do que ele fez, e isso pesou um pouco, não deixando o filme ruim, muito pelo contrário, é uma trama sensacional, mas faltou para empolgar como poderia.
Sobre as atuações é fato que aqui mesmo antes de Chadwick Boseman detonar em "Pantera Negra" e outros filmes mais atuais, ele aqui se entregou com muita personalidade para que seu Marshall fosse convincente o suficiente, que tivesse olhares e dinâmicas bem colocadas, que mostrasse sínteses precisas para com cada momento, e que principalmente entregasse uma boa dupla com o advogado principal do caso, ou seja, o ator se doou e foi preciso em cada decisão, agradando bastante, e ainda mostrando que caso o diretor quisesse poderia ter ido muito além com ele numa história mais completa. É até engraçado ver Josh Gad como um ator completo fazendo uma performance mais séria, cheia de trejeitos imponentes e com uma dinâmica mais coesa do que geralmente vemos em filmes com temáticas leves e cômicas, ao ponto que seu Sam Friedman é perfeito de estilo, tem a cara completa que o personagem precisa, e fez de seus diálogos algo tão bem feito, que acabamos acreditando muito na química entre os protagonistas, ou seja, agradou demais. Sterling K. Brown trabalhou seu Joseph Spell com muita força expressiva e deu para cada momento seu algo que chega a impressionar, pois o ator segurou do começo ao fim quase a mesma expressão no banco dos réus e nas cenas de reconstituição, mostrando alguém direto no mesmo sentimento, e isso é raro de ver, ao ponto que funcionou muito, e mostrou uma diretriz perfeita para o que foi pedido para ele fazer. Tanto Dan Stevens com seu promotor Wills quanto James Cromwell com seu juiz Foster entregaram atos fortes e bem feitos comumente vistos por personagens dessas castas, porém foram diretamente racistas em diversos momentos, ou seja, o filme também aponta isso como algo errado e direto, mas que poderiam ter feito expressões menos forçadas, mas não atrapalharam ao menos o andamento da trama, e até resultaram em atos fortes e bem feitos. E para finalizar, Kate Hudson até teve alguns momentos bem fortes e bem feitos nas reconstituições, e também na cena em que foi testemunha da acusação com sua Eleanor Strubing, mas certamente seus melhores olhares foram no encerramento do julgamento, pois ali sim deu para notar todo o problema que a personagem teria pela frente, ou seja, a atriz fez bem o seu papel, e agradou no que fez também.
Visualmente o longa teve uma boa representatividade cênica, montando um tribunal bem simples, porém cheio de dinâmicas bem contundentes, várias cenas no escritório dos advogados, e claro mostrando muito da segregação e dos atos racistas nas ruas das cidades, ao ponto que o filme acaba sendo bem triste nesse sentido, mas mostrando bem a luta dos protagonistas, além claro de boas cenas de reconstituição, filmadas com profundidade e intensidade para mostrar as duas versões, ou seja, a equipe de arte nem sofreu muito para desenvolver tudo, mas o diretor soube usar com primor todos os momentos possíveis e encontrar bons ângulos para que tudo valesse bem a penas.
O longa teve a canção "Stand Up For Something" interpretada por Diane Warren e Common indicada ao Oscar no ano, e além de bem executada tem uma letra bem simbólica em cima das lutas sociais, mas como é uma canção de fechamento, não diria que ela foi imponente o suficiente para marcar o filme, mas sim um peso a mais na trama apenas.
Enfim, infelizmente o longa acabou não sendo lançado aqui no interior na época em que concorreu ao Oscar, sendo lançado digitalmente em algumas plataformas de locação, e agora chegando na Netflix para quem quiser conferir, e recomendo muito, pois mesmo não mostrando tudo o que foi Thurgood Marshall, o julgamento aqui mostrado foi muito usado em outras defesas no país, e a dinâmica toda é bem boa de vivenciar, valendo as duas horas de exibição. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.
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