A trama nos conta que aos 15 anos, Lyz acaba de se somar à prestigiosa equipe de esqui do colégio de Bourg-Saint-Maurice. Fred, ex-campeão que assume o papel de treinador, decide pôr todas as suas fichas na nova integrante. Entusiasmada pelo apoio recebido, Lyz se entrega de corpo e alma ao seu objetivo. Porém, após acumular sucessos, rapidamente ela começa a ficar abalada sob a pressão e o domínio exercidos por Fred.
Costumo dizer que diretores novatos tem de saber escolher filmes menos ousados para começar, e depois ir crescendo, e aqui a diretora e roteirista Charlène Favier até se propôs bem a ir com seu filme para rumos mais fortes, e mostrou isso com sutilezas simples e situações marcantes, porém quando ela precisaria ir pra cima do tema e fazer acontecer realmente, ela se escondeu, meio como acontece realmente com atletas que são assediados pelos seus treinadores, deixando tudo acontecer e ficando normal com os acontecimentos, ou seja, isso é algo que realmente rola no esporte, porém caberia a diretora em mostrar de forma mais forte e ousada talvez um pós ocultamento, aonde veríamos punições ao treinador, veríamos a jovem sofrendo mais, ou até mesmo algo mais chocante como rola realmente, e não apenas um ok, pois ficou parecendo que sua obra não foi bem acabada, e falha demais, o que certamente não era esperado.
Sobre as atuações, diria que a jovem Noée Abita se entregou bem para com sua Lyz, de modo que vemos ela fluindo do começo ao fim, fazendo boas expressões tanto de felicidade por ganhar as provas, como de dor pelo estupro, ou até mesmo de não saber realmente o que está acontecendo ali, ou seja, foi bem no que foi pedido, mas daria certamente para ir muito além com sua personagem. Jérémie Renier trouxe para seu Fred uma desenvoltura bem imponente, trabalhou um estilo forte de treinamento, e claro foi repugnante nos seus atos de abuso da jovem, que claro mostra algo como impulsivo, porém extremamente errado e infeliz, de modo que vemos acontecendo e vamos ficando com ódio dele, ao ponto de ser um grande acerto por parte do ator que sempre pega papéis polêmicos e se sai muito bem. Marie Denarnaud deu um bom tom para sua Lilou, sendo daquelas que desconfia de tudo, mas que não pode agir sem que lhe falem realmente o que está rolando, e a atriz foi simples, porém bem correta nos momentos certos da trama. Quanto aos demais, diria que foram bem secundários em tudo, não tendo grandes destaques, de modo que vale apenas reparar no ciúme mostrado pela personagem de Maïra Schimitt com sua Justine, o playboy que acha que vai pegar todas vivido por Axel Auriant com seu Maximilien, e claro Catherine Marchal como a mãe omissa da protagonista que deveria ter descoberto tudo antes se fosse mais presente.
Visualmente o longa é daqueles que adoro ver, envolvendo muita neve, frio, preparações para esportes de inverno, com tudo muito bem pontuado e detalhado seja nas competições, treinos, e claro nas cenas mais intensas do assédio rolando já desde o ato forte no carro, até chegar ao pior momento na academia, aonde chega a ser algo até explosivo demais, aonde a equipe de fotografia foi tão precisa na escolha das cores fortes ali, do ângulo de dor visual em close da protagonista que chega a ser desesperador, ou seja, tudo simples, mas muito bem feito.
Enfim, um filme intenso, que começou preparando bem o ambiente, fez momentos bem trabalhados, porém quando atingiu um ápice bem colocado desandou e ficou morno demais não indo para nem um rumo de denúncias, nem um rumo de explosões e causas chocantes, sendo omisso demais como geralmente ocorre em casos de assédios no esporte, ou seja, falhou em ir mais além não sendo algo ruim de conferir, mas sim algo que poderia ser muito melhor. Sendo assim até recomendo o longa pela denúncia em si, mas não espere nada de muito explosivo, então vá sem esperar nada que a chance de não se decepcionar tanto é maior. Bem é isso pessoal, fico por aqui agora, mas já vou para mais uma sessão do Varilux, então abraços e até logo mais.
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