10 Horas Para o Natal

12/06/2020 09:22:00 PM |

Teve uma época que saiu tanto filme natalino que parecia que o pessoal só tinha esse estilo para fazer, e aparentemente esse ano está seguindo a mesma linha, pois tanto nos cinemas quanto nas plataformas de streaming estão surgindo toneladas de longas do estilo, porém o mais engraçado é surgir tantos nacionais usando o tema também, pois não era algo comum, ainda mais que por aqui com calor, sem muita magia natalina costumeira o que resultaria em muitos absurdos, mas que aparentemente os roteiristas/diretores estão sabendo contornar. Dito isso, "10 Horas Para o Natal" funciona bem mais como um longa familiar do que como uma comédia realmente como acabaram classificando ele, pois temos poucas situações engraçadas, mas até tem uma boa desenvoltura das crianças em tentar salvar o Natal da família Silva, com boas sacadas em plena Rua 25 de Março, compras de alimentos em mercado lotado, e até o famoso clima de Papai Noel com mensagem afetiva bonita, ou seja, é um filme simples, porém bem feitinho, que poderiam ter eliminado o clipe natalino no miolo, deixando apenas para o final, e algumas forçadas de barra como as piadas tradicionais de pavê, mas sem isso o filme ficaria sem nada também. Ou seja, a criançada que estava na sala ao menos curtiu o filme, e assim sendo posso dizer que funcionou ao menos para um público-alvo.

A sinopse nos conta que com a separação dos pais, os irmãos Júlia (11), Miguel (9) e Bia (5) tiveram que se acostumar em passar o Natal com a família incompleta. Porém, quando a mãe tem um imprevisto de trabalho, os três são deixados sozinhos na véspera de Natal. É nesse momento que eles têm uma grande ideia: surpreender os pais com uma ceia organizada por eles – e, com isso, tentar reaproximar os dois. Em pleno caos das festas de fim de ano, os irmãos percorrem a cidade para conseguir todos os itens que precisam (presentes, decoração, ingredientes para a ceia) e acabam envolvendo o pai, Marcos Henrique, nessa missão impossível natalina. 

Confesso que não sou muito fã do estilo da diretora Cris D'Amato por ser exagerado demais em qualquer um dos moldes que siga, mas felizmente em alguns casos essa sua forma funciona bem, e sendo assim ela tem cativado bem o público com suas obras, ou seja, não vemos grandiosos filmes, mas ela tem conseguido sempre passar algo a mais do que uma trama novelesca nos cinemas, o que já é um ponto positivo imenso, faltando apenas talvez acertar melhor o nível de humor para ficar perfeito, e aqui ela soube trazer a nostalgia completa de filmes natalinos, e ainda segurar bem a barra com uma trama vivida em suma por crianças, pois é algo que não é muito fácil, e sendo assim o filme traz bons atos de compras, brincou com situações inusitadas de sumiços de crianças em confusões de compras, e claro mostrou as tradicionais negociações de pechinchas, que antes funcionavam mais, além claro de trabalhar bastante com o famoso espírito natalino que muitos nem lembram mais de existir. Ou seja, a diretora foi bem no que o roteiro propôs, mas certamente poderiam ter ido bem mais longe sem precisar apelar em alguns momentos, e claro desenvolver algo mais limpo de estilo.

Sobre as atuações, diria que o trio teve uma boa química e realmente pareceram irmãos com brigas, afetos e tudo mais, e mesmo não tendo nada muito expressivo, todos agradaram dentro do que a trama pedia. Giulia Benitte trouxe para sua Júlia algo bem característico dos filmes de Woody Allen, conversando com o espectador quebrando a quarta parede, e sendo quase que uma narradora da trama, além claro que sendo a mais velha dos irmãos trouxe para si a dinâmica mais responsável, e até agradando com seus atos simples e com bons olhares consegue ser sutil e bem encaixada. Pedro Miranda fez com que seu Miguel fosse o famoso filho do meio, aquele que não tem muito destaque, mas tenta arrumar todos os conflitos, e o jovem até saiu bem nos atos, mas sem grandes cenas para o seu papel. Já Lorena Queiroz foi a responsável pelos olhares carismáticos para tentar vender seu peixe, e ao mesmo tempo a pessoa mais irritante da face da Terra com os gritos de sua Bia, ao ponto que chegamos a desejar que ela explodisse a cada choro gritante seu, mas serviu para a personalidade, e assim sendo funcionou. Agora falando dos adultos, Luis Lobianco é daqueles que funcionam bem em papeis secundários com piadas bobas e jogadas, ao ponto que aqui como o protagonista Marcos Henrique não conseguiu se destacar como deveria, e mesmo sendo um bom humorista, suas piadas acabaram tão apagadas que não chamaram atenção, ou seja, ainda vejo muito potencial no estilo dele, porém vai precisar melhorar e muito uma formatação mais séria ou pegar um papel de comicidade boba para chamar atenção realmente. Quanto aos demais, até a mãe acaba apagada demais como uma obstetra fazendo um parto na véspera inteira de Natal, de modo que nem vamos lembrar quem fez o papel, já Arthur Kohl fez bem seu papel chamando a atenção tanto pelo lado simbólico no final, como pela essência de um esquecido no canto, que chama atenção para a mensagem que desejavam passar.

Visualmente o longa foi bem simples, porém interessante pelas desenvolturas nos tradicionais pontos de comércio natalino de São Paulo, que claro gravaram em uma época de frio na cidade (provavelmente em Junho ou Julho) para que todos os transeuntes da famosa 25 de Março estivessem de roupas de frio, e claro com um movimento menos abarrotado que a época natalina realmente, também gravaram cenas bacanas num supermercado, mostrando bem o conflito dos estacionamentos dos mesmos nessa época do ano, e foram bem simbólicos na formatação da última cena, tentando transmitir com simplicidade o significado do Natal, ou seja, a equipe de arte foi singela, porém trabalhou bem cada um dos elementos cênicos dispostos no roteiro, agradando bastante, e até enfeitando bem a cena de clipe natalino exagerada e desnecessária para a trama.

Enfim, é um longa que cumpre o prometido, um longa natalino, familiar, que até tenta soar engraçadinho, mas que força um pouco a barra para isso, e que acaba atingindo mais a criançada que os pais que forem para a sessão, ou seja, até diria que é um bom filme, que dá para recomendar para aqueles que amam a época natalina, mas que passa bem longe de ser algo que irei lembrar mais para frente. Bem é isso meus amigos, volto amanhã com mais textos, então abraços e até logo mais.


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