M8 - Quando a Morte Socorre a Vida

12/04/2020 01:38:00 AM |

Uma das frases mais marcantes do longa "M8 - Quando a Morte Socorre a Vida" é dita bem no final pelo protagonista e nos revela que mesmo que falamos não sermos racistas, mas assim como sua parceira na trama, somos bem brancos e moramos em bairro bom, então nunca saberemos o que é ser olhado diferente na rua, o que é estar apenas andando e ser enquadrado pela polícia, é entrar num curso majoritariamente de brancos e acharem que você trabalha na faculdade ao invés de ser um estudante também, ou seja, o racismo ocorre, infelizmente, de maneira tão forte que muitas das vezes mesmo você não julgando ninguém, não cometendo nenhum ato direto, você nunca saberá exatamente o que sente um jovem que sofre racismo todos os segundos de sua vida. Ou seja, o filme do diretor Jeferson De até pode parecer apenas um filme simples pela essência, e que alguns até vão achar que é um longa de terror, mas é algo que vai muito além, e assim como os demais que já fez, temos algo de cunho social tão bem incorporado, que até tiraria os momentos que a trama foge um pouco disso, pois o valor da trama se faz em cima dessa ideia toda de racismo, de sumiço dos jovens negros de periferia, e tudo mais que está incorporado implícita e explicitamente no filme, valendo demais a conferida, e claro a discussão da obra.

O longa conta a história de Maurício, um calouro da prestigiada Universidade Federal de Medicina, filho de Cida, uma auxiliar de enfermagem, que dá duro para ver seu filho entrar pra faculdade. Em sua primeira aula de anatomia, Maurício é apresentado a M-8, corpo que servirá para estudo dele e dos amigos durante o primeiro semestre. Em uma jornada permeada de mistério e realidade, Mauricio enfrenta suas próprias angústias para desvendar a identidade desse rosto desconhecido.

O diretor e roteirista Jeferson De fez grande sucesso com seu longa "Bróder" em 2010, e se lá ele já foi muito bem na discussão racial, agora com algo ainda mais polêmico e bem elaborado, o resultado não poderia ser outro, pois o filme é um soco atrás do outro com as situações que o protagonista vive, com todo o dilema do jovem em tentar descobrir a família do cadáver para dar ao menos um enterro digno para ele após o estudo, e tirando a romantização desnecessária na festa (pois poderia tudo ter rolado normal sem a cena), o filme todo é daqueles que você nem pisca pensando no quão real tudo isso ocorre diariamente com diversas pessoas. Ou seja, a trama é tão coerente no assunto que chega a ser daqueles que muitos certamente usarão para debater o tema futuramente, pois só quem é muito racista fala que racismo não existe, e aqui o diretor foi preciso em mostrar tudo com minúcias e nem precisando ser simbólico e trabalhar com ideias abstratas, de forma que indo direto ao ponto, com um filme sem enrolações, o resultado acaba brilhante, forte e incrível de ver.

Sobre as atuações, o jovem Juan Paiva foi preciso no estilo, fez bons trejeitos para seu Maurício, e soube conduzir o protagonismo com uma precisão muito boa, ao ponto que ele não deixou o estilo desandar, não forçou a barra em nenhum momento, e acreditou no potencial do personagem mesmo nas cenas mais simples, ao ponto que acabamos envolvidos por tudo o que faz, e o acerto acaba sendo bem grande. Mariana Nunes foi bem imponente também com sua Cida, tendo um ato fortíssimo bem desenhado, dando uma tremenda lição de moral no filho com olhares e imponência na voz, ao ponto que a atriz acaba sendo tão boa que mesmo com poucas cenas acaba nos ganhando. Quanto aos demais personagens, Giulia Gayoso até foi bem intensa nos atos de sua Suzana, trabalhando bem junto de Bruno Peixoto com seu Domingos, formando um bom trio de estudo, mas poderiam ter ido além nos atos deles. Tivemos ainda algumas boas participações de Ailton Graça, Zezé Motta e Pietro Mario com personagens não tão expressivos para os momentos, mas bem colocados para as devidas representações que o filme pedia, além claro de Raphael Logam ficando um bom tempo parado com seu M-8, além de outros que foram mais conectados para atrapalhar a vida do jovem, mas esses é melhor nem colocar importância.

Visualmente o longa foi simples de locações, mas trabalhando bem uma sala de aulas de anatomia, uma casa em um bairro simples periférico, um terreiro de umbanda bem montado, e claro as famosas casas e apartamentos de bairros ricos aonde tudo foi bem simbolizado para mostrar o racismo explícito até de personagens negros para cima do jovem, ou seja, tudo muito bem encaixado em detalhes para funcionar bem a representatividade, e principalmente encaixar cada momento de tensão entre os dois jovens, sendo direto ao ponto e agradando bem.

Como todo filme nacional, infelizmente não temos as trilhas disponíveis nos aplicativos para podermos compartilhar, e aqui são canções bem imponentes e que se encaixam na medida certa para cada momento do filme, com destaque claro para "Ponta de Lança" de Rincon Sapiência.

Enfim, é daqueles filmes que valem a conferida por tudo o que é mostrado, mas vale ainda mais ser exibido em debates escolares, pois vale demais a discussão em cima do tema, e o diretor foi preciso no que fez, ou seja, vá conferir seja no cinema ou em casa quando sair nas plataformas digitais, pois é importante demais o tema, e mesmo tendo alguns momentos desnecessários, o resultado é muito bom. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais um texto, então abraços e até logo mais.


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