Amazon Prime Video - Tio Frank (Uncle Frank)

1/19/2021 01:24:00 AM |

É engraçado como uma trama simples consegue ser efetiva no que se propõe sem precisar apelar tanto, e ainda trazer um estilo bem conectado e dinâmico para algo que é um tema forte de ser desenvolvido, e digo isso facilmente do longa da Amazon Prime Video, "Tio Frank", pois ao mostrar a visão da garota sobre o que é ser diferente, e querer ser o que quiser, com base na vida de seu tio gay (que ela vai descobrir só num segundo momento), mas que é bem mais culto, que lhe dá atenção e tudo mais de uma maneira completamente diferenciada, e que claro vemos a visão interiorana da família nos anos 70, e também na juventude do tio. Ou seja, é um filme LGBTQ, com uma visão intrigante que certamente aconteceu com muitas famílias mais antigas, e que até hoje acontece, e que sabiamente o diretor não quis apelar, não quis fazer trejeitos forçados, e principalmente trouxe a visão da garota para o ser diferente do comum, não impondo algo, mas sim desenvolvendo a história, a diferença, e claro o amor que cada um tem, o se importar com o outro. E diria que talvez o filme poderia até ter ido mais além, pois ele é calmo demais durante quase toda a exibição, para no final vir com tudo e emocionando bem.

O longa nos situa em 1973, quando a adolescente Beth Bledsoe deixa sua cidade natal na zona rural do sul dos Estados Unidos para estudar na Universidade de Nova York, onde seu amado tio Frank é um reverenciado professor de literatura. Ela logo descobre que Frank é gay e mora com seu parceiro de longa data, escondendo o fato por anos. Após a morte repentina do pai, Frank é forçado a voltar para casa de sua infância, com relutância, para o funeral, e finalmente enfrentar um trauma do qual ele passou toda a sua vida adulta fugindo.

Que Alan Ball é um tremendo roteirista todos sabemos, afinal levou um Oscar por "Beleza Americana", mas eis que não se entregou completamente para a direção de longas, tendo uma obra em 2007 e agora com esse novo filme, e olha, se ele seguir essa linha de filmes sutis, com uma pegada artística bem colocada, trabalhando o envolvimento em cima dos personagens e criando virtudes em cima de temas bem fortes, certamente vai explodir e ganhar mais prêmios ainda do que já levou como roteirista, pois sua mão foi muito leve no que desenvolveu aqui, criando vínculos a todo momento, desenvolvendo cada trejeito dos personagens sem soar exagerado ou caricato, e principalmente sabendo onde entregar cada ponto do filme para que sua obra não ficasse presa a momentos, mas sim a um todo, de forma que o envolvimento do protagonista na juventude além de ser um grande marco do passado vai florear bem no decorrer da trama, e isso vai sendo entregue homeopaticamente. Ou seja, é um filme de diretor realmente, com nuances leves e bem encontradas, que acaba agradando do começo ao fim, mas que certamente funciona muito mais nas cenas finais que deveriam ocorrer um pouco antes para a abertura ir mais além, mas que não atrapalha a emoção que transmite.

Sobre as atuações, Paul Bettany brilha com seu Frank, com trejeitos fortes, com momentos bem encaixados e virtuosos, e principalmente sem soar caricato, ousando em pontos possíveis para mostrar bem sua dramaticidade, mas sendo sutil para que tudo ficasse bem cadenciado, ou seja, se entrega de uma maneira bem dosada e incrível de ver. Sophia Lillis não se entregou tanto como sabemos que ela se entrega para alguns personagens, mas os olhares de sua Beth de orgulho, de envolvimento e de fixação pelo tio são tão bonitos de ver, que a trama sendo embasada no seu olhar para com o que ela enxerga de diferente chega a ser emocionante, e assim a jovem se mostrou bem encaixada, mas não tão usada como poderia para a trama, o que não atrapalhou tanto felizmente. Peter Macdissi já foi um pouco mais forçado nos atos de seu Wally, mas souberam controlar suas cenas para não ficarem tão expostas, e assim o ator que já fez vários trabalhos na TV com o diretor se mostrou um coringa que ele gosta de usar, mas poderia ter sido um tom abaixo para funcionar melhor. Também foi bacana os momentos do protagonista aos 16 anos, que bem interpretado por Cole Doman, acabou dando nuances de olhares emotivos e bem encaixados para que sentíssemos sua paixão e seu desespero por Sam, e assim o jovem caiu bem nos atos, mesmo sendo bem diferente do protagonista, e isso ter atrapalhado um pouco a conexão num primeiro momento. Quanto dos demais familiares, é claro que temos os atos fortes vividos por Stephen Root como Daddy Mac, principalmente na cena fatídica aonde descobre que o filho é gay, mas tivemos ainda boas cenas com Steve Zahn como o irmão coeso Mike que até poderiam ter desenvolvido um pouco mais, mas a história sairia do eixo principal, e claro as demais mulheres da trama que como sempre já sabem de tudo, e é bonito ver tanto Margo Martindale dando suas nuances como a mãe, e Jane McNeil como Neva, entre outros bem colocados.

Visualmente o longa também foi muito bem pensado, com um apartamento bem simbólico da época aonde moram os protagonistas, cheio de detalhes de festas clássicas com drogas e bebidas escondidas, se contrapondo bem a festividade de aniversário no interior com muita comida e brigas clássicas, além de um funeral bem detalhado e casual de cidade de interior, ou seja, um filme aonde a equipe de arte quis se contrapor bastante, mas sem perder essências, e principalmente entregando junto com a equipe de fotografia ambientes bem bonitos, com um sol romantizado no lago para os atos alegres, e outro bem escuro para os atos tristes, e assim o resultado final acaba chamando bastante a atenção.

Enfim, é um filme bem interessante, bonito, e que funciona bastante, que claro nem passou perto da perfeição, principalmente por deixar para os atos finais toda a explosão, mas que agrada bem, e que valem tanto para o público LGBTQ, quanto para quem gosta de um bom drama envolvente, e sendo assim, recomendo para todos. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, feliz por finalmente estar encontrando bons longas na Amazon, pois pensei seriamente em sair da plataforma, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.


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