Netflix - 99 Casas (99 Homes)

1/24/2021 01:37:00 AM |

Toda vez que vejo algum filme que fala um pouco mais sobre o modelo do sistema imobiliário nos EUA acabo ficando ainda mais surpreso com o tanto de hipotecas e despejos que ocorrem, e isso não é algo comum de ver, mas fazer o que? É o jeito que eles fazem por lá, e claro que muitos diretores e roteiristas acabam aproveitando isso para criar boas histórias baseadas em alguns acontecimentos, e o resultado são filmes intrigantes, fortes e geralmente muito bem interpretados e dirigidos, e com "99 Casas" não foi diferente, pois na época em que foi lançado o longa até angariou várias indicações em muitas premiações, e merecidamente pelas boas atuações de Michael Shannon e Andrew Garfield, além claro da história criada e desenvolvida por Ramin Bahrani, que praticamente fez uma versão de como se vender a alma para o diabo, ficar contente com isso, e claro se arrepender depois num momento mais complicado. Ou seja, com esse breve resumo que fiz da trama, o diretor que acabei indo conferir algo a mais após o ótimo longa de ontem também na Netflix, mostrou que gosta de ter protagonistas que acabamos ficando com pena e ódio na mesma medida, e aqui isso funciona demais, pois o dinheiro faz coisas com uma pessoa.

A sinopse nos conta que Dennis Nash perdeu a sua casa por conta da hipoteca e teve que se mudar para um pobre hotel com sua mãe e seu filho pequeno. Desesperado para reaver seu lar, ele aceita trabalhar com o imoral agente imobiliário Rick Carver, que foi a pessoa responsável pela sua perda. Logo, ele tem que ajudar Carver a expulsar outras pessoas e a desviar dinheiro do governo. Enquanto seus problemas financeiros desaparecem, a consciência de Nash passa a atormentá-lo.

Depois de dois filmes do mesmo diretor posso dizer que agora conheço o estilo de Ramin Bahrani, e posso dizer que o diretor gosta do estilo que faça o protagonista sofrer muito para que ficássemos com pena dele, para na sequência fazer com que ele vire algo que acabamos odiando suas atitudes, e isso é algo bem bacana de trabalhar, pois consegue gerar contrapontos e ainda flertar emoções no público, e aqui com toda certeza vemos momentos duríssimos quando o jovem começa a despejar pessoas que não tem rumo, não podem fazer nada, alguns mais desesperados, e outros que bate apenas uma tristeza gigante (a cena do velhinho é pra acabar com qualquer coração!), e olhando o contraponto vemos toda a frieza, toda a ganância e a explosão de poderes que o dinheiro faz com o âmbito do personagem de Rick, que o protagonista passa a seguir os passos, com festas e atitudes, ou seja, dois mundos opostos e fortes de ver, e claro se revoltar também. Ou seja, o diretor tem uma mão precisa tanto para dirigir, quanto para escrever/adaptar temas polêmicos, pois ambos os filmes ele também escreveu ou adaptou o texto, e assim sendo é de se torcer por mais longas dele nesse mesmo estilo.

Sobre as atuações é fácil ver o motivo que Michael Shannon acabou sendo indicado à várias premiações na época, pois seu Rick Carver é daqueles que nem pensam para jogar atacando, de tal maneira que quando você pensa que ele não pode fazer algo pior, ele irá fazer, e o ator entrega trejeitos imponentes, faz com minúcias cada ato precisamente forte, e não desaponta em cena alguma, ou seja, é mais um papel que o ator domina e faz com uma destreza incrível para marcar na carreira. Eu sei que Andrew Garfield tem muitos fãs, mas ele é um ator de poucas expressões, não fluindo muito nos olhares, porém aqui seu Dennis Nash até tem uma pegada bem colocada como pai, e trabalhou bem seus atos desesperados, seus sentimentos aparentes de tristeza a cada despejo, e até seu ato final foi bem marcado, mas seu ato reflexivo no meio do caminho soou meio falso, e assim poderia ser algo mais imponente para chamar mais atenção. Laura Dern é sempre precisa em seus papeis, e aqui mesmo aparecendo bem pouco como a mãe do protagonista, ela se impõe, faz cenas desesperadas e precisas, e emociona ao ser forte nos atos certeiros que o filme a usa, ou seja, poderia até ter aparecido mais para dar umas lições no filho. Quanto aos demais, o garotinho vivido por Noah Lomax exagerou na tristeza de seus atos, parecendo até deprimido demais, mas foi bem colocado na trama, e Tim Guinee trouxe uma força bem interessante nos atos de seu Frank Greene, seja nas cenas do tribunal, na primeira que é notificado por um "gato", e claro principalmente para sua explosão no final, ou seja, todos se doaram bem para os papeis secundários e o resultado foi algo muito bom de ver pelo que fizeram.

Visualmente o longa mostra muitas residências, de todos os tipos e tamanhos, com muitos detalhes cênicos que a equipe de arte precisou preparar para ficar retirando nos despejos, e claro grandiosas mansões aonde vive o antagonista da trama, e mostrando campos de golfe, prédios de grandes negociações, festas luxuosas conseguiram ainda contrapor um motel bagunçado aonde vivem vários despejados, uma casa nojenta que sentimos até o nojo que o protagonista demonstra ao entrar nela, e claro vários momentos de pequenos furtos, que mostraram ainda mais a sujeira nas negociações do antagonista, ou seja, a equipe de arte trabalhou bastante no filme.

Enfim, é daqueles longas que além de ser bem feito como um bom drama ficcional, também vale como um aprendizado sobre como é o sistema imobiliário nos EUA, afinal a trama é baseada em fatos reais, e sendo assim o filme traz uma certa realidade imponente, ou seja, recomendo muito o filme, pois mesmo sendo antigo, acredito que muitos acabaram pulando ele na época, então aproveite enquanto está em cartaz na Netflix, pois vai valer a pena. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.


0 comentários:

Postar um comentário

Obrigado por comentar em meu site... desde já agradeço por ler minhas críticas...