Christabel

2/21/2021 06:24:00 PM |

Quando vamos conferir uma obra baseada em um ou vários poemas sempre temos de estar preparados para abrir nossa mente para um floreio bem maior do que será mostrado na tela, pois as referências acabam sempre sendo simbólicas, com metáforas para tudo, com simbolismos clássicos e até maiores para cada momento, e o resultado acabará sendo cada vez maior de acordo com o que você conseguir pensar, e sendo assim, costumo dizer que nem todos acabam gostando por igual de filmes desse estilo, o que é bom, mas vai depender demais da forma que o diretor soube para criar tudo, e claro de que o espectador esteja disposto também a entrar no mesmo clima que foi pensado. Digo isso para começar meu texto do longa nacional que irá estrear na próxima quinta-feira (25/02) nos cinemas, "Christabel", pois é um filme bem intrigante, cheio de momentos alegóricos imponentes, e que cada ato vai se abrindo mais ainda para tudo o que possa estar acontecendo, e o mais engraçado é que não tinha lido um detalhe bem marcante no texto que a distribuidora mandou, e que foi até bacana de não ler, pois pude ver tudo com outros olhos, e após tudo entrar em mais detalhes, pois a obra é baseada em um poema vampírico do século XVIII, e esse detalhe faz toda a diferença no que acontece com os personagens, ou seja, é um filme duplo que pode permear desde a mente da protagonista influenciada pelos seus desejos, como se analisarmos pela ideia do poema, também podemos pensar no que a coadjuvante acaba influenciando a jovem a sentir. Ou seja, é um filme que certamente muitos terão diversas ideias, e o resultado está aí com o filme já levando alguns prêmios em festivais, e que quem estiver com a mente bem aberta acabará se envolvendo e gostando de tudo o que será mostrado na telona.

A sinopse nos conta que a filha única de um trabalhador rural, Christabel encontra Geraldine, uma mulher misteriosa, que diz ter sido atacada por homens e precisa de ajuda. Em sua inocência e pureza, Christabel acolhe Geraldine na casa de seu pai. A partir de então, as duas protagonistas se relacionam de maneira que Geraldine passa a ter grande influência sobre Christabel, desestabilizando suas convicções e promovendo ruptura das tradições, mas trazendo um sentimento de paixão e liberdade jamais vivenciados por ela.

Diria que o diretor Alex Levy-Heller em seu primeiro longa de ficção foi bem seguro do que desejava mostrar, trabalhando bem a vivência da moça do campo antes e depois de ser influenciada pela desconhecida, criando bem seus arquétipos para moldar tudo, como a dor no peito do pai, a mudança no clima, e tudo mais ao redor, brincando bem com todos os sentidos dos personagens, e claro com a libido da garota, mas o mais bacana é que ele não chega a abusar das situações, criando tudo de uma forma bem crível e gostosa de ver na tela, pois esse estilo de adaptações costumam ser bem lentas, e aqui ele não correu com a trama, mas também não fez cenas cansativas demoradas e abstratas demais, ou seja, ele foi coerente em manter o ritmo de um poema, mas também criou muitas situações e recortes para que seu filme ficasse ao menos dinâmico para um público maior curtir, e assim acabou acertando bem a mão ao ponto de entregar um longa coerente e interessante de se conferir.

Sobre as atuações, Milla Fernandez segurou bem a responsabilidade de um protagonismo, fazendo com que sua Christabel tivesse ao mesmo tempo o ar campestre mais rústico por ser criada apenas pelo pai, com uma vivência mais crua, e também conseguisse mostrar a sensualidade e a mudança de estilo no último ato, ao ponto que vemos a atriz se desenvolver junto da personagem, e que junto de olhares e sentidos bem aguçados acabou trabalhando de uma forma intensa e convincente em casa momento seu, acertando bastante. Lorena Castanheira já de cara trabalhou bem o ar misterioso de sua Geraldine, criando cenas com olhares meio que jogados para o nada, e outros já de ataque com muita força e destreza, ao ponto que de cara não se dava para confiar nela, mas vemos que sua influência foi boa, e a atriz soube dosar bem persuasão com sensualidade, agradando também com o que fez em cena. Julio Adrião trouxe bem a personalidade do homem do campo, trabalhando seu Leonel com uma desenvoltura rústica, mostrando os hábitos tradicionais de levantar cedo, tomar seu café, ir para o campo, cuidar da lida diária, ir para pesca, e claro tomar sua cachaça no fim do dia, e com diálogos e histórias bem contadas e desenvolvidas pelo ator, o resultado também acaba chamando atenção. Quanto aos demais, a maioria foram personagens de rápida passagem, mas vale destacar toda a eloquência de Nill Marcondes como um sanfoneiro no meio da estrada com toda sua prosa ritmada.

Visualmente o longa foi simples, com praticamente só uma locação em uma casa no campo, mas abrindo as possibilidades para um rio, uma mata bem fechada e todo o campo ao redor, tendo boas nuances com os poucos elementos cênicos, mas brincando bastante com uma fotografia realista escura iluminada apenas por velas e lampiões, dando bons contrastes para toda a tensão que o filme tinha em sua essência, além de uma cena mais sensual em uma cachoeira e num boteco, ou seja, a equipe de arte foi direta e bem colocada para que o filme funcionasse e agradasse na medida certa.

Enfim, é um filme com uma proposta bem trabalhada, que facilmente poderia ser cansativo e monótono pelo embasamento, mas que sem forçar exageros e adaptando tudo de uma forma mais dinâmica e com boas nuances o resultado acaba agradando quem estiver com a cabeça mais aberta para refletir cada momento da trama, e mesmo não sendo algo incrível recomendo o filme para todos que gostem de um longa de drama/fantasia nacional bem desenvolvido, e que confiram nos cinemas que estrearem ele, pois merece. Deixo aqui um agradecimento especial também para a Pipa Pictures por fazer uma cabine de imprensa mais ampla, enviando o filme com senha por um tempo ao invés das tradicionais cabines com horários ruins durante a semana. Bem é isso pessoal, fico por aqui agora, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.


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