Diria que mesmo sendo um diretor com ideais negros e ter uma boa pegada, talvez o filme nas mãos de um diretor mais imponente (talvez um Spike Lee), usando ainda o roteiro de Shaka King, o resultado seria bem mais forte, pois o jovem diretor até tem estilo, mas sentimos falta de algo colocando tudo pra explodir, desenvolvendo momentos com mais dinâmicas, e até fazendo algo do estilo que é o trailer, pois o filme ficou mais investigativo e morno na maior parte do tempo, e não que isso seja algo ruim, mas para um filme de incitação à violência, como é uma revolução, faltou atitude e explosão. Ou seja, o diretor foi certeiro na forma criativa da história, montou um tremendo roteiro, soube dar voz aos personagens para serem marcantes na trama, mas não conseguiu transformar o discurso em ação, e assim a cena mais imponente do filme acaba sendo uma reunião numa igreja, e alguns momentos de troca de tiros espalhadas sem os protagonistas principais, e assim nos envolvemos com o longa sem torcer efetivamente para nenhum dos lados, mas claro entrando bem no clima desesperador que o protagonista acaba sofrendo na sua última cena tendo de desenhar a planta do apartamento (e sabendo que isso foi o ponto que na vida real lhe deve ter pesado a consciência).
Agora sem dúvida alguma as atuações foram de um primor incrível, com Daniel Kaluuya se entregando em olhares fortes, fazendo discursos com uma eloquência acima da média, explodindo em trejeitos, e chamando a todo momento a responsabilidade para si, tanto que diria que o filme é mais de seu Fred Hampton do que de Bill, mas por ter mais cenas, e contar a história pela sua versão, a trama é outra, porém a cena do discurso na igreja é daqueles de você ver o ator e seguir ele no meio da revolução, pois ele chama demais. E já que estamos falando de Bill, Lakeith Stanfield deu uma personalidade divertida e bem colocada para seu O'Neal, de forma que vemos ele ao mesmo tempo descontraído em diversos atos, mas também sempre desesperado em não ser pego como um infiltrado, além de estar sempre nas mãos do agente do FBI, ou seja, o ator teve de trabalhar bem diversos tipos de expressões, e conseguiu segurar bem a trama, além de ser bem parecido com o personagem real, porém faltou para ele um pouco mais de determinação para chamar algumas cenas para si, mas nada que tenha atrapalhado o filme. E o agente do FBI Roy foi muito bem vivido por Jesse Plemons, com seu estilão mais duro, sem grandes expressões marcantes, porém sendo condizente com os momentos que o filme pedia, sendo sorrateiro e bem colocado, se impondo para o infiltrado, mas também levando bronca de seus chefes, ou seja, também ficou com expressões duplas. Dentre os demais, tivemos várias participações marcantes cada um da sua maneira, mas é claro que o destaque fica para as duas mulheres imponentes da trama Dominique Fishback com sua Deborah e Dominique Thorne com sua Judy, cada uma de sua maneira uma mais forte a outra mais doce, mas chamando bem suas cenas para si.
Visualmente a trama foi bem representada com carros da época, todo um figurino marcado pelas diferentes boinas que indicavam qual grupo cada revolucionário da cidade fazia parte, bons momentos de tensão nos tiroteios, e claro vários elementos cênicos para representar a garota poeta, o revolucionário desesperado com muitas armas, os diversos quarteis generais com cada estilo tendo suas funções de guerra mas também sociais como café da manhã para as crianças, clínicas médicas e tudo mais, ou seja, a equipe de arte procurou representar bem cada momento, e envolver com muitos figurantes/secundários bem caracterizados, ao ponto de termos a cena do discurso na igreja repleta de pessoas entoando os gritos do líder, na sede do outro grupo diversos guerrilheiros bem armados, e por aí vai chamando bem a atenção cênica.
Enfim, é um filme com um tremendo conteúdo, com ótimas atuações, e com uma história bem chamativa, que apenas ficou faltando um pouco mais de dinâmica de ação para realmente envolver a todos como uma boa trama revolucionária teria de ser, mas como é costumeiro de ver em filmes mais artísticos, que disputam muitos prêmios, já é praxe o ar dramático dominar e a calma prevalecer. Sendo assim, recomendo o filme mais pela história passada, para conhecermos um pouco mais do que foi o partido dos Panteras Negras nos EUA, mas não espere algo incrível, com muitas batalhas e brigas marcantes que já vimos em alguns documentários, pois aqui optaram por ir em outra linha. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.
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