Diria que o diretor e roteirista Michel Franco foi tão ousado na sua proposta que ficamos chocados a cada reviravolta entregue, e que de uma forma tão coerente e forte ficamos pensando a todo momento como isso pode acontecer na vida real, pois a imaginação de roteiristas sempre é algo que falamos que vai muito além, mas sempre há uma pontinha de pensamento real, e aqui o resultado choca, as cenas fortes impactam, e a cada ato ficamos com mais medo de tudo o que vai acontecer na sequência, e o pior, vemos tudo recaindo para atos ainda mais fortes que não tendem a melhorar para rumo algum, vemos aqueles que tentariam ajudar também sofrendo, e o resultado final então é de um nível que não tem como não se impressionar. Ou seja, podemos falar que o diretor é maluco, que não aparou as arestas para que seu filme fluísse em uma única história, mas de certa forma acabamos vendo tudo acontecendo e se impressionando tanto que nem reparamos nessas falhas, ao ponto que só ficamos indignados prontos para reclamar de tudo, ou então segurar o choro com o pensamento indo além, afinal volto a frisar que a sensação de acontecer isso é algo que pode ser realista demais, mas vamos torcer para nunca vermos isso (apesar que víamos longas de pandemias virais e não acreditávamos que um dia estaríamos no meio disso!).
Sobre as atuações, temos vários momentos importantes bem expressivos dos vários personagens, com destaque claro para a jovem Naian González Norvind com sua Marianne sofrendo de tudo um pouco, fazendo caras e bocas com diversos estilos de sentimentos, e acertando bastante com o desespero entregue. Fernando Cuautle trabalhou bem com seu Cristian, e junto com sua mãe vivida por Mónica Del Carmen trabalharam olhares apáticos nos momentos mais fortes, e ainda sendo acusados foram bem demais, mas poderiam ser mais imponentes, não apenas aceitando com caras tristes. Diego Boneta é um dos atores mexicanos que mais conhecemos no cinema, e aqui seu Daniel é daqueles que já de cara não vamos nos conectar já sabendo que vai cair em contraponto a qualquer momento, e dito e feito, ficamos bravos com sua cena no começo expulsando Rolando enquanto a irmã quer ajudar, e no final fazendo a denúncia errada em cima de suas conclusões, ou seja, o personagem é ridículo, mas o ator faz muito bem ele como sempre. Dentre os demais, a maioria ou estão atirando ou morrendo, aparecendo em poucas cenas, e tendo pouquíssimo destaque, com Eligio Meléndez fazendo um Rolando simples demais com um olhar triste e desesperado para salvar sua mulher, e Gustavo Sánchez Parra aparecendo como General Oribe em dois momentos marcantes junto de Enrique Singer com seu Victor, mas apenas dando conexões, não se expressando para chamar atenção.
Visualmente a produção é daquelas que temos de aplaudir a equipe de arte, pois conseguiram fazer uma destruição de primeira linha, com invasões, quebra-quebras imensos, tiros pra todos os lados, muitos elementos cênicos sendo arremessados e pichados, um ambiente lotado de sequestrados completamente sujo com diversos objetos de tortura, cenas de sexo explícito com nuances realistas, muitos figurinos de todos os tipos desde o de soldados, passando por rebelados, até chegarmos numa festa de casamento elegantíssima, muitos carros imponentes, cenas com diversos figurantes, uma metodologia de trabalho com pessoas em filas credenciadas, ou seja, tudo numa forma distópica tão realista que impressiona realmente como tudo foi feito, ou seja, uma arte para ser lembrada em premiações e na nossa memória.
Enfim é um filme que tem erros sim, mas tem tanta coisa imponente bem feita que não tem como não colocar ele lá em cima, e recomendar demais para que todos que defendem algumas coisas indefensáveis vejam, pois é daqueles filmes surreais de tão fortes de essência e de atitudes. Ou seja, veja, e depois tente não ficar lembrando de tudo a cada segundo. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais textos, de preferência com algo mais leve, então abraços e até lá.
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