sexta-feira, 2 de abril de 2021

Netflix - Fuja (Run)

O mais interessante em longas de mistério é tudo o que acabamos montando em nossas cabeças durante toda a exibição, e quando um filme consegue criar as diversas paranoias possíveis a trama fica melhor ainda, porém é necessário manter tudo num ponto claro para todos, e principalmente não entregar de cara o mistério. Iniciei o texto do filme da Netflix, "Fuja", falando dessa forma, pois mesmo sem ler qualquer sinopse ou ver o trailer já é notável logo nas primeiras cenas toda a desconfiança da garota pela mãe ao aparecer com um comprimido diferente, mas até aí tudo bem, o caso é que vai piorando a intensidade das coisas, e já no miolo vemos muita insanidade por parte de ambas, até chegar nos momentos finais bem fortes, e a cena de fechamento ainda mais maluca. Ou seja, é daqueles filmes que vemos muitos momentos tensos e muita loucura no decorrer da trama, mas certamente poderiam ter feito alguns momentos menos jogados no miolo para não forçar tanto a descoberta da garota pelos problemas principais, pois é algo que nem o mais burro dos psicopatas guardaria evidências de seu crime para alguém descobrir facilmente, mas tirando esse detalhe é um filme bem louco e interessante de conferir.

A sinopse nos diz que você nunca pode escapar do amor de uma mãe ... mas para Chloe, isso não é um conforto - é uma ameaça. Há algo antinatural, até mesmo sinistro, na relação entre Chloe e sua mãe, Diane. Diane criou sua filha em total isolamento, controlando cada movimento que ela fez desde o nascimento, e há segredos que Chloe está apenas começando a entender.

O diretor e roteirista Aneesh Chaganty surpreendeu a todos com seu primeiro filme "Buscando..." em 2018, e se lá o filme tinha toda uma essência desesperadora, um estilo rápido e dinâmico, aqui ele foi bem mais contido, com uma trama que merecia um algo a mais, e talvez até um pouco mais de tensão, pois ele vai revelando as camadas da trama rápido demais, e com pouquíssimo suspense já vamos sabendo de quase tudo, sem nenhuma grandiosa revelação, pois mesmo o que ficamos sabendo no porão não chega a ser surpreendente. Ou seja, ele fez um bom mistério, criou momentos intensos com a garota tentando fugir e tudo mais, mas certamente poderia ter criado um algo a mais para surpreender, ao ponto que vamos curtindo tudo sem ficarmos claustrofóbicos ou desesperados com as atitudes, mas sim apreensivos apenas pelas loucuras da mãe, e isso é algo ao mesmo tempo bom, mas que não explode no final, ainda mais sabendo do potencial do diretor.

Agora sem dúvida alguma as atuações surpreenderam demais, com Sarah Paulson completamente insana com sua Diane, fazendo coisas terríveis e fortíssimas para manter a garota completamente dependente dela, com uma desenvoltura sem igual, além de trejeitos fortes e bem marcados que acabaram chamando demais a atenção, e como o filme basicamente é só ela e a garota conseguiu forçar as cenas para si sem precisar chocar, o que mostra algo marcante e muito bom por parte da atriz. Kiera Allen também foi muito bem com sua Chloe, estreando e mostrando um serviço na medida certa, com olhares desesperados, falta de ar com os esforços sem medidas, e ainda sabendo conter bem suas pernas para manter o personagem, entregando dinâmicas bem simples, porém fortes e acertadas. Quanto aos demais, ninguém teve nada que desse para destacar, desde a farmacêutica ingênua, o carteiro também bem ingênuo, e até mesmo a enfermeira não foi muito além nos poucos momentos que apareceram, não conseguindo ganhar nenhum destaque na trama.

Visualmente a casa das personagens é bem montada, cheia de detalhes característicos de famílias que tem paralíticos em casa, com elevadores nas escadas, vários itens de monitoramento, muitos remédios, uma horta, o tradicional porão de filmes de mistério recheado de elementos cênicos prontos para serem usados, mas o destaque visual ficou mesmo para o momento de fuga da garota, aonde vemos algo bem insano tanto por parte dela, quanto pela ideia do roteiro, que ficou muito bem feito e interessante de ver.

Enfim, é um bom filme de mistério que consegue envolver bastante, e passa bem a ideia da proposta, mas que certamente poderia ter ido muito além sem precisar revelar tudo tão facilmente, pois aí sim o filme ficaria mais tenso, porém ainda é um filme que vale a recomendação para quem gosta do estilo, não sendo nada impressionante, mas que com boas atuações e dinâmicas entregam um resultado até que satisfatório.


2 comentários:

  1. A atriz Kiera Allen é cadeirante na vida real também.

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  2. Olha... não sabia dessa não Fausto... valeu aí... mas e a cena final, então enganaram bem!!!

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