Netflix - Radioactive

4/16/2021 01:06:00 AM |

Sempre costumo falar que para se fazer um filme biográfico tem de ter uma coragem maior do que tudo, pois em muitos casos a maioria do público já sabe tudo sobre o personagem e vai reclamar das ousadias do diretor, ou se não conhece nada acaba indo pelo que é passado na tela e o resultado então necessita ser ao menos fiel na maioria dos detalhes. E acredito que a maioria do público que verá o longa "Radioactive", que estreou hoje na Netflix embora seja uma produção da Amazon Prime, não conhece a história de Marie Curie, que se hoje temos raio-x e diversos tratamentos de radioterapia (que em alguns lugares recebe até o nome de Curieterapia em homenagem a ela) se deve a sua descoberta e do marido dos elementos químicos rádio e plutônio, e todo o desenvolvimento em cima desses elementos, claro que também devido à descoberta tivemos as bombas de Hiroshima, tivemos Chernobyl e tudo mais de ruim, mas tudo de bom tem seu lado negativo também, então a descoberta foi bem válida. Porém, induzindo a biografia da mulher em cima do que é passado no filme, também vimos suas explosões, seu egocentrismo, sua energia rebelde, e tudo mais, e com isso vemos uma mulher completamente fora de seu tempo, que surpreendeu, e foi muito além, e só não diria que o filme foi mais perfeito por pecar em excessos, fazendo alegorias fantasiosas demais com os elementos, jogando a trama para frente e para trás em momentos desnecessários, e outros detalhes mais, pois poderiam ter contado toda sua história, e ao final ter desenvolvido as problematizações, mas quiseram montar de uma forma um pouco bagunçada, e assim sendo o filme se perde um pouco, mas ainda assim é um tremendo filme, que emociona, arrepia e envolve, afinal dois prêmios Nobel são poucos os que tem, e com ousadia ainda por cima, são menos pessoas ainda.

A sinopse nos conta que o longa nos leva dos anos 1870 à era moderna, por uma viagem pelos legados duradouros de Marie Curie - seus relacionamentos apaixonados, descobertas científicas e as consequências que se seguiram para ela e para o mundo. Depois de conhecer o colega cientista Pierre Curie, os dois se casam e mudam a face da ciência para sempre com a descoberta da radioatividade. A genialidade das descobertas que mudaram o mundo dos Curie e o Prêmio Nobel que se seguiu impulsionam o dedicado casal ao centro das atenções internacionais.

Diria que a diretora Marjane Satrapi foi precisa na concepção da trama em cima do roteiro do sempre preciso Jack Thorne, que aqui usando como base o livro de Lauren Redniss, conseguiu encaixar algo tão impactante, mostrando que lá nos finais do século XIX já tínhamos mulheres imponentes, com personalidades fortes, e que fizeram muito pelo mundo, afinal como disse no começo do texto muita coisa ruim acabou usando da descoberta da protagonista, mas também muita coisa boa foi feita, e a diretora quis mostrar as duas faces, as ambições da mulher forte que foi Marie, e ainda ter tempo para colocar um romance, digamos científico, pois muito se brinca que na área de exatas (principalmente na de pesquisa) não existem romances, nem nada de muita interação entre corpos, mas aqui não economizaram no carisma e na química (corporal, além da pesquisada por ambos) para que tivéssemos uma boa história de família no segundo plano. Ou seja, a diretora soube ousar bastante, soube desenvolver bem o ritmo para a trama não cansar tanto, e principalmente teve a percepção de entregar um filme biográfico aberto de possibilidades e de conhecimentos, só pecando talvez na montagem, pois volto a frisar que seguiria totalmente a trama contando a história de Marie, Pierre, Paul, Irène e Ève, e depois no final como um epílogo colocaria as coisas do mundo moderno com a cena de fechamento da protagonista vendo os malefícios e benefícios que sua descoberta criou, pois no miolo acabou sendo algo jogado e que tira a atenção da bela história deles, mas isso é apenas um gosto pessoal.

Sobre as atuações é fato que esse ano Rosamund Pike já tinha nos surpreendido com outra brilhante atuação, mas agora com uma maquiagem forte, que lhe deu um tom mais velho, com uma personalidade forte, trejeitos marcantes, e uma dinâmica impecável ela acabou nos entregando uma Marie incrível, cheia de estilo, com diálogos na medida e fazendo todos se surpreenderem com uma mulher muito fora de sua época, e que marcou época, ou seja, a atriz detonou mais uma vez. Sempre falam que a barba é a maquiagem do homem, e Sam Riley está irreconhecível como Pierre Curie, tanto visualmente, quanto do estilo que entregou para seu personagem bem mais maduro do que na maioria dos filmes que faz, ao ponto de ficarmos nos perguntando quem é esse ator, e não por ter feito algo ruim, muito pelo contrário, pois ele está perfeito no papel, fez nuances incríveis e acertou muito em cada ato seu, além de como já falei no parágrafo de cima entregar uma química incrível com a protagonista do começo ao fim, mesmo que em alguns atos não tenham sido presenciais. Dentre os demais tivemos alguns bons destaques, mas sem grandes explosões, começando pelas cenas finais com a sempre chamativa Anya Taylor-Joy que anda aparecendo em todos os filmes possíveis, e aqui faz muito bem a filha da protagonista já na idade adulta, tivemos o diretor do departamento de química da faculdade que foi extremamente conflituoso com a protagonista muito bem vivido por Simon Russell, e ainda tivemos Aneurin Barnard também bem diferente de outros filmes fazendo o ajudante Paul que acaba tendo um relacionamento com a protagonista e causando toda uma discórdia imensa na sociedade parisiense.

Visualmente a trama retratou bem a época, entregou laboratórios bem interessantes, e mostrou que quem está disposto a ser pesquisador(a) precisa por bem a mão na massa, quebrando pedaços de minério, e fazendo tudo, ao ponto que vemos diversas peças símbolos de laboratórios, muita pesquisa, e claro toda a famosa radiação brilhante espalhada nos ambientes, além de mostrar os partos da protagonista longe de hospitais (afinal não gostava de entrar neles), vemos rapidamente no final a guerra rolando forte e as ambulâncias da época, e vemos claro nas montagens o lançamento da bomba de Hiroshima, a explosão de Chernobyl, alguns aparelhos enormes de radioterapia das antigas, tudo muito bem retratado, com figurinos de época na medida, e muita ambientação para retratar tudo de uma maneira bem funcional e bonita de ver.

Enfim, é um tremendo filmaço de época, que vale muito ser conferido tanto pela biografia da protagonista nos ser apresentada, quanto pela essência visual do filme em si, que como já disse teve um problema bem bagunçado de montagem, mas que dá para relevar e se envolver bastante com tudo, e assim sendo recomendo ele para todos. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais textos, então abraços e até logo mais.


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