Nomadland

4/25/2021 01:32:00 AM |

Se ao final de sua vida lhe perguntarem quais foram suas experiências de vida, o que conheceu, o que vivenciou e tudo mais, você terá muito o que falar? Com essa base vemos no filme "Nomadland" toda a essência das pessoas que já não tem mais o famoso sonho americano, que não tem dinheiro para viver uma vida grandiosa após os fechamentos de fábricas e até de cidades inteiras como é o caso da protagonista, e que vivem vagando com seus trailers e vans pelo país, conhecendo lugares e pessoas, arrumando empregos temporários, e vivendo como dá e como tiver que viver, mas sem grandes esperanças, nem alçando grandes rumos, apenas vivendo. E dessa forma o filme até nos entrega algo bonito de ver, com uma pegada interessante de estilo, sendo um daqueles road-movies cheios de essência e sabedorias, mas que de uma forma introspectiva e melancólica demais acaba não indo muito além, e quem não for um verdadeiro rato de festivais acabará se cansando na metade do filme, e olha que ele nem é tão longo. Ou seja, é daqueles filmes que só lembraremos dele como grande ganhador de premiações, mas que daqui a alguns anos se perguntarem se lembramos exatamente o que vimos nele não vamos lembrar de nada.

A sinopse nos conta que após o colapso econômico de uma colônia industrial na zona rural de Nevada (EUA), Fern (Frances McDormand) reúne suas coisas em uma van e parte rumo a uma viagem exploratória, fora da sociedade dominante, como uma nômade dos tempos modernos.

Diria que se antes ninguém nem tinha ouvido falar de Chloé Zhao, agora a diretora e roteirista está tão em moda que mesmo que o filme que está fazendo da Marvel seja exagerado até os críticos mais cult possíveis irão querer conferir, pois ela trabalhou aqui com muito sentimento envolvido, e mesmo que não tenha lido o livro em que a trama foi embasada, o resultado visual que ela conseguiu criar, o ambiente imponente bem trabalhado, toda a sensação de viagem bem colocada, e principalmente o envolvimento que ela conseguiu transparecer para com os atores e pessoas reais dentro de seu filme, e sendo assim ela foi tão segura que seu road-movie sai de um cerne simples e impacta tanto visualmente quanto emocionalmente, pois a história em si contada pode não refletir muito para algumas pessoas, mas certamente irá mostrar para alguns que fincar raízes nem sempre pode ser um bom plano, e sim viver a vida. Ou seja, a diretora está já com sua estante cheia de prêmios por algo que facilmente soou despretensioso, mas mostrou com uma certeza única o resultado de fluir uma ficção em meio a algo documental, não ficando no meio do caminho.

Sobre as atuações basicamente só temos duas de atores verdadeiramente de profissão, a de Frances McDormand com sua Fern e David Strathaim com seu Dave, e a protagonista se entrega de corpo e alma na viagem de sua personagem, vai morar na van, conhece diversas pessoas, faz suas devidas necessidades no balde, se jogando completamente na estrutura emocional que era pedido para o papel dando uma desenvoltura única de vida, e como produtora da trama ela não economizou no envolvimento que precisava, pois sabemos bem que a atriz tem um estilo mais forte e contundente, e aqui passou doçura e sentimentos suficientes para nos convencer de uma senhora sofrida após a morte do marido, do sumiço de sua cidade, e de que está disposta a viver o mundo afora. Já David teve seus atos mais puxados para algo meio romantizado, algo meio que imposto pela necessidade, e que fluiu bem nas conexões com a protagonista, mas nada que fosse chamativo demais, ao ponto que seu personagem serviu mais como uma tentativa de quebra de eixo, e não foi muito além. Agora quanto aos nômades reais introduzidos na trama, fica claro a entrega pessoal da maravilhosa senhorinha Linda May fazendo tudo e sempre chamando a protagonista aonde ela estivesse, da dureza e objetivos de Swankie, e claro do profeta nômade com ideias e histórias envolventes bem passadas para todos Bob Wells, além de todos os demais que passaram pela vida e pelos dias da protagonista nas gravações.

Visualmente o longa é fantástico, tanto que apostei em outro filme na categoria fotografia do Oscar e se pudesse mudaria meu voto, afinal a entrega que conseguiram aqui com ambientes cheios de nuance, escolhendo as melhores locações possíveis para representar os diversos estacionamentos de vans/trailers que a equipe encontrou, com várias paisagens lindas ao redor, além claro de tudo o que temos dentro da van da protagonista sendo extremamente representativo pela história que ela conta, com o momento aonde Dave quebra algo ali de cortar o coração, ou seja, a equipe pensou minuciosamente, e com uma pontada certeira na escolha de tudo, que acaba funcionando demais.

Enfim, é um filme bem bonito visualmente, com uma técnica precisa e momentos extremamente amplos que conseguem passar bem a mensagem que a trama tinha em seu conteúdo, porém como já disse é um filme claramente de festivais, daquele que quem for um amante de longas do estilo certamente irá desanimar na metade da trama, mas ainda assim vale a conferida, pois a essência é daquelas boas para refletir bastante. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.


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