quinta-feira, 1 de abril de 2021

TeleCine Play - Emma. (Emma.)

Quem já leu ou assistiu qualquer um dos livros de Jane Austen sabe bem o estilo e classe que são mostrados nas personificações de cada papel, de toda a sociedade, e claro do gracejo empregado nos diálogos contundentes expostos de forma a ambientar toda a história e claro deixar sempre no ar (ou não) algumas lições morais e sociais, e o mais engraçado é que os diretores/roteiristas gostam tanto de seu estilo que quase sempre temos novas adaptações ou reinvenções seja de "Orgulho e Preconceito" ou agora no caso de "Emma", e em cada um vemos uma certa revisitação da obra com elementos extremamente semelhantes (afinal é algo baseado em um livro e não dá para enfeitar tanto - embora digam que "As Patricinhas de Beverly Hills" também seja inspirado no mesmo livro ????), e algumas interações e novidades que acabam dando as nuances gostosas que gostamos de ver, e aqui nesse novo longa temos tanto o ar envolvente da época, com toda a graciosidade das relações, com a protagonista quase uma casamenteira nata fazendo pares com seus amigos, como também vemos o estilo dos ricos da época que parecem nem ter o que fazer, mas estão sempre ocupados com algo. Ou seja, é um filme gostoso de ver, com boas interpretações, mas principalmente chamando a atenção para o conceito da época com figurinos, cenários e tudo mais que supera até a história.

A sinopse nos conta que Emma Woodhouse é uma jovem rica e inteligente, que não tem pretensões de se casar tão cedo para ficar sempre perto do pai. Porém, isso não a impede de dar uma de 'casamenteira', tentando juntar casais que considere apropriados entre seus conhecidos, sem perceber os problemas causados com sua imaginação e teimosia.

Uma das principais diferenças dessa versão para as demais é o tom cômico mais presente em cima de todo o romance, pois na maioria das vezes os diretores optam por trazer as brigas sociais e os temas amorosos presentes nos livros de Jane para algo mais denso, e aqui a diretora estreante em longas Autumn de Wilde até foi bem ousada na adaptação da roteirista, também estreante, Eleanor Catton que quiseram brincar com as moralidades do ambiente, mas sempre deixando todas as cartas na mesa da protagonista, para que ela determinasse o rumo de cada casal, de cada conversa, dos seus gostos, e conforme vai interagindo vamos adentrando ao clima gostoso de toda a época, vamos nos permitindo com cada momento, e vendo todo o ensejo dela para arrumar os pares ideais, mesmo sem saber o que cada um está realmente pensando. Ou seja, muitos diriam que o que está sendo mostrado aqui é um filme de atores com personalidade, mas como são bem jovens os escolhidos aqui nem se expuseram tanto, ao ponto que até se entregam bem para os papeis, chamam a responsabilidade para si, mas não explodem como poderiam fazer.

Como já falei acima que é um filme aonde as atuações dominam e até sobressaem à direção, vemos uma Anya Taylor-Joy precisa nos diálogos, com dinâmicas diretas e sem titubeios, e principalmente fazendo de sua Emma uma mulher marcante na época, daquelas que estariam até bem à frente do seu tempo, afinal nos anos em que a trama se passa o sonho de toda mulher era estar casada o quanto antes, sair de sua casa e viver às custas de um lorde riquíssimo, e aqui ela já é bem rica, e ainda incorpora beleza e inteligência na personalidade, ou seja, o pacote completo com algumas ironias no estilo, ou seja, se impõe para cima de todos, e quem não gostar que suma, ou seja, a atriz foi muito bem no papel. Da mesma forma Johnny Flynn se entrega totalmente para seu Mr. Knightley, entregando diálogos bem pontuados e marcados, olhares fortes para com suas intenções em cada uma das mulheres, e com uma cordialidade tão imponente acaba chamando sempre os olhares para seu personagem, ou seja, caiu perfeito para o papel. Mia Goth trabalhou sua Harriet de uma maneira engraçada tão gostosa de ver, cheia de dúvidas amorosas, mas seguindo sempre as loucuras da protagonista, e a atriz conseguiu passar uma simplicidade para a jovem, criando um carisma até bobo de ver, mas certeiro no que precisava mostrar. Josh O'Connor acaba colocando seu Mr. Elton com um estilo estranho de ver, sendo o pastor da comunidade, mas também um galanteador que descobrimos depois já ser até casado, mas seus gracejos são estranhos demais de ver ao ponto que pensamos que ele até jogaria no outro time, o que é apenas um detalhe, afinal seus trejeitos são bem colocados e marcantes de ver. Ainda tivemos Bill Nighy como um ótimo e engraçado Mr. Woodhouse, Callum Turner trabalhando como o imponente sonho rico das mulheres com seu Frank Churcchill cheio de nuances, vemos Amber Anderson graciosa como a garota pobre que já conseguiu tudo e acaba sendo o destaque da comunidade com sua Jane Fairfax, mas entre os secundários vale um grande destaque mesmo para Miranda Hart com sua Miss Bates, que fala mais do que a boca pode, e acaba sofrendo um certo desdém da protagonista, mas suas cenas acabam sendo tristes ao mesmo tempo que chamativas.

Visualmente o longa é belíssimo, com casarões requintados, figurinos imponentes cheios de detalhes, e claro todos os elementos cênicos que um bom longa de época necessita, como carruagens, muitos castiçais iluminando as festas, danças irreverentes com músicas tocadas em instrumentos diferentes, consertos para poucas pessoas, e até missas e casamentos tão pequenos que todos ali se conhecem, ou seja, um filme cheio de pequenos detalhes que como sempre acaba chamando atenção das premiações técnicas, como é o caso aqui que foi indicado tanto a Melhor Maquiagem e Penteado (que aliás estão com tantos detalhes de cachos e tudo mais, que junto com os ornamentos de cabeça fazem tudo ficar ainda mais luxuoso), quanto a Melhor Figurino no Oscar 2021, o que é muito comum em longas do estilo, mas que certamente a briga será bem boa, afinal todos os candidatos dessas categorias estão incríveis.

Enfim, é um filme gostoso de acompanhar, que tem bons momentos bonitinhos, mas que não vai muito além, ao ponto que até serve como um bom passatempo para quem gosta de longas românticos mais clássicos sem muita melação, mas que certamente já adaptaram demais o livro, e está na hora de algo mais original, e que mesmo sendo um bom filme talvez fique na memória apenas como mais um filme de época baseado em algum livro de Jane Austen. Ou seja, recomendo o filme, pois ele não é ruim, mas não é nada inovador no gênero, mesmo que seja gracioso. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais textos, então abraços e até logo mais.

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