VOD - Meu Pai (The Father)

4/07/2021 01:09:00 AM |

Olha, temos um filme com tantas características e estilo que os votantes do Oscar gostam que se esse ano não tivessem já tantas cartas marcadas apostaria fácil em alguns ganhos para o filme "Meu Pai", pois mesmo sendo uma peça transportada para filme (aliás nem consigo imaginar toda essa montagem funcionando como uma peça!), nos é entregue tantos bons momentos, tanta confusão nas dinâmicas, que em diversos atos me vi perguntando se tentaram nos mostrar que o personagem está senil e confuso com tudo, ou se eu estava ficando maluco e confundindo tudo o que me era mostrado, pois as jogadas e nuances são tão repetitivas com envolvimentos diferentes acontecendo do mesmo ato, com coisas sumindo, personagens mudando, cabelos, roupas e tudo mais, que a mente vira uma grandiosa bagunça, e o resultado acaba sendo incrível e emocionante. Ou seja, é um filme bem simples, que mostra que a idade começa a nos pregar peças em nossa mente, e claro que não queremos ser cuidados, então a base da trama é o conflito mente, filha, idoso, e que com ótimas sacadas de locações, o resultado da montagem impressiona e funciona demais.

A sinopse nos conta que Anthony tem 81 anos de idade. Ele mora sozinho em seu apartamento em Londres, e recusa todos os cuidadores que sua filha, Anne, tenta impor a ele. Mas isso se torna uma necessidade maior quando ela resolve se mudar para Paris com um homem que conheceu há pouco, e não poderá estar com pai todo dia. Fatos estanhos começam a acontecer: um desconhecido diz que este é o seu apartamento. Anne se contradiz, e nada mais faz sentido na cabeça de Anthony. Estaria ele enlouquecendo, ou seria um plano de sua filha para o tirar de casa?

Diria facilmente que a estreia de Florian Zeller como diretor de filmes (afinal já faz muito sucesso como escritor e diretor de peças) foi algo muito bem preciso e imponente, pois trazendo sua peça de sucesso que já foi adaptada de forma completamente diferente em outros longas (inclusive em um filme que já vimos no Varilux - "A Viagem de Meu Pai" com uma formatação completamente diferente), o resultado que ele acabou desenvolvendo aqui junto com o editor Yorgos Lamprinos foi algo digno de envolver, de criar percepções e surpresas que a vida acaba nos entregando, e que cheio de nuances na montagem que nos deixam completamente confusos com o que está ocorrendo, quem o protagonista está enxergando nos lugares, o que ele está vendo que é real ou não, e com um texto forte, porém não duro acaba nos proporcionando uma vertigem completa em cima de como é viver a senilidade através do olhar do protagonista, e também daqueles ao seu redor. Como já disse no começo, até me surpreende ver o filme e saber que era uma peça, afinal chega a ser dificílimo pensar em todas essas quebras de olhares, das mudanças de personagens a todo momento, de locais e tudo mais, que como filme acabou funcionando demais, e o melhor, sem cansar, afinal peças dramáticas costumam ser amarradas demais, e aqui os 97 minutos passam voando.

Sobre as atuações é claro que temos de aplaudir com toda certeza todo o trabalho de Anthony Hopkins que sabiamente trouxe toda sua experiência interpretativa para o papel, e que estando inclusive com mais idade real do que o personagem também pode colocar algo de sua vida pessoal no papel, ou seja, ele nos dá olhares, nos entrega nuances e desenvolturas, e principalmente brinca com toda a estrutura narrativa que o filme necessitava, agradando demais em tudo, e que se não fosse um ano que já temos praticamente definido o ganhador do Oscar por uma premiação póstuma, diria que as chances dele seriam bem altas. Da mesma forma vemos uma Olivia Colman bem colocada, com o estilo clássico bem marcado que sempre entrega para seus papeis, e que fazendo sua Anne uma mulher preocupada com o pai, mas também precisando de ajuda para cuidar dele, se envolve em vários momentos, e brinca com o público durante todas as facetas da trama, passando trejeitos fortes e bem colocados. Quanto dos demais personagens, todos foram bem encaixados, brincaram bastante com nossa mente, e cada um de uma maneira simples, porém envolvente acabou chamando atenção e agradando no que faz, com destaques claro para Rufus Sewell como Paul, Imogen Poots como Laura, Mark Gatiss como Bill e Olivia Williams como Catherine.

Visualmente o filme é simples, afinal praticamente se passa todo dentro do apartamento do protagonista, ou da filha, ou num asilo, e que brincando com nossa mente mudando móveis, mudando piso, mudando roupas, mudando o próprio ambiente em si, a trama ousa bastante e acaba chamando atenção demais, afinal ficamos perdidos como o protagonista se aquilo estava ali ou não, se já viu aquele momento ou não, se tirou o relógio ou aonde pôs, e assim cada elemento cênico passa a valer ser bem visto, mostrando que a equipe de arte foi tão bem acertada que acabou também ganhando uma indicação ao Oscar.
 
Enfim, é um tremendo filme que é quase perfeito só não sendo melhor por ser talvez confuso demais em alguns atos, mas felizmente isso também é o ponto alto da trama, e dessa forma o longa está indicado a 6 prêmios no Oscar (Filme, Ator, Atriz Coadjuvante, Roteiro Adaptado, Edição e Design de Produção), e só por isso já é algo que vale a conferida, mas confirmo ainda mais que tudo é bem interessante e passa muito rápido, agradando bastante a todos. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.

 

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