Como o filme é baseado no primeiro livro de uma trilogia de Patrick Ness, aonde o título nacional foi "O Motivo" provindo de "The Knife of Never Let Go" no original, mesmo sem ler posso dizer que ficaram com receio da ideia não pegar bem e jogaram tudo num único filme, pois é notável que o diretor Doug Liman, que tem um estilo dinâmico na medida e costuma sempre entregar em seus filmes velocidade e direção encaixada na medida certa para não ficar quase nada aberto, quis colocar a essência e a vivência já tudo numa única tacada, afinal não fica claro como um motivo de tudo estar acontecendo, parecendo ser algo mais largado ou até mesmo um desespero para tudo acontecer. Ou seja, ficou aqueles filmes que todos parecem eufóricos por fazer, e que não chega aonde desejavam ir, e talvez diria até mais, que não compraram o projeto completo dos três livros com muito receio de não dar certo, e o próprio Patrick junto de Christopher Ford precisaram pensar em como dimensionar tudo para a tela numa única tacada, o que acabou não dando muito certo, ao menos no conceito desespero. E diria mais, mesmo sendo uma grandiosa produção, por todo o momento da pandemia não consigo acreditar que o filme dê muito dinheiro para continuarem e arrumarem num segundo filme para que o ápice ocorra num terceiro, então dependerá muito da sorte, e de produtores malucos com muita grana, afinal temos um ator que já está caro, pois será necessário uma continuação para resolver os problemas que ficaram aqui, já que volto a frisar que não é algo ruim, tem intenção, tem ação e tem diversão, mas a história acabou bagunçada demais.
Sobre as atuações, é divertidíssimo os monólogos da mente do ator Tom Holland com seu Todd, e se ao final do filme você ainda não souber o nome dele desiste, pois falou pelo menos umas 200x (aliás a galera que gosta de desafio de filmes fica a dica contar isso!), e o ator até se saiu bem nos atos, continua sua sina de papeis de jovens exagerados de trejeitos, emoções e ações, e sua desenvoltura acaba agradando dentro do que foi proposto, chamando a atenção para si, até mais do que para a garota que talvez seja principal no livro, e não desaponta, coisa que ele não tem errado desde quando explodiu em "O Impossível", e assim sendo foi bem colocado. Diria que faltou um pouco de atitude para Daisy Ridley com sua Viola, ao ponto que tirando nas cenas finais a jovem pareceu mais assustada com tudo do que disposta a se entregar para a personagem, fazendo com que o filme dependesse quase que exclusivamente de Tom, e suas dinâmicas foram com poucas interações e dinâmicas, o que acabou deixando ela sempre num tom abaixo, o que não é bacana de ver acontecer numa protagonista, e sendo assim faltou. Mads Mikkelsen é daqueles atores que sempre brilham em seus papeis, e com trejeitos fortes sabe passar muita personalidade para seus papeis, ao ponto que aqui seu Prefeito Prentiss é imponente, cheio de atitude, e muito marcante, daqueles que chegamos a ficar com raiva ao mesmo tempo que ficamos intrigados com tudo o que faz, de forma que sua cena final se tivesse algum tipo de flashback maior seria daquelas de muita surpresa, pois o ator é bom, e o papel também, o que deu uma química perfeita que não foi usada da melhor forma. Agora David Oyelowo estava completamente surtado com seu pregador Aaron, trabalhando trejeitos, sínteses, frases fortes e muita imponência para o personagem, ao ponto que chega a chamar mais atenção que muitos que certamente tinham mais importância na trama, e isso foi muito bom de ver, pois o ator é bom e conseguiu ir além. Agora quanto aos demais, a maioria ficou bem em segundo plano, de forma que o papel de Nick Jonas é quase um enfeite cênico que gastaram cachê caro à toa (talvez num segundo filme possa ser melhor usado, caso ocorra!) e Demián Bichir que sempre costuma chamar atenção aqui trouxe para seu Ben um pouco de mistério demais, não indo muito além com seu personagem, e talvez um prequel funcionaria melhor, pois não agradou como poderia.
Visualmente o longa traz bons momentos, com uma vila meio complexa, meio sinistra, vários figurinos pesados, mostrando que a colonização do planeta foi algo rústico demais, ao ponto que não vemos algo chamativo tanto que parece mais que a Terra ficou nas trevas do que algum grupo realmente foi para um novo planeta, os extraterrestres ficaram no básico, mas foi usado uma única vez, tivemos muitas cenas nas florestas, uma segunda vila mais interessante pela agropecuária clássica mais bem vivida também, porém clássica demais também, e uma grandiosa nave antiga destruída, que foi bem usada nos atos finais, mas o destaque bem usado foi para os efeitos do ruído (voz dos pensamentos) que sendo bem colorido meio quase como um projetor de áudio e vídeo, já que alguns pensamentos tomam formas, e o resultado geral acaba sendo bem interessante, porém o projeto acho que pediria algo mais imponente, talvez mais tecnológico e chamativo, afinal estamos falando de uma colônia em outro planeta, e isso em momento algum tirando as naves se parece com uma colonização de algo no futuro.
Enfim, é um filme com uma proposta muito interessante, que por incrível que pareça me aguçou a curiosidade em ler os livros, pois certamente o ruído deve ter sido muito bem transmitido para não ficar solto, algo que aqui conseguiram passar bem a ideia, mas que lendo deve ser algo meio estranho, e principalmente por não acreditar que façam as demais continuações, então até recomendo o filme como uma aventura bacana, mas que já aviso que muitos irão se decepcionar e ficar levemente perdidos com tudo o que acaba acontecendo. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.
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