domingo, 23 de maio de 2021

Netflix - Monstro (Monster)

Sempre digo que um bom filme de julgamento tem que surpreender o espectador ou pelo menos conter uma história envolvente, senão a chance do público não se conectar é tão alta que acabamos não ligando nem para o personagem nem para o julgamento em si. E desde o dia do lançamento do longa "Monstro" coloquei ele na minha lista da Netflix, porém não vinha a vontade máxima de dar o play nele por parecer exatamente isso, um filme de julgamento sem expressividade, pois nem a sinopse nos impacta, e hoje ao conferir vi exatamente isso, um longa intrigante e interessante pela estética em si, e pela "brincadeira" que o diretor ousou ao colocar um estudante de cinema transportando seu olhar cinematográfico para seu momento mais tenso ao ser preso por envolvimento em um crime, e a sacada em si é boa pelo estilo que o garoto conta o seu julgamento, porém talvez um lado inverso que pegasse realmente a fundo esse seu sentimento daria nuances muito melhores, e certamente chamaria muito mais atenção. Ou seja, está bem longe de ser um filme ruim, pois funciona bem dentro do que foi proposto, vemos um olhar diferente sobre o sistema em si, sobre um julgamento, sobre você escolher melhor com quem anda, e tudo mais, mas o formato narrado sob o olhar do rapaz não é o mais empolgante no julgamento em si, e isso faz com que a trama não explodisse como poderia.

O longa conta a história de Steve Harmon, um aluno de 17 anos que é acusado de homicídio doloso. O filme mostra a dramática trajetória desse inteligente e simpático estudante do Harlem, que frequenta uma escola de elite, em uma batalha judicial complexa que pode deixá-lo para o resto da vida na prisão.

Em seu primeiro longa metragem, o diretor Anthony Mandler soube trabalhar e mostrar para o público a essência do olhar cinematográfico que um diretor ou fotógrafo necessita, de enxergar a luz do ambiente, a motivação de determinada cena, e principalmente o que está vendo em determinado momento, e é exatamente a mesma coisa que um júri necessita fazer para analisar o momento exato ali que estão julgando, se a acusação é pertinente ao caso, se realmente tudo aquilo ocorreu, e claro em ambos os casos, se é verdade o que está sendo passado ou não, e com isso diria que ele ficou rodando muito em metalinguagens e esqueceu um pouco o julgamento, que certamente teria uma pegada maior e mais envolvente para o público, mas como costumo dizer, alguns diretores preferem agradar a crítica do que o público, e aqui é bem isso o que aconteceu. Ou seja, não é algo ruim que o diretor fez, mas faltou atitude para ele saber dividir o tempo de conversa da mente do protagonista com a conversa real do julgamento, que ficou bem em segundo plano, e isso fez com que seu filme ficasse um pouco lento e sem grandes atitudes explosivas, o que de certa forma cansa o público, e assim sendo o resultado não é ruim, mas também não é bom o suficiente.

Sobre as atuações diria que Kelvin Harrison Jr. tem personalidade e sabe dominar bem o ambiente, fazendo trejeitos bem marcados e agradando bastante no que faz, ao ponto que aqui seu Steve foi bem persuasivo de estilo, se manteve íntegro em todos os momentos, e principalmente mostrou o ato infantil do desespero, que é algo que poucas vezes vemos na tela, e assim demostrou atitude e agradou tanto nos atos quanto nos pensamentos. Jennifer Ehle trabalhou muito com sua advogada Maureen O'Brien, mostrando persuasão na medida certa, estilo para os atos próprios, e marcando muito suas cenas, que certamente poderia ter ido até além caso o diretor quisesse, pois a atriz mostrou potencial. Os pais do garoto vividos por Jennifer Hudson e Jeffrey Wright foram bem expressivos em alguns atos, mas como o filme não exigiu muito deles, acabaram ficando meio que enfeites caros de uma trama que precisaria deles, o que é uma pena, pois sabemos bem do que são capazes, e aqui não foram usados. O promotor vivido por Paul Ben-Victor foi bem presente nos atos, marcando os interrogatórios numa medida forte e precisa como a trama pedia, e conseguiu trazer as nuances tradicionais que gostamos de ver num julgamento, e assim sendo fez bem seu papel. O rapper ASAP Rocky, que aqui usou seu nome real para atuar Rakim Mayers trabalhou bem seu James King, no melhor estilo de rei da rua, dominando o ambiente e fazendo boas cenas nas ruas e praças, porém nos atos do julgamento só ficou com frases feitas para com o outro acusado, e mesmo nos atos junto de Jonh David Washington que tem tanto se destacado em tantos filmes não deu muita liga, o que é uma pena.

Visualmente o longa tem uma estética interessante por brincar com a fotografia, mostrar o jovem ousando nas técnicas de capturas dos ambientes, e claro mostrar as nuances de bairros periféricos, mas sem dúvida a trama se passou mais dentro de uma cadeia aonde vemos algumas conversas do garoto com a advogada e com alguns presos, na sala de visitas que mais parecia um ambiente de call-center, e claro no tribunal bem tradicional sem nenhuma grande diferenciação, mostrando que a equipe estava mais preocupada com a ótica cinematográfica do garoto do que com todo o restante.

Enfim, é um bom filme que poderia ter ido muito além em tudo, que não entrega nem um imponente julgamento, nem uma ambientação de estudo cinematográfico como tentou passar em vários atos, mas sim algo de reflexão de atitudes, de ser julgado por apenas um ato seu (o que realmente ocorre na vida!) e que acabou transformando o pensamento do jovem em ser um monstro ou não, e assim a trama poderia ter ido muito mais além nessa indagação poética do que em tudo o que rodou na tela. Sendo assim até recomendo o filme, mas mais como algo flutuante de ideias do que como um bom longa de julgamento que era o que estava esperando. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.


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