O diretor Joe Wright tem uma pegada bem própria em seus longas que geralmente pega todos de surpresa e consegue prender a atenção do público em um protagonista, não abrindo muitas margens para desenvolturas paralelas, nem muitas firulas que saiam do plano original do roteiro, e isso é algo muito bom, pois aqui facilmente se tivesse qualquer quebra da essência nos tiraria o foco e o resultado não seria tão expressivo como acaba sendo, pois os roteiros de Tracy Letts geralmente são muito seguros e encaixam aberturas clássicas no miolo, e aqui embasado no livro de A.J. Finn acabou entregando algo muito primoroso, sem soar violento em excesso, sem ficar brincando com nossa mente, mas principalmente ousando em segurar as dúvidas do público do começo ao fim: "ela está doida?", "quem matou?", "realmente teve morte?", e conforme vai nos entregando as peças do quebra-cabeça o resultado vai ficando ainda mais íngreme ao ponto de quase cairmos despencando a cada momento novo, o que é brilhante e agrada demais. E confesso que mudei de opinião pelo menos umas três vezes, e ainda errei no final, pois foi algo muito estratégico de ver, porém com algumas gafes de cortes falhos, principalmente nos atos finais, mas nada que desabonasse o ótimo resultado.
Sobre as atuações, Amy Adams está mais do que perfeita com sua Anna, completamente diferente de todos os seus papeis, com um visual mais neutro, uma personalidade forte e confusa ao mesmo tempo, e muito traquejo nas dinâmicas que a personagem precisava, ao ponto que cada ato seu é algo novo que descobrimos tanto na história quanto nas camadas da personagem, e consequentemente da atriz, fazendo com que suas nuances fossem bem marcadas e interessantes de conferir. Wyatt Russell entregou um David misterioso, porém que já preparado para ser usado, tanto que em diversos momentos ficamos pensando será que foi ele, mas ao mesmo tempo já pensamos ser impossível, e assim esse estilo duplo dele acaba funcionando bem, e talvez até se fosse um pouco mais usado agradaria ainda mais. Gary Oldman sempre costuma entregar bons personagens, mas aqui seu Alistair não teve tanta presença cênica como deveria, e mesmo sendo violentíssimo em diversas cenas ficamos com dúvidas demais do que faz se não é algum tipo de jogada do roteiro, e como o ator sabe segurar bem os trejeitos não entregou muita coisa, o que é sempre bom nesse estilo de filme. Fred Hechinger trouxe uma personalidade bem interessante para os momentos de seu Ethan, ao ponto que o garoto inicialmente traz um carisma bem próximo para a protagonista e para o público, para depois ir se moldando de formas bem diferentes e imponentes, ao ponto que seus trejeitos funcionaram muito bem em três moldes completamente diferentes, o que acaba chamando muita atenção. Quanto das duas Jane, diria que Julianne Moore acabou entregando uma com uma desenvoltura maior bem chamativa, cheia de personalidade e estilo, que chama muito mais atenção, enquanto Jennifer Jason Leigh foi mais séria e coesa de sentimentos, sem entregar muita coisa, nem trazer algum destaque para a personagem, o que acaba falhando até um pouco no estilo que o filme precisava dela, mas não atrapalhou ao menos. Já os demais, tivemos alguns bons atos com o detetive vivido por Brian Tyree Henry com seus olhares extremamente cheios de dúvida, alguns poucos momentos com Anthony Mackie com seu Ed, que pensamos por estar em evidência no cartaz teria uma grandiosa participação, mas é quase um enfeite embora seu ato seja bem marcante, e o próprio roteirista Tracy Letts apareceu ainda algumas vezes como o psicólogo da protagonista que é psicóloga, ou seja, dando conselhos bem marcados, mas sem muita expressividade cênica.
Visualmente o longa tem uma casa gigantesca de vários andares, mas que é pouco aproveitada, ao ponto que vemos a protagonista descer as escadarias apenas algumas vezes, damos uma rápida passada pelo porão aonde vive David, praticamente vendo apenas sua cama e as cartas no chão, e ficamos muito no andar aonde está o quarto da protagonista, sua cozinha aonde bebe com Jane, e uma sala de TV aonde ela vê seus filmes, e claro enxerga completamente a casa dos vizinhos, ou melhor alguns cômodos, e tendo como objetos cênicos bem utilizados temos sua câmera, seu celular, seu notebook, e claro muitos remédios, com tudo tendo suas necessidades e finalidades para cada ato do longa, e além disso saímos para o teto do prédio e para uma viagem de carro aonde tudo é mais explicado, finalizando a cena do carro com uma maravilhosa cena muito bem fotografada pela equipe de arte e de fotografia da sala da casa com um objeto incrível mostrado com neve, sendo daquelas cenas que merecem ser até emolduradas, ou seja, o trabalho cênico funciona bem, e claro acaba sendo extremamente importante para todo o contexto do filme.
Enfim, é daqueles longas que surpreendem bastante, que tem boas reviravoltas, e mesmo não sendo uma trama gigantesca que daqui a alguns anos vamos lembrar como algo memorável, o resultado é bem bom e impressiona, agradando tanto quem gosta de um bom drama, quanto quem gosta de um bom suspense, valendo a recomendação para todos, e outra grande surpresa que não consegui enxergar é o motivo dele ter sido tão queimado pelos críticos em geral, fazendo com que sua nota nos principais sites de notas de filmes fosse tão baixa, pois para esse Coelho que vos digita sempre o longa beira bem próximo da perfeição, valendo muito a recomendação de conferida. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.
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