Amazon Prime Video - Verdade e Justiça (Tõde Ja Õigus) (Truth and Justice)

6/01/2021 01:08:00 AM |

Os dramas artísticos é um dos estilos de filmes que dificilmente vemos nos streamings mais populares (digo isso pois existe o Mubi que quem ama arte pode morar lá e não conseguir ver tudo), e que serve bem para que o público entre no clima de premiações, entenda bem como o visual e o roteiro passam a compor todo o envolvimento cênico, e claro conhecer um pouco mais de algo sem ser impulsivo e direcionado como a maioria dos dramas mais comerciais costumam ser. Dito isso, entrou em cartaz na Amazon Prime Video o longa da Estônia, "Verdade e Justiça", que foi o indicado pelo país ao Oscar do ano passado, e embora não tenha chegado entre os cinco que concorreram a trama foi bem valorizada por onde passou e entrega bons momentos de um jovem que compra uma casa no meio de um pântano assim que se casa e trabalha lá seu sonho de ser próspero na vida com a família, mesmo estando ao lado do caos de um vizinho bêbado e completamente maluco que vive em briga com ele por tudo o que se possa pensar. Não diria que seja um filme completamente original, mas é tão intenso, cheio de ótimas nuances e com uma fotografia lindíssima de diversos anos, afinal o filme se passa durante uns 18 anos mais ou menos, e que também se alonga quase da mesma forma durante toda a exibição, que acabamos entrando no clima e entendendo um pouco mais sobre a diferença entre contar uma verdade e fazer justiça, além de claro as diversas situações que seguir a justiça bíblica nem sempre funciona bem, e assim sendo vale a conferida mesmo sendo uma trama bem lenta.

O longa nos situa na Estônia em 1870, aonde o jovem e determinado Andres, juntamente com sua esposa Krõõt, chegam a uma fazenda comprada com um empréstimo para estabelecer sua nova vida. Desolada e negligenciada entre os pântanos, a propriedade deve ser transformada em um lugar que abrigará a família. Tudo o que eles precisam fazer é romper a resistência da terra árida, fazer seu vizinho cooperar e criar um herdeiro - um filho para herdar o trabalho da vida de seu pai. Quando a natureza se recusa a se curvar, o vizinho acaba sendo um rival grosseiro e Krõõt continua dando à luz filhas, Andres luta para encontrar o caminho certo. Em sua busca desesperada pela verdade e pela justiça - da corte, da taberna e da Bíblia, ele sacrifica sua família, seus amigos e, eventualmente, a si mesmo. O belo sonho de prosperar e fazer sua fazenda produzir dá lugar a uma obsessão, resultando em nada do que Andres queria e tudo o que temia.

Como não lembro de ter visto sequer qualquer filme originário da Estônia, nem vou tentar comparar ele com qualquer outro, mas posso dizer que o diretor e roteirista Tanel Toom entregou uma obra icônica em seu primeiro filme, trabalhando algo que facilmente seria visto numa série de uns cinco capítulos pelo menos virar algo bem trabalhado em 150 minutos, com dinâmicas concisas, uma boa pesquisa de materiais e formas de agricultura na época, e principalmente mostrando bem a cultura religiosa da época encabeçada pelo teor de justiça que os homens determinavam, seja ela de alguma forma e claro trabalhando aquilo que uma verdade pode ser vista como justa para um e injusta para outro. Ou seja, é um longa cheio de discussões bem travadas que o diretor soube conduzir com primor, porém caiu bastante nas armadilhas do primeiro longa, de querer mostrar coisas demais e acabar arrastando sua trama, pois volto a frisar que os 150 minutos parecem muito mais tempo, todo o processo de envelhecimento dos personagens soa rústico demais, e principalmente alguns motes da trama acabam ficando jogados, o que não tira em momento algum qualquer mérito do resultado final ficar muito bem feito, mas que certamente um diretor mais experiente poderia com esse mesmo tempo entregar algo muito mais dinâmico e que envolveria muito mais sem estragar a história, e assim sendo talvez o diretor aprenda um pouco mais de concisão e no seu próximo filme melhore ainda mais.

Sobre as atuações, diria que Priit Loog se doou bastante para fazer de seu Andres alguém simples,  inicialmente de bom coração porém que vai se distorcendo com o tempo, afinal dificilmente alguém melhora com pauladas, e o ator foi seguro de suas cenas, soube dimensionar cada momento seu com um bom envolvimento, e principalmente trabalhou cada conexão com olhares e trejeitos muito bem colocados, que mesmo falando uma língua que nunca sequer ouvimos sentimos suas pontuações e o resultado funciona, além claro de muita maquiagem para que seu semblante fosse mudando durante os anos com crescimento de barba, rugas e tudo mais. Priit Vöigemast entregou um Pearu tão inconveniente, bêbado, cheio de cenas nervosas e inflamadas para com o protagonista que chegamos a ficar com raiva dele em diversos momentos, e como todo bom antagonista que se preze o ator acertou em cheio com tudo o que fez, trabalhando tons de voz, olhares jogados perfeitos, e também junto de uma maquiagem perfeita o resultado seu durante os diversos anos acaba preciso e perfeito de ver.  Maiken Pius trouxe para sua Krõõt uma serenidade e doçura tão bem colocada, cheia de graciosidade na interpretação de uma senhora das terras que mais se envolvia como uma camponesa bem trabalhada, cheia de vida e disposta a dar uma prole imensa para o marido, mas que sempre vindo meninas não acaba agradando tanto ele, ou seja, a atriz foi muito bem em tudo e seus olhares foram muito bem trabalhados. Ester Kuntu trabalhou sua Mari de uma forma tão simples, porém passando tantos sentimentos que em determinados momentos a jovem chega até a sobressair os protagonistas, e por incrível que pareça isso não é ruim, pois ao assumir o papel de esposa, a jovem moça muda completamente de semblante e estilo, e assim seu resultado passa a agradar até mais. Já Simeoni Sundja trouxe um Juss meio bobo, meio desesperado demais, e que com algumas nuances até chega a nos convencer de uma certa ingenuidade na sua personalidade, e o ator foi muito bem na sua desenvoltura, mas poderia ser menos jogado, que aí agradaria mais. Agora quanto das crianças e dos jovens que se tornaram, cada um deu a devida proporção para cada ato funcionar bem, não sendo algo gigantesco de chamativo, mas também não falhando em nada, destacando claro no final Maria Koff com sua Liisi pelo enfrentamento do pai. 

Visualmente o longa tem tantos momentos bonitos fotografados que mesmo sendo um ambiente rústico, antigo, com casebres e mansões de madeira e palha, ferramentas bem artesanais antigas, facas, facões, rastelos, foices e tudo bem de época conseguindo marcar o ambiente, camas e objetos cênicos bem rudimentares para dar a nuance da família, mas claro a Bíblia imensa no canto do quarto, sendo lida a todo momento, a igreja em destaque a todo momento seja pelos cultos ou pelo tribunal paroquial, todas as passagens das estações destacando as cheias do outono e o inverno rigoroso, aonde o pântano negro se impõe, mas sempre com o verde do campo marcando o ambiente todo, ou seja, a equipe de arte teve muito trabalho, e pelo que foi passado precisaram gravar em diversos locais do país para conseguir todas as cenas, ou seja, um filme que aparenta ser bem simples acabou sendo muito mais elaborado e chama bastante atenção.

Enfim, volto a frisar que não é um longa que todos irão gostar, muito pelo contrário a maioria irá desistir com o estilo mais lento entregue, mas é um filme tão envolvente de época, com uma trama tão bem feita pelos julgamentos da mente do protagonista entre pensar na verdade e na justiça que dá o nome para o longa, que se faz valer o tempo conferindo, mesmo que seja num formato serial com pausas, pois dá para fazer dessa forma, então fica a dica para a conferida. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos.


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