Abe

7/28/2021 01:33:00 AM |

Discutir religião é algo que não é recomendado para ninguém, pois em 100% dos casos a chance é de arrumar confusão com quem você estiver discutindo, e se isso ocorre dentro da própria família então a chance de um conflito quase que armado é maior ainda, então para piorar a cabeça de um garotinho colocaram ainda no filme "Abe" o lado materno de judeus e o lado paterno de muçulmanos, o que não tem qualquer coisa que possa se comungar, e assim a mente do jovem só é aliviada por sua fascinação pela cozinha, e que pensaram pelo menos em tentar misturar tudo já que o jovem conhece um chef brasileiro que faz misturas de sabores dando muito certo no paladar. Ou seja, é daqueles filmes com uma temática bem intensa que poderia ser completamente conflitiva, que ousa trabalhar reflexões, mas que não vai muito além por segurar a leveza no tema, e assim vemos algo até gostoso de acompanhar, com uma simplicidade de estilo, mas com diálogos contundentes aonde o visual alimentício tenta brincar com a temática de postagens na internet, e que acaba envolvendo bem quem quiser conhecer um pouco mais das comidas dos países envolvidos, e talvez pensar em refletir um pouco sobre as famosas guerras religiosas, mas não espere ir muito além, pois não será aqui que isso irá acontecer, afinal a abertura não era bem a ideia da temática que o filme propôs.

A sinopse nos conta que Abe é um garoto de 12 anos que é metade judeu e metade muçulmano. Nunca teve um jantar em família que não acabasse em briga. Enquanto explora o Brooklyn para descobrir novos alimentos, ele conhece Chico, um chef brasileiro que acredita que “misturar sabores pode unir as pessoas”. Um lado da família o chama de “Avraham” (em hebraico), o outro lado de “Ibrahim” (em árabe), enquanto seus pais o chamam de “Abraham” (em inglês). Mas, ele prefere Abe.

O mais bacana de todo o longa é que o diretor Fernando Grostein Andrade quis usar a comida para tentar unir dois povos, ou melhor os dois lados conturbados de uma família, brincando com a ideia de misturar sabores dos dois países, e nessa época que estamos tão acostumados com os realities gastronômicos, com as famosas feiras culturais que rolavam antes de toda a pandemia, e claro no mundo atual da internet aonde as pessoas postam suas receitas, suas loucuras e misturas alimentícias, o resultado até tinha tudo para dar muito certo, pois é algo que as pessoas gostam de ver, é uma proposta funcional bem encaixada, e principalmente tem um estilo próprio para funcionar, afinal qual o famoso povo paz e amor que aceitaria uma apaziguação completa senão um chef brasileiro no meio de tudo, e aqui ele trabalhou sua história juntando um pouco de tudo e sendo bem criativo nesse quesito, então por quais motivos o filme não explodiu mais do que o que foi entregue? E a resposta é fácil: a simplicidade disso cair na mente de uma criança aonde a briga dos pais, dos avós e de toda a família acaba virando um conflito em sua essência, e nesse contexto se o diretor quisesse ir além teria de causar danos maiores, o que não estava colocado na proposta inicial. Ou seja, temos um tema pronto para criar discussões tão explosivas, mas que a leveza juvenil foi a melhor opção do diretor para não ir tão além, o que não é ruim, mas que não é ótimo.

Sobre as atuações, o jovem Noah Schnapp soube segurar bem sua personalidade, desenvolveu uma boa interação com todos os demais personagens, e mostrou-se bem interessado pela arte de cozinhar, ao ponto que seu Abe funciona bem, tem as indagações clássicas de qualquer jovem no meio de uma guerra familiar, e com um carisma bem marcado consegue dominar um filme que certamente tem seu tom, e isso é bom demais, pois mostra que ele é muito mais do que apenas um personagem de uma série na qual ficou famoso. Sabemos bem o potencial que Seu Jorge tem, e ele sempre entrega personagens tão densos e bem colocados que acabamos nos envolvendo demais, ao ponto que aqui seu Chico é bem marcado pelos elos culturais que só uma comida pode desenvolver, mas também ensina várias qualidades para que o jovem crie uma personalidade estilosa, aprenda a vivenciar que fazer comida não é apenas cozinhar, e assim vemos seu olhar bem marcado, passando um carisma para o personagem, e sendo alguém que até poderia ter uma imponência maior, mas caiu bem dentro do que o papel pedia. Quanto dos familiares, todos fazem bem seus papeis conflituosos, com destaque claro para a mãe vivida por Dagmara Dominczyk com olhares bem maternais e sempre apaziguando a situação para não ter grandes explosões, o avô vivido Mark Margolis puxando para o lado judeu, a avó do outro lado vivida por Salem Murphy colocando em prática todos os elos muçulmanos, e até mesmo o pai com um lado mais ateísta foi bem colocado por Arian Moayed. 

No conceito visual, a equipe de arte brincou muito com as famosas postagens de comidas, praticamente criando um aplicativo na tela, com muita interação dos amigos do jovem, com imagens de comidas bonitas e outras nem tanto, depois caímos para as cenas na casa do jovem, os vários momentos das duas religiões com os almoços/jantares clássicos das festividades como o ramadã, o bar-mitzva, e tendo depois uma ação de graças bem maluca por parte do garotinho, e no meio disso tudo suas cenas na cozinha do chef brasileiro, ou seja, muita comida boa sendo feita, muitos detalhes cênicos e um resultado bem interessante de ser visto na tela, mostrando que a equipe estudou bem cada detalhe para ter uma produção bem marcante.

Enfim, é um filme bem bacana de ser conferido, que passa longe de ser algo marcante (até poderia por toda discussão que tem na sua base), mas que agrada bastante e vale como um bom entretenimento que dá para ser recomendado para todos conferirem quando o longa estrear nos cinemas logo mais no dia 05 de agosto. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais textos, então abraços e até logo mais.


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